Arcabouço fiscal: governo divulga proposta para substituir teto de gastos; veja principais pontos
Arcabouço fiscal: governo divulga proposta para substituir teto de gastos; veja principais pontos
Governo Lula quer garantir gastos prioritários e investir mais sem gerar descontrole nas contas. Texto que vai ao Congresso tem 'piso' para investimento e permite elevar gasto de acordo com o crescimento da economia.
Por Alexandro Martello, Jéssica Sant'Ana e Ana Paula Castro, g1 e TV Globo — Brasília 30/03/2023 10h59 Atualizado há 17 horas
Os ministros da Fazenda, Fernando
Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet, divulgaram nesta quinta-feira (30) a
proposta para o chamado “arcabouço fiscal”.
Se aprovada pela Congresso, a nova
regra para as contas públicas vai substituir o teto de gastos em vigor desde
2017 como novo parâmetro para limitar os gastos do governo.
O objetivo, com isso, é garantir um
equilíbrio entre a arrecadação e os gastos, para que as contas públicas voltem a
ficar “no azul”. A meta é zerar o balanço já em 2024 e registrar
superávit a partir de 2025.
O governo Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) depende dessa nova proposta para:
– fazer gastos considerados
prioritários em saúde, educação e segurança;
– ampliar investimentos públicos e
impulsionar o crescimento econômico;
e, ao mesmo tempo, garantir o controle
da dívida pública e da inflação.
O arcabouço fiscal pode ser comparado
a uma caixa de ferramentas com a qual a equipe econômica trabalhará para evitar
uma alta maior na dívida pública.
Despesa atrelada
à receita
A proposta prevê que, a cada ano, o
crescimento máximo dos gastos públicos seja de 70% do crescimento da receita
primária (ou seja, da arrecadação do governo com impostos e transferências).
O dado será considerado entre julho de
um ano e junho do ano seguinte, para permitir a inclusão das metas na proposta
de orçamento.
Ou seja: se a arrecadação do governo
crescer R$ 100 bilhões nesse intervalo, o governo federal poderá ampliar os
gastos em até R$ 70 bilhões no ano seguinte.
Limite de
crescimento real da despesa
Há, no entanto, um segundo limite.
Mesmo que a arrecadação aumente muito, o governo terá que respeitar um
intervalo fixo para o crescimento real das despesas.
Essa banda vai variar entre 0,6% e
2,5% de crescimento real (ou seja, desconsiderada a inflação do período), a
depender do cumprimento das outras metas econômicas previstas no arcabouço.
Ou seja:
caso o Brasil tenha dificuldade de compor as receitas (cumprir metas e arrecadar impostos), o crescimento real dos gastos terá de ser, pelo menos, de 0,6%;
já em bons anos, em que o Brasil
conseguir aumentar muito a arrecadação, o crescimento real dos gastos deve ser
de até 2,5%.
Esse intervalo também funciona como um
teto de gastos, mas é mais flexível que as regras atualmente em vigor. Hoje, os
gastos são corrigidos apenas pela inflação, ou seja, com crescimento real de
0%.
A regra proposta tem caráter
anticíclico.
De um lado, o crescimento real mínimo
de 0,6% estimula a economia no cenário ruim, quando a atividade econômica
estiver lenta.
Do outro, o crescimento real máximo de
2,5% segura os gastos públicos nos momentos de fartura, evitando o descontrole
das despesas.
Intervalo para a
meta do resultado primário
O arcabouço fiscal altera também o
formato da meta de resultado primário das contas públicas.
Esse resultado primário é o saldo
entre a arrecadação e as despesas do governo, sem considerar o pagamento de
juros da dívida. É desejável que o país tenha superávit, ou seja, poupe parte
do dinheiro arrecadado para reduzir a dívida ou construir reservas.
Hoje, a meta de resultado primário é
um valor exato. O arcabouço propõe um intervalo, ou “banda”, de
resultados possíveis.
O modelo é similar ao da meta de
inflação que já existe hoje – que trabalha com um valor central e um intervalo
de tolerância, para mais ou para menos.
Para 2024, por exemplo, a meta do
governo é igualar receita e despesa. Em termos matemáticos, um resultado
primário de 0% do PIB.
Pelo sistema proposto, a meta será
considerada “cumprida” se ficar entre superávit de 0,25% e déficit de
0,25%.
O projeto também estabelece o que
acontece se essas metas forem descumpridas, para mais ou para menos:
se o resultado primário superar o
limite máximo da meta, o excedente arrecadado pelo governo e não gasto poderá
ser direcionado para ampliar investimentos;
se o resultado primário ficar abaixo
do limite mínimo da meta, há uma limitação para o ano seguinte: as despesas
poderão crescer só 50% do crescimento da receita (e não mais os 70% originais).
Fundeb e piso da
enfermagem fora do teto
Segundo o ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, o novo arcabouço fiscal não limita despesas como o fundo da
educação básica (Fundeb) e o piso da enfermagem já aprovado pelo Congresso.
De acordo com Haddad, a proposta
mantém regras constitucionais, já existentes, sobre os investimentos mínimos em
educação e saúde e a garantia de custeio das duas áreas.
Meta de resultado
primário
Caso o novo arcabouço seja aprovado e implementado, o governo prevê:
– zerar o déficit público da União no
próximo ano;
– superávit de 0,5% do PIB em 2025;
– superávit de 1% do PIB em 2026.
Segundo o governo, com o novo arcabouço, será possível estabilizar a dívida pública da União em 2026, último ano do mandato do presidente Lula, a no máximo em 77,3% Produto Interno Bruto (PIB).
A relação entre dívida pública e PIB,
no entanto, não é uma meta macroeconômica formal do governo. A área econômica
trata a melhoria desse indicador como um objetivo a ser perseguido, de forma
mais ampla.
Parte dos especialistas defendia que o
novo arcabouço tivesse uma meta concreta para a dívida. A equipe econômica
avalia, no entanto, que esse indicador inclui variáveis que não são controladas
pelo governo.
Na avaliação de equipe de Haddad, o
ajuste é importante, mas gradual. A previsão é que, neste ano, o governo feche
com déficit na casa dos R$ 100 bilhões.
Para 2024, a proposta prevê que o déficit seja zerado, com superávit no terceiro ano do mandato de Lula.