PM atira bombas de gás contra protesto indígena e libera rodovia em SP
PM atira bombas de gás contra protesto indígena e libera rodovia em SP
Povos originários bloqueavam estrada em ação contra marco temporal.
Publicado em 30/05/2023 - 09:50 Por Camila Boehm – Repórter da Agência Brasil - São Paulo
Por volta
das 9h, a Polícia Militar (PM) atirou bombas de gás e jatos de água contra a
manifestação de indígenas Guaranis que bloqueavam totalmente a Rodovia dos
Bandeirantes, no sentido São Paulo, altura do quilômetro (km) 20, desde as 6h
desta terça-feira (30). Com isso, a via foi liberada para o tráfego de
veículos.
Os indígenas
vivem no Pico do Jaraguá, em São Paulo, e protestavam contra a votação do
Projeto de Lei (PL) 490/2007, que pretende estabelecer um marco temporal para a
demarcação de terras indígenas e deve ser votado plenário da Câmara dos
Deputados nesta terça-feira (30).
Para
lideranças indígenas, o projeto representa grande ameaça à vida e por isso eles
se dizem dispostos a lutar e resistir contra a aprovação. Ontem (29), os
guaranis de São Paulo fizeram atos no Largo São Francisco, na região central da
cidade, e uma grande vigília na Terra Indígena Jaraguá começou no fim da tarde.
Segundo eles, novos atos devem ser realizados em todo o país para que essa lei
não seja aprovada.
Retrocesso
Para a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), o projeto de lei representa um retrocesso para os direitos dos povos indígenas e para a preservação dos biomas brasileiros, junto à Medida Provisória 1154, que retira a competência da demarcação de terras indígenas do Ministério dos Povos Indígenas (MPI).
A urgência
sobre a votação do projeto de lei foi aprovada no dia 24 deste mês, o que
acelerou a tramitação. Se aprovado pela Câmara, o texto segue para o Senado.
“O que vimos
no dia 24 é uma vergonha para a política nacional. Com o PL 490 e a Medida
Provisória, o Congresso quer inviabilizar as demarcações de terras indígenas.
Isso é um grande retrocesso para os direitos dos povos originários e para a
preservação do meio ambiente, visto que somos nós os verdadeiros guardiões dos
biomas brasileiros”, disse, em nota, Dinamam Tuxá, coordenador executivo da
Apib.
Marco
temporal
O projeto de
lei que cria o chamado marco temporal estabelece que serão consideradas terras
indígenas os lugares ocupados por povos tradicionais até o dia 5 de outubro de
1988, data da promulgação da Constituição. A Carta Magna não prevê esse marco
como critério, já que indígenas são povos originários que estão presentes no
país muito antes da colonização europeia.
O tema
também é objeto de análise pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que deve
decidir, no próximo dia 7 de junho, se a tese do marco temporal é válida ou
não.
Edição:
Kleber Sampaio