Em Copacabana, ato homenageia Dom e Bruno um ano após suas mortes
Em Copacabana, ato homenageia Dom e Bruno um ano após suas mortes
Manifestação reuniu viúva de Dom, familiares e amigos do jornalista.
Publicado em 05/06/2023 - 12:40 Por Vitor Abdala - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
Um ano após
os assassinatos do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista
brasileiro Bruno Pereira, no Vale do Javari, no Amazonas, seis cidades
brasileiras fazem atos nesta segunda-feira (5), em memória das vítimas. Os atos
ocorrem no Rio de Janeiro, Brasília, Campinas, Belém, Salvador e Atalaia do
Norte (AM). Também haverá manifestação em Londres, na Inglaterra.
No Rio de
Janeiro, o ato foi na Praia de Copacabana, na zona sul da cidade, e reuniu a
viúva de Dom, Alessandra Sampaio, seus familiares e amigos do jornalista.
Alessandra
Sampaio destacou que confia na Justiça brasileira para julgar os assassinos e
mandantes do crime. Ela acredita que o julgamento seria um recado importante
para as redes criminosas que atuam no Vale do Javari e em outras áreas da
Amazônia. Ela também defendeu que é importante proteger as pessoas que vivem
nesses territórios das organizações criminosas que atuam na Amazônia.
“Essa rede
criminosa se aproveita da pobreza que existe na região, de uma falta de
oportunidade de trabalho. Eles arregimentam pessoas para trabalhar no garimpo,
para desmatar florestas. E quando a gente vai mudar isso? A gente vê isso desde
sempre. Vai precisar morrer mais jornalista lá? Vai precisar morrer quantos
indígenas? Quantos ativistas vão precisar ser mortos para se ter uma mudança
real?”, cobrou Alessandra durante o ato, no Rio de Janeiro.
Vale do
Javari
O líder indígena Beto Marubo, integrante da Organização Representativa dos Povos Indígenas da Terra do Vale do Javari (Univaja), também participou do ato no Rio de Janeiro.
Ele afirmou
que, apesar da mudança de governo na esfera federal neste ano, nada mudou em
relação à realidade daquela região.
“O governo
brasileiro deve uma explicação para o mundo, e quais providências vão fazer a
partir de agora. O que o Brasil vai fazer de fato? Não temos uma resposta
oficial das autoridades ainda”, disse.
Segundo
Marubo, durante a transição de governo foram apresentadas várias sugestões para
melhorar a situação do Vale do Javari, mas até agora nenhuma dessas medidas foi
adotada.
“O Estado
brasileiro tem que ter responsabilidade e estar ciente de que uma ou duas
instituições [sozinhas] não vão resolver o problema. Tem que ter uma atuação
interagências, coordenada, com um planejamento técnico, em conjunto com Funai,
Exército, Polícia Federal, Ibama e Força Nacional. Numa perspectiva de curto,
médio e longo prazo”, defendeu.
Ele disse
que as estruturas da Funai na região são muito precárias e a agência não tem
hoje capacidade de enfrentar criminosos armados. “É preciso haver uma
reestruturação dos equipamentos e infraestrutura na região. Não tem como
enfrentar a situação no Vale do Javari com seu organograma totalmente
desatualizado. É necessário regulamentar o poder de polícia da Funai. Como um
órgão que detém a responsabilidade de proteger terras indígenas vai enfrentar
pessoas armadas, por exemplo?”
Marubo
também criticou a aprovação do Projeto de Lei do Marco Temporal para demarcação
de terras indígenas (PL 490/07), pela Câmara dos Deputados.
“Esperamos
que ela não venha a ser convalidada [pelo Senado], porque isso seria um
retrocesso tremendo. É algo que vai afetar diretamente os povos indígenas
isolados. Ela permite a usurpação das terras indígenas”, destacou.
Livro
Amigos e
colegas jornalistas de Dom vão se reunir, a pedido de sua família, para
concluir a livro do britânico. O projeto iniciou uma campanha de financiamento
coletivo para levantar as 16 mil libras esterlinas (cerca de R$ 100 mil)
necessárias para a conclusão do trabalho. Até a manhã desta segunda-feira, a
campanha já tinha angariado cerca de 10,5 mil libras.
“Vamos
imediatamente começar a enviar repórteres para sete locais remotos da bacia
amazônica, que é 28 vezes maior que o Reino Unido. A maioria dos lugares onde
precisar chegar só são acessíveis por barco, trilhas a pé que levam dias no
meio da floresta ou pegando carona em um helicóptero”, informa o texto que
anuncia a campanha.
“Os destruidores
da Amazônia continuam extremamente poderosos e precisam ser responsabilizados
por seus crimes”, alerta o documento.
Um ano
Bruno e Dom foram mortos em uma emboscada, quando o jornalista reunia informações para um livro que escrevia sobre a Amazônia. O livro Como Salvar a Amazônia buscava contar a história de defensores da floresta e dos direitos indígenas na floresta amazônica.
O
indigenista foi morto com três tiros, sendo um deles pelas costas, sem qualquer
possibilidade de defesa. Já Dom foi assassinado apenas por estar com Bruno, ou
seja, para eliminar a testemunha do crime.
Três pessoas
foram denunciadas à Justiça Federal por envolvimento no crime e na ocultação
dos corpos: Amarildo da Costa Oliveira, Oseney da Costa Oliveira e Jefferson da
Silva Lima. Eles alegaram legítima defesa, em depoimento à Justiça, em maio.
A Polícia
Federal (PF) também indiciou outras pessoas, entre elas dois ex-dirigentes da
Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), por dolo eventual, ao não
garantir a segurança de seus servidores na região.
A PF
investiga ainda Rubén Dario da Silva Villar, conhecido como Colômbia, que,
suspeita-se, tenha sido o mandante do crime. Segundo a PF, a suspeita é que ele
tenha planejado os assassinatos devido a desavenças com Bruno, já que o
servidor licenciado da Funai atuava contra a pesca ilegal na região.
Um inquérito
da PF contra a pesca ilegal também foi encerrado com o indiciamento de dez
pessoas.
Edição:
Fernando Fraga