Passista da Grande Rio se interna para retirar miomas no útero e volta para casa com braço amputado
Passista da Grande Rio se interna para retirar miomas no útero e volta para casa com braço amputado
Médicos dizem que se Alessandra dos Santos Silva não amputasse o braço, iria morrer de necrose. Secretaria Estadual de Saúde e Polícia Civil investigam.
Por Karol Caparelli e Mariana Queiroz, Bom Dia Rio 24/04/2023 06h07 - Atualizado há 2 horas
Uma passista
da Acadêmicos do Grande Rio se internou para retirar miomas no útero e teve
alta dias depois com parte do braço esquerdo amputado.
“Só lembro
mesmo disso, de acordar em outro hospital sem o braço”, disse Alessandra dos
Santos Silva, de 35 anos, que também é trancista.
A Secretaria
Estadual de Saúde e a Polícia Civil do RJ investigam o caso.
Cronologia
do caso
Agosto de
2022: Alessandra sente dores e tem sangramentos. Exames apontam miomas no útero
e recomendam a retirada imediata. Ela começa a se preparar.
30 de
janeiro: Alessandra recebe uma ligação do Hospital da Mulher Heloneida Studart,
em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, convocando-a para a cirurgia.
3 de
fevereiro: Alessandra se interna e é operada pela manhã. À noite, médicos
detectam uma hemorragia.
4 de
fevereiro: o Hospital da Mulher avisa à família que terá de fazer em Alessandra
uma histerectomia total — a retirada completa do útero.
5 de
fevereiro: parentes foram visitar Alessandra, mas ela estava intubada e,
segundo eles, com as pontas dos dedos esquerdo escurecidas. Braços e pernas
estavam enfaixados. Segundo a mãe, falaram que a paciente “estava com frio”.
6 de
fevereiro: a família é avisada de que Alessandra — ainda intubada — terá que
ser transferida para o Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro
(Iecac), em Botafogo. Segundo parentes, o braço da passista estava praticamente
preto. Um médico lhes diz que iria drenar o braço, “que já estava começando a
necrosar”.
10 de
fevereiro: o Iecac informa que a drenagem não deu certo e que “ou era a vida de
Alessandra, ou era o braço”, porque a necrose iria se alastrar. A família
autoriza a amputação. A cirurgia é feita, mas o estado da mulher se agrava, com
o rim e o fígado quase parando e com risco de uma infecção generalizada.
“Ela subiu
com os médicos apavorados para salvá-la, ou não ia sair dali viva. Chamaram a
gente no canto: ‘Queríamos que vocês olhassem a mão dela. Ou tirava, ou ela ia
morrer’”, lembrou a mãe, Ana Maria.
12 de
fevereiro: Alessandra é extubada.
15 de
fevereiro: A passista recebe alta.
28 de
fevereiro: A mulher volta ao Iecac para a revisão da cirurgia de amputação.
Segundo a mãe, Ana Maria, o médico se assusta com o estado dos pontos e
recomenda que elas voltem ao Heloneida Studart.
4 de março:
após ser recusada em diferentes hospitais, Alessandra é internada no Hospital
Maternidade Fernando Magalhães e transferida para o Hospital Municipal Souza
Aguiar.
4 de abril:
Alessandra recebe alta.
Ajuda dos
amigos
A família da
Alessandra também diz que ela só está viva graças à ajuda dos amigos, que foram
incansáveis.
“A gente
correu muitos hospitais para tentar que ela entrasse, mas todos alegaram que
ela tinha que voltar para o lugar onde ela passou pela cirurgia”, disse Lukas
Matarazzo. Mas a família não quis retornar para o Heloneida Studart e só
conseguiu a vaga na rede municipal.
Agora, a
família ainda conta com a ajuda dos amigos para arcar com todos os medicamentos
e com a fisioterapia.
A família
fez um boletim de ocorrência na delegacia.
“Já fizemos
um requerimento nos hospitais para pegar os prontuários. A partir desse
documento, a gente vai entrar com uma ação contra o Estado”, afirmou a advogada
Bianca Kald.
Alessandra
está noiva há 11 anos e tinha o sonho — agora impossível — de engravidar. Ela
também não sabe como vai conseguir trabalhar em salões de cabeleireiro sem uma
das mãos.
“Eu quero
que os responsáveis paguem, que o hospital se responsabilize, porque eles
conseguiram acabar com a minha vida. Destruíram meu trabalho, minha carreira,
meu sonho… tudo”, declarou Alessandra.
O que
dizem as autoridades
A Secretaria
Estadual de Saúde disse que vai abrir uma sindicância para apurar o que
aconteceu no Hospital da Mulher Heloneida Studart.
A Polícia
Civil informou que o caso foi registrado na 64ª DP (São João de Meriti) e que
os agentes requisitaram o laudo médico de atendimento na unidade para fazer uma
análise.
Caso
semelhante em hospital particular
Um caso
semelhante aconteceu em outubro do ano passado. Gleice Kelly Silva deu entrada
no Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá para dar à luz e, dias depois,
teve o braço amputado.
Gleice teve
uma hemorragia depois do parto e, segundo os familiares da jovem, os médicos
decidiram criar um acesso venoso na mão dela para introduzir a medicação. Mas,
durante o procedimento, a jovem relata que começou a sentir muita dor e
incômodo.
Logo depois,
a mão foi ficando roxa e inchada. O quadro de saúde da jovem foi se agravando,
e os médicos decidiram transferi-la para outro hospital da mesma rede, em São
Gonçalo, na Região Metropolitana.
Três dias
após o nascimento do bebê, ela e os familiares receberam a notícia de que a
mulher teria que amputar a mão.