Indiciamento põe Trump no foco das atenções e no papel de vítima
Indiciamento põe Trump no foco das atenções e no papel de vítima
Ex-presidente tentará tirar proveito da acusação em que é réu para tentar recuperar a Casa Branca, acirrando as divisões, em mais um estressante teste para a democracia dos EUA.
31/03/2023 09h33 - Atualizado há 39 segundos
Alçado ao
posto de réu num processo de suborno a uma estrela pornô, Donald Trump começou
a tirar proveito de sua nova condição, inédita entre os 45 presidentes
americanos que ocuparam a Casa Branca.
Seu
indiciamento por um grande júri de Manhattan joga-o no papel em que ele se
sente mais à vontade – o de vítima de uma perseguição política, ao mesmo tempo
em que solta seu grito de guerra aos oponentes.
Restam
poucas dúvidas de que a rendição de Trump, que é negociada para a próxima
terça-feira, e os desdobramentos desta acusação vão abalar a campanha eleitoral
e aprofundar ainda mais as divisões partidárias nos EUA. O indiciamento deverá
trazer imagens fortes e incômodas aos eleitores: a exposição do ex-presidente
algemado e fichado.
Se, por um
lado, a acusação criminal – ainda mantida em sigilo – é uma evidência de que
ninguém está acima da lei; por outro, representa mais um estressante teste para
a democracia americana. Lança dúvidas sobre a composição de um júri imparcial e
um julgamento que deve ocorrer durante as primárias republicanas.
Favorito até
agora entre os pré-candidatos de seu partido, ele tentará beneficiar-se do
processo, uma vez que o julgamento não o impedirá de prosseguir com a campanha.
Ao contrário, a expectativa dos republicanos é que isso estimule as doações,
como vem ocorrendo desde que ele antecipou, há duas semanas, que seria preso.
No extenso
comunicado divulgado logo após a decisão do grande júri, Trump dá a deixa para
que seus partidários se manifestem contra o que chama de a interferência
eleitoral “no nível mais alto da história”. Responsabiliza o presidente Joe
Biden, o promotor Alvin Bragg e “os democratas da esquerda radical” por ter
virado réu.
“Os
democratas mentiram, trapacearam e roubaram em sua obsessão de ‘pegar Trump’,
mas agora eles fizeram o impensável – indiciar uma pessoa completamente
inocente em um ato de flagrante interferência eleitoral”, disse.
O jogo
belicoso é arriscado, mesmo para Trump, que incitou uma insurreição no
Capitólio, levando mil pessoas à prisão, com algumas condenações por sedição. A
tese da vitimização, sem dúvida, cola em sua base eleitoral e ganha apoio no
Partido Republicano, que vem se rendendo ao ex-presidente, corroborando os
argumentos de perseguição política.
O mais
irônico é que agora o ex-presidente provará de seu próprio veneno. Em 2016,
elegeu-se com o slogan “Prendam ela”, reverberado furiosamente pelos
simpatizantes, que queriam ver a concorrente Hillary Clinton na prisão. Chegou
a vez de os democratas ecoarem o grito de guerra contra ele.