Junta militar de Mianmar confirma autoria de ataque aéreo que matou mais de 50 pessoas

Junta militar de Mianmar confirma autoria de ataque aéreo que matou mais de 50 pessoas

Mianmar é palco de um conflito violento entre a junta militar no poder e seus opositores desde o golpe de Estado de 1º de fevereiro de 2021.





Por RFI 12/04/2023 06h38 - Atualizado há 2 horas

A junta militar de Mianmar confirmou nesta quarta-feira (12) ter realizado um ataque aéreo contra uma aldeia no centro do país, onde dezenas de pessoas morreram, segundo a imprensa local.

O porta-voz da junta militar, Zaw Min Tun, informou na noite desta terça-feira (11) que uma cerimônia estava ocorrendo na aldeia de Pazi Gyi para abrir um escritório das Forças de Defesa do Povo (PDF, na sigla em inglês), os grupos armados antigolpe.

“Houve uma cerimônia de abertura do escritório [na terça-feira] pela manhã, por volta das 8h00 na aldeia de Pazi Gyi. Atacamos o local”, disse o porta-voz da junta.

Os serviços birmaneses da BBC, The Irrawaddy e Radio Free Asia relataram entre 50 e 100 mortos e dezenas de feridos neste ataque na região de Sagaing, um dos principais centros de resistência contra o Exército no país. 

Campo na cidade de Kan Balu, na região de Sagaing em Mianmar após bombardeio por parte do governo local — Foto: Kyunhla Activists Group via AP

O porta-voz militar afirmou que alguns dos mortos podem ser combatentes antigolpe fardados, mas admitiu que “pode haver algumas pessoas em trajes civis”.

“De acordo com as informações que temos enviadas do local, pessoas morreram não apenas devido ao nosso ataque. Havia algumas minas colocadas pelo PDF na área”, disse Zaw Min Tun, acrescentando que a ação militar atingiu uma área de armazenamento de pólvora e minas.

Mianmar é palco de um conflito violento entre a junta militar no poder e seus opositores desde o golpe de Estado de 1º de fevereiro de 2021, que derrubou a governante civil Aung San Suu Kyi.

 

Condenação internacional

O secretário-geral da ONU, António Guterres, fala durante evento da organização na Somália em 12 de abril de 2023 — Foto: Feisal Omar/REUTERS

Mais cedo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, “condenou firmemente o ataque das Forças Armadas de Mianmar”, de acordo com um comunicado de seu porta-voz, Stéphane Dujarric.

O secretário-geral da ONU “reiterou seu apelo ao Exército para encerrar a campanha de violência contra a população birmanesa”, acrescentou o porta-voz.

Os Estados Unidos também se declararam “profundamente preocupados” com o ataque, que “evidencia ainda mais o desprezo do regime pela vida humana e sua responsabilidade pela terrível crise política e humanitária em Mianmar”, disse o porta-voz da diplomacia americana, Vedant Patel.

Campo na cidade de Kan Balu, na região de Sagaing em Mianmar após bombardeio por parte do governo local — Foto: Kyunhla Activists Group via AP

Os vídeos supostamente filmados no local do ataque – cuja autenticidade não foi possível comprovar – mostram corpos em um terreno devastado, no qual restava apenas a estrutura de um prédio destruído pela explosão.

No momento do ataque, dezenas de pessoas estavam no local para a inauguração de uma unidade das forças de defesa locais.

O Governo de Unidade Nacional de Mianmar, um executivo paralelo formado por ex-parlamentares do partido da líder civil destituída Aung San Suu Kyi, condenou o que chamou de “ato de ódio”.

O Exército birmanês, que classifica os combatentes antigolpe como terroristas, enfrentou várias acusações de devastação de aldeias, assassinatos em massa e ataques aéreos contra civis.

Mais de 30 pessoas abrigadas em um mosteiro foram mortas em março. Além disso, no ano passado, um ataque aéreo durante um show em uma zona rebelde matou 50 pessoas e feriu mais de 70, disseram grupos de oposição.

Em uma parada militar no mês passado, o líder da junta, Min Aung Hlaing, pediu uma repressão contínua contra seus oponentes. Nesse mesmo mês, o Exército prorrogou por seis meses o estado de emergência no país. 

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