PF e CGU investigam 20 faculdades por suposta fraude para receber recursos do Fies
PF e CGU investigam 20 faculdades por suposta fraude para receber recursos do Fies
Justiça autorizou bloqueio de R$ 21 milhões; lista de instituições não foi divulgada. Esquema com servidores e advogados inseria dados falsos em sistema e liberava venda de títulos do Fies, diz PF.
Por Isabela Camargo, Camila Bomfim e Mateus Rodrigues, TV Globo e g1 — Brasília 12/04/2023 07h34 - Atualizado há 23 minutos
A Polícia
Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram nesta quarta-feira
(12) uma operação contra supostas fraudes praticadas por criminosos usando
títulos públicos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Segundo a
corporação, 77 policiais cumprem 20 mandados de busca e apreensão no Distrito
Federal e em sete estados: Bahia, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio de
Janeiro, São Paulo e Sergipe.
Há, ainda,
autorização judicial para o bloqueio de quase R$ 21,3 milhões – valor estimado
dos prejuízos causados à União com as fraudes.
Ao todo, 20
faculdades supostamente beneficiadas pelas fraudes são alvo da operação; a
lista não foi divulgada. A CGU diz que os valores já apurados pagariam integralmente
a formação superior de pelo menos 50 alunos em cursos de cinco anos.
Os envolvidos no esquema, de acordo com a Polícia Federal, inseriam informações falsas no sistema usado pela União para gerenciar as instituições de ensino vinculadas ao Fies.
Essas
informações falsas levavam o governo federal a recomprar títulos públicos do
Fies que estavam com as faculdades e entidades mantenedoras – injetando
dinheiro em instituições que, na verdade, não cumpriam os requisitos mínimos
para essa operação (entenda abaixo).
Há, ainda,
casos em que os suspeitos cadastraram financiamentos estudantis fora do prazo
regimental, beneficiando estudantes de modo individual.
Segundo as
investigações, a fraude envolvia:
– servidores
do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – órgão vinculado ao
Ministério da Educação que distribui e executa a maior parte do orçamento
federal para o setor;
– funcionários
terceirizados, também contratados pelo FNDE;
– advogados
e escritórios de advocacia especializados em “direito educacional”
que representavam instituições de ensino.
– O g1 e a
TV Globo pediram posicionamento ao Ministério da Educação e ao FNDE e aguardam
retorno.
O
esquema, segundo a PF
As fraudes,
segundo as investigações da Polícia Federal, atingem um sistema complexo de
transferências financeiras entre o governo e as universidades.
Ao aderir ao
Fies, as faculdades deixam de receber as mensalidades diretamente do aluno – e
são pagas, pela União, em forma de títulos da dívida pública.
O estudante
faz o curso e só começa a pagar o financiamento bancário após a formatura.
Esses
títulos não podem ser comercializados, mas as faculdades podem usar para:
– quitar
dívidas tributárias junto ao governo;
– pagar
tributos administrados pela Receita, caso não tenham dívidas anteriores;
– vender os
papéis de volta ao governo – apenas se não houver dívidas tributárias que
possam ser compensadas.
Essa última opção, em que as faculdades trocam os títulos por “dinheiro vivo”, exige a apresentação de uma Certidão Negativa de Débitos ou de uma decisão judicial (no caso das instituições inadimplentes).
A fraude,
segundo a PF, envolvia justamente a inserção de certidões ou decisões judiciais
forjadas no sistema do FNDE.
Com isso,
essas faculdades, que em tese só poderiam usar os títulos do Fies para quitar
impostos, foram “autorizadas” ilegalmente a vender os títulos de
volta ao governo.
Ainda de
acordo com a PF, de um lado, os servidores e funcionários terceirizados do FNDE
recebiam vantagens indevidas para cadastrar liminares falsas que, na prática,
liberavam as faculdades para vender títulos do Fies.
Esse grupo
também criava financiamentos individuais por conta própria, fora dos prazos dos
editais, para beneficiar estudantes.
A PF cita
que uma empregada terceirizada chegou a adulterar os dados do próprio
financiamento estudantil e do companheiro.
De outro
lado, advogados das faculdades beneficiadas atuavam junto a esses servidores
para conseguir os processos de recompra dos títulos públicos.