Reabilitado na Liga Árabe, Bashar al-Assad mostrou que está de volta
Reabilitado na Liga Árabe, Bashar al-Assad mostrou que está de volta
Ditador sírio tem lugar de destaque em cúpula, após 12 anos de ostracismo por repressão brutal a detratores.
23/05/2023 10h21 - Atualizado há 9 minutos
Uma imagem
marcante do fim de semana é a do ar triunfante exibido pelo ditador sírio,
reabilitado no palco da Liga Árabe, de onde havia sido expulso há 12 anos. Sim,
depois de amargar o ostracismo pela repressão brutal à guerra civil que se
instaurou no país, Bashar al-Assad está de volta à cena diplomática.
Em nome da
estabilidade regional, os governos árabes, autoritários em sua maioria,
preferiram relevar os abusos cometidos pelo regime sírio — bombardeios e
envenenamento por gás de civis, torturas de dissidentes. O conflito matou mais
de meio milhão de pessoas e deslocou metade da população – 14 milhões — de suas
casas.
Cerca de 5,5
milhões de refugiados sírios estão espalhados pelos países vizinhos — Turquia,
Líbano, Jordânia, Iraque e Egito. Graças ao apoio militar de Rússia e Irã, o
ditador conseguiu recuperar boa parte do território. Os rebeldes ainda se
concentram em bolsões no Norte, mas já não ameaçam o regime sanguinário.
O devastador
terremoto que em fevereiro abalou o noroeste do país ajudou a atenuar sanções
ao regime e aliviar as tensões com o Ocidente. Ainda assim, EUA e Europa se
opõem à chamada restauração de laços diplomáticos com a Síria.
A
reintegração do país ao clube de 22 membros árabes foi patrocinada, em parte,
pela Arábia Saudita, que durante a guerra civil apoiou os insurgentes e
condenou o ditador por operar uma máquina de matar. Ele ainda oferece
resistência a monarquias como Catar e Kuwait, que se opuseram a recebê-lo de
volta.
A realidade
mudou. A Arábia Saudita refaz gradativamente as relações com o Irã, seu
principal adversário regional. Diante disso, por que não reabilitar Assad?
Recebido com entusiasmo em Jeddah pelo ditador saudita, Mohammed bin Salman, o
autocrata sírio falou em paz e solidariedade como substitutos para guerra e
destruição.
A confiança
de Assad lhe permitiu tirar os fones do ouvido assim que o outro convidado de
destaque na reunião de cúpula, o presidente Volodymyr Zelensky, começou a
discursar contra o aliado Putin e a guerra que promove na Ucrânia.
Assad voltou
como sobrevivente sem rendição. De pária internacional, soube esperar pelo
retorno ao convívio entre seus pares, numa demonstração de que sem justiça e
reparação às suas vítimas, o crime pode compensar.