Festa junina mais cara: itens típicos de quermesses ficaram 11% mais caros em 2023; veja os motivos
Festa junina mais cara: itens típicos de quermesses ficaram 11% mais caros em 2023; veja os motivos
Pesquisador afirma que a inflação persistente se deve à assimetria no repasse de preços, ao aumento na demanda por milho em nível global e à época de baixa produtividade para ovos e leite.
Por Bruna Miato, g1 21/06/2023 04h01 - Atualizado há 11 minutos
A
insatisfação com os preços das comidas típicas nas festas juninas e quermesses
está em uma porção de relatos nas redes sociais: pacotes pequenos de pipoca por
R$ 7, arroz doce e canjica por R$ 10 cada porção, milho na manteiga por R$ 12,
entre tantos outros.
E os valores
mais altos não significam que escolas e igrejas estejam enchendo os bolsos com
os lucros juninos. Pelo contrário: realizar uma festa junina ficou 11,41% mais
caro em 2023, e desemboca em repasse nos preços ao consumidor final ou
diminuição das margens.
É o que
mostra uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio
Vargas (FGV Ibre). A instituição fez um levantamento de preços para os últimos
três anos com 27 dos principais itens típicos dessa época. De todos, apenas
dois tiveram uma queda em 2023.
Produtos
típicos subiram mais que a inflação
A variação média dos produtos típicos de festa junina entre junho de 2022 e maio de 2023 foi maior do que a própria inflação do período.
Segundo
dados do FGV Ibre, o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) foi de
3,75% entre aqueles meses, muito menor do que alta dos itens pesquisados. Já o
Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que representa a inflação oficial
do país, subiu 3,94% no acumulado dos últimos 12 meses até maio, segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo
com Matheus Peçanha, economista e pesquisador do FGV Ibre, os itens juninos
deveriam estar no cerne da desaceleração da inflação neste ano, mas essa queda
está ocorrendo numa velocidade muito aquém da esperada.
“Só
nesta última leitura, de maio, que a gente começa a ver uma desaceleração um
pouco mais forte de alimentos, principalmente milho. Mas, no acumulado em 12
meses, ainda pegamos um longo período do ano passado, quando os preços dos
alimentos estavam mais pressionados”, explica.
O que
levou a inflação junina a crescer tanto?
O
especialista destaca que são três as principais razões para que os preços
desses produtos continuem pressionados:
– a demora
no repasse de reduções nos preços;
– o impacto
na oferta e demanda por milho causado pela guerra na Ucrânia;
– a época
produtiva para ovos e leite.
1️⃣ A grande hipótese para a
persistência da inflação dos produtos juninos acima do próprio IPCA é a
assimetria para o repasse nos custos.
Conforme
explica Peçanha, quando os custos sobem, logo os produtores e comerciantes
repassam a conta, levando o consumidor final a experimentar um aumento. Porém,
quando há uma queda, o produtor experimenta um aumento na sua margem de lucro e
segura os repasses para baixo o máximo possível.
“As
oscilações de preços para o consumidor final sobem de foguete e descem de
paraquedas”, pontua o pesquisador.
2️⃣ Um produto específico e amplamente
utilizado nas festividades de meio de ano é o milho, que foi um dos alimentos
que mais sentiu os impactos econômicos da guerra entre Rússia e Ucrânia. Não à
toa, os itens feitos com milho estão entre as maiores altas., caso do fubá de
milho (+42%), milho em conserva (+35%) e milho de pipoca (+34%).
Segundo o
economista, o país até teve uma boa safra de milho no último ano. No entanto,
como a Ucrânia (que é uma das regiões que mais produziam a commodity) está em
guerra e não consegue produzir, o Brasil teve que dividir a sua produção com
todo o mercado externo.
Isso encarece o alimento dentro do mercado nacional, já que, pela lei de oferta e demanda, os produtores passaram a se interessar mais por exportar o produto e ganhar em dólar.
3️⃣ O último ponto apresentado por
Peçanha é a baixa na produção de ovos e leite – que tiveram altas de,
respectivamente, 30% e 13%. Esses itens, que dependem de animais, passam por um
período de baixa produção na época de outono e inverno, justamente pelo clima
frio.
Isso
acontece todos os anos e a inflação junina de 2023 sentes os impactos tanto da
baixa produtividade no ano passado quanto neste ano.
O que
fica mais barato?
Em 2023, os únicos
dois alimentos que ficaram mais baratos foram o açúcar refinado (-2%) e a
batata-inglesa (-19%). Peçanha destaca que essas quedas se devem a uma melhora
na produtividade dessas culturas, que não enfrentaram grandes problemas
climáticos no período de suas safras.
Já para o
ano que vem, a perspectiva é que a inflação junina seja bem menos acentuada.
“Esperamos que na próxima edição dessa pesquisa, em 2024, tenhamos uma desaceleração bem mais generalizada, até com queda em alguns itens, justamente porque é agora que estamos começando a ver uma desaceleração mais consistente na alimentação (dentro dos índices de inflação). Esperamos que isso se acentue trimestre atrás de trimestre”, afirma o especialista.