Em 100 dias, Congresso ainda não votou os grandes projetos do governo, criou 4 CPIs e mantém clima de polarização
Em 100 dias, Congresso ainda não votou os grandes projetos do governo, criou 4 CPIs e mantém clima de polarização
Prioridades do governo, arcabouço fiscal e reforma tributária ainda não avançaram. Enquanto o Planalto busca uma base confiável, audiências com ministros no Congresso têm sido palco de bate-boca com a oposição.
Por Beatriz Borges, Luiz Felipe Barbiéri, Vinícius Cassela e Kevin Lima, g1 — Brasília 11/05/2023 04h00 Atualizado há 4 horas
O Congresso
completa nesta quinta-feira (11) 100 dias de trabalho da nova legislatura.
Projetos considerados essenciais pelo governo, como o novo arcabouço fiscal,
ainda não foram votados. Nesse período, foram criadas 4 comissões parlamentares
de inquérito e, segundo especialistas, o clima de polarização política continua
se manifestando no dia a dia de Câmara e Senado.
Nesse
ambiente, o governo ainda busca construir uma base política sólida e confiável.
Nas últimas semanas, o Palácio do Planalto sofreu derrotas na Câmara, que
levaram o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, a iniciar
uma série de reuniões com partidos da base.
O próprio
presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou em cena para intensificar a
articulação política.
Mais abaixo
nesta reportagem, vão ser abordados os tópicos:
– Dificuldade
do governo de ter uma base aliada forte e aprovar projetos prioritários
– Criação de
quatro CPIs logo no início da legislatura e as consequências políticas
– Embates
acirrados e discussões entre governistas e oposicionistas nas comissões
“A atuação
do Congresso nesses 100 primeiros dias, no início da legislatura, ainda está
sendo muito respingada pelo período eleitoral, pelo período da polarização, do
Fla-Flu que o Brasil presenciou na última eleição presidencial”, avaliou Murilo
Medeiros, cientista político pela Universidade de Brasília (UnB) e assessor
legislativo no Senado.
Veja abaixo
os fatos que chamaram a atenção nos 100 primeiros dias do Congresso e os
efeitos na política nacional:
Base
indefinida
A composição
do novo Congresso, eleito em 2022, já indicava que Lula teria problemas para
construir uma base fiel e aliada em pautas prioritárias no governo. Com o
começo dos trabalhos, a previsão se confirmou.
Lula tentou
construir uma frente ampla de partidos que refletisse em apoio no Congresso.
Nove siglas passaram a ocupar a Esplanada: PT, MDB, PSB, PSD, União Brasil,
PDT, PSOL, PCdoB e Rede. Mas isso não tem garantido os votos necessários.
No início
deste mês, Lula chegou a ouvir do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL),
que a articulação política do governo precisava melhorar e que havia falhas nos
compromissos firmados para atrair apoio, como a distribuição de emendas
parlamentares e indicação para cargos comissionados.
Um dia
depois do encontro, a Câmara aprovou a derrubada de dispositivos modificados
por Lula no marco legal do saneamento básico.
“Evidentemente
que eu não posso dizer que a base tem tantos votos assim ou assado. Você pode
fazer 99% certo, se fizer 1% errado, é o que passa”, afirmou o líder do
governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).
“Essa
derrota que nós tivemos por uma pressão legítima dos parlamentares, porque os
acordos que nós tínhamos feito não estavam sendo cumpridos desde a PEC da
Transição, que é a liberação das emendas e dos cargos. Mas eu acho que a coisa
volta à normalidade”, completou.
Segundo o
senador oposicionista Eduardo Gomes, a falta de objetividade do governo ao
apontar o que é prioritário é o que tem atrapalhado os trabalhos.
“Foi muito acirrada a diferença [da eleição]. Menos de 1%. Isso dá à Casa um ponto de divisão. Mas o que mais atrapalha o trabalho legislativo é a falta de centralidade, de objetividade de quem está no governo. Então, aqui, o Congresso continua aguardando uma articulação objetiva das necessidades do governo sobre votações”, afirmou.
Para
Medeiros, cientista político, a montagem da base é um dos principais desafios
do governo para o futuro imediato, se quiser ver a aprovação dos projetos
prioritários.
“O
governo ainda não conseguiu montar uma base sólida no Congresso Nacional até
aqui. E esse é um grande desafio para os próximos meses, porque a agenda do
governo depende muito da da boa vontade do Congresso em aprovar reformas
importantes, como a reforma tributária e um novo arcabouço fiscal”,
afirmou o especialista.
Ele ainda
pontuou que as bancadas partidárias estão “muito líquidas, com partidos
pouco coesos ou programáticos. Então o custo política do governo para montar
uma base de coalizão vai ser muito mais alto”.