Terrorismo em Brasília: o dia em que bolsonaristas criminosos depredaram Planalto, Congresso e STF
Terrorismo em Brasília: o dia em que bolsonaristas criminosos depredaram Planalto, Congresso e STF
Sedes dos 3 poderes foram destruídas em um ataque sem precedentes na história do Brasil. Lula decretou intervenção na segurança do DF, e Alexandre de Moraes afastou governador por 90 dias.
Por g1 08/01/2023 18h12 - Atualizado há 6 horas
Bolsonaristas radicais, golpistas e criminosos invadiram e depredaram neste domingo (8) o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto, sede da Presidência da República, em Brasília.
O ataque às sedes dos 3 Poderes e à democracia é sem precedentes na história do Brasil. Os terroristas quebraram vidraças e móveis, vandalizaram obras de arte e objetos históricos, invadiram gabinetes de autoridades, rasgaram documentos e roubaram armas.
O prejuízo ao patrimônio público, de todos os brasileiros, ainda não foi calculado. Até o fim da noite deste domingo, pelo menos 300 pessoas haviam sido presas.
O presidente Lula, que estava em SP no momento dos atentados, voltou a Brasília à noite e decretou intervenção federal para assumir a segurança pública do Distrito Federal, onde está Brasília.
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, afastou do cargo por 90 dias o governador do DF, Ibaneis Rocha.
O movimento golpista que ocorre há semanas em Brasília, com um acampamento em frente ao QG do Exército, foi reforçado por mais de cem ônibus que chegaram de todo o país com cerca de 4 mil pessoas neste fim de semana, com ações combinadas por meio das redes sociais. Mesmo assim, o governo do DF não adotou medidas suficientes para proteger os prédios.
Por volta de 14h, os golpistas deixaram o acampamento e iniciaram uma caminhada de 8 km em direção ao Congresso, escoltados pela Polícia Militar.
Na Esplanada dos Ministérios, onde está o Congresso, a PM mantinha poucos homens. A barreira policial foi facilmente vencida pelos terroristas, que subiram a rampa do Congresso. Os poucos PMs tentaram conter a turba só com spray de pimenta e tiveram que recuar. A Polícia Legislativa também não conseguiu evitar a invasão.
Dentro do Congresso, salões da Câmara e do Senado foram depredados. O plenário do Senado foi invadido e vandalizado.
Na sequência, STF e Palácio do Planalto, que ficam na Praça dos Três Poderes, também foram invadidos.
No STF, os terroristas destruíram tudo o que viram no plenário, onde os ministros fazem os julgamentos. A porta de um armário do ministro Alexandre de Moraes foi arrancada. Até comida eles roubaram. Os terroristas retiraram poltronas, molharam e rasgaram documentos. Todos os vidros da fachada do prédio foram quebrados.
No Planalto, gabinetes foram invadidos e vandalizados, incluindo o da primeira-dama, Janja da Silva. Móveis, TVs, computadores e itens de decoração foram quebrados. A tela “As Mulatas”, do pintor Di Cavalcanti, foi esfaqueada. O gabinete de Lula tem uma porta com blindagem reforçada e não foi invadido. Vândalos destruíram a galeria de fotos dos ex-presidentes. Armas e munições de seguranças da presidência foram roubadas.
O que a
polícia fez?
Já com os
prédios tomados pelos terroristas, a PM aumentou o efetivo e passou a usar
bombas e gás lacrimogêneo, com apoio da cavalaria e da Tropa de Choque. Alguns
policiais foram agredidos.
Embora a
ação terrorista tenha sido convocada publicamente ao longo da semana em redes
bolsonaristas, inclusive com promessas de transporte grátis e alimentação, as
autoridades do DF não agiram preventivamente. A PM do DF foi criticada por se
omitir. Vídeos mostram policiais conversando com bolsonaristas e filmando a
invasão do Congresso.
