Estudo em sete estados aponta que uma mulher é vítima de violência a cada quatro horas
Estudo em sete estados aponta que uma mulher é vítima de violência a cada quatro horas
Rede de Observatórios da Segurança registrou 2.423 casos de violência contra a mulher na Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo em 2022. Foram 495 feminicídios.
Por Priscilla Moraes, GloboNews 06/03/2023 06h52 - Atualizado há 2 horas
Um estudo
com dados de sete estados brasileiros aponta que, em 2022, uma mulher foi
vítima de violência a cada quatro horas: foram 2.423 casos — e 495 deles
terminaram em morte.
O
levantamento consta do boletim “Elas Vivem: dados que não se calam”, da Rede de
Observatórios da Segurança, lançado nesta segunda-feira (6). A terceira edição
do documento compilou os registros na Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco,
Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo.
O maior
número de eventos foi registrado em São Paulo (898) — um a cada dez horas. São
casos como o da jovem sequestrada que teve o rosto tatuado com o nome do
ex-companheiro ou o da procuradora-geral espancada no local de trabalho.
A Bahia é o estado com maior taxa de crescimento em relação ao último boletim, com uma variação de 58%, com ao menos um caso por dia, além de ser o primeiro em feminicídios do Nordeste, com 91 registros.
“Existe a
necessidade de que todas as pessoas tenham um conhecimento social sobre essas
questões para que a gente possa transformar esses números, que aumentam a cada
ano”, explica a pesquisadora baiana Larissa Neves.
Aumento no
RJ
O Rio de
Janeiro também apresentou uma alta significativa de 45% em um ano com casos de
repercussão nacional, como o do estupro de uma parturiente cometido por um
anestesista ou do chefe de investigações da delegacia da mulher acusado de
agredir a ex-companheira.
O Rio chegou
a registrar ao menos um caso de violência contra a mulher a cada 17 horas, e
casos de violência sexual praticamente dobraram, passando de 39 para 75.
Pernambuco é
o segundo estado do Nordeste em registros de violência contra a mulher (225),
com pelo menos um caso a cada dois dias. O estado também passou a liderar os
números de transfeminicídios — posição ocupada pelo Ceará nos últimos dois
anos.
Segundo a
pesquisadora da Rede em Pernambuco, Dália Celeste, essa condição se dá pela
negligência do governo. “Houve um silenciamento e a omissão do governo em
relação à criação de políticas públicas mesmo após a onda de ataques
transfóbicos em 2021. Corpos trans e travestis passam por um processo de
desumanização e são vistos como corpos que não deveriam existir, o que alimenta
os crimes de ódio”, afirma.
As mulheres
cearenses vivenciaram um aumento de casos de violência sexual. O número quase
dobrou, passando de 17 para 31 casos.
O Piauí
registrou 48 feminicídios. No estado, os equipamentos de acolhimento se
encontram na capital e deixam as mulheres de outras localidades desamparadas.
O Maranhão é
o segundo estado do Nordeste em agressões e tentativas de feminicídio.
Violência
em casa
A maior
parte dos registros nos sete estados tem como autor da violência companheiros e
ex-companheiros das vítimas. São eles os responsáveis por 75% dos casos de
feminicídio. As principais motivações são brigas e términos de relacionamento.
“Para além
da responsabilidade individual, precisamos refletir sobre a responsabilidade do
estado em tolerar que tantos feminicídios aconteçam. Já foram assinados
tratados e já avançamos em algumas direções, mas ainda se permite a impunidade.
E isso se dá ao não saber como esse crime acontece, não se fazer o devido
registro, não qualificar juridicamente da maneira correta”, explica Edna
Jatobá, coordenadora do observatório da segurança de Pernambuco.
Metodologia
Os dados do
boletim são produzidos a partir de um monitoramento diário do que circula nos
meios de comunicação e nas redes sociais sobre violência e segurança. As
informações coletadas alimentam um banco de dados que posteriormente é revisado
e consolidado.
A violência
contra mulher é o terceiro indicador de violência mais registrado pela Rede de
Observatórios, atrás apenas de eventos com armas de fogo e ações policiais —
que tradicionalmente ocupam o noticiário policial.