Um sargento
da PM de Goiás foi identificado participando dos atos de vandalismo.
O secretário
de Segurança Pública do DF, o bolsonarista Anderson Torres, nem estava em
Brasília. Ele viajou aos EUA, onde também está Bolsonaro, de quem Torres foi
ministro da Justiça até o fim do governo. Após os ataques, ele foi demitido
pelo governador do DF. O governo federal pediu a sua prisão ao STF.
No sábado (7), o chefe da polícia do Senado pediu reforço ao governo do DF porque já havia recebido a informação de que bolsonaristas preparavam a invasão. Ele disse que foi ignorado.
No domingo,
após os ataques, Lula assinou um decreto de intervenção para que o governo
federal assuma a segurança pública do DF até o fim do mês. Já na madrugada
desta segunda (9), o ministro Alexandre de Moraes afastou o governador Ibaneis
Rocha do cargo por 90 dias.
Houve
presos?
O balanço
mais recente, do fim da noite deste domingo, é de pelo menos 300 presos em
flagrante. Fotos e vídeos permitem identificar vários dos terroristas (veja
imagens aqui). Alguns transmitiram ao vivo, nas redes sociais, os atos de
vandalismo que cometiam. Eles poderão responder por diversos crimes, entre eles
golpe de estado, que prevê até 12 anos de prisão.
A invasão
será investigada? O que acontece agora?
Lula disse
que todas os terroristas serão encontrados e punidos. O ministro da Justiça,
Flávio Dino, afirmou que a prioridade é identificar quem financiou os atos.
O
procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao Ministério Público
Federal a abertura de uma investigação. A presidente do Supremo Tribunal
Federal (STF), ministra Rosa Weber, afirmou que os terroristas serão julgados e
punidos de maneira exemplar. A Polícia Federal instalou um gabinete de crise
para identificar os terroristas.
Haverá
reforço na segurança?
Lula
decretou intervenção federal na segurança do DF e nomeou Ricardo Garcia
Cappelli como responsável. Ele é secretário-executivo do Ministério da Justiça
e braço direito de Flávio Dino.
A
intervenção vai até o dia 31. Com ela, os órgãos de segurança pública do
Distrito Federal ficam sob responsabilidade de Cappelli, subordinado a Lula.
Quais os
possíveis crimes cometidos?
Dano ao
patrimônio público da União – crime qualificado. Pena: detenção, de seis meses
a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
Crimes
contra o patrimônio cultural – destruir, inutilizar ou deteriorar bem especialmente
protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial. Pena: reclusão, de
um a três anos, e multa.
Associação
criminosa – associarem-se três ou mais pessoas para o fim específico de cometer
crimes. Pena: reclusão, de um a três anos (pena aumenta se a associação é
armada).
Abolição
violenta do Estado Democrático de Direito – tentar, com emprego de violência ou
grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo
o exercício dos poderes constitucionais. Pena: reclusão, de 4a 8 anos, além da
pena correspondente à violência.
Golpe de
estado – Tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo
legitimamente constituído. Pena: reclusão, de 4 a 12 anos, além da pena
correspondente à violência.
O que
disseram as autoridades?
Líderes
mundiais repudiaram o terrorismo bolsonarista. O presidente dos EUA, Joe Biden,
disse que a situação é “ultrajante”. O presidente da França, Emmanuel
Macron, prestou apoio a Lula. Veja o que disseram as autoridades.
Aqui, os
ataques foram condenados pelos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da
Câmara, Arthur Lira, por ministros do STF, parlamentares e até por governadores
aliados de Bolsonaro.
“Manifestações
perdem a legitimidade e a razão a partir do momento em que há violência,
depredação ou cerceamento de direitos. Não admitiremos isso em SP”, disse
Tarcísio de Freitas, governador de SP e ex-ministro de Bolsonaro.
Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido de Bolsonaro, chamou o ataque de “vergonha”.