Em depoimento, ex-chanceler diz que Planalto pediu reunião com embaixadores em que Bolsonaro atacou sistema eleitoral
Em depoimento, ex-chanceler diz que Planalto pediu reunião com embaixadores em que Bolsonaro atacou sistema eleitoral
Carlos França, que chefiava Ministério das Relações Exteriores à época, disse que apenas ajudou Presidência da República na organização. Reunião motivou processo que pode levar Bolsonaro à inelegibilidade.
Por Isabela Camargo, GloboNews 28/06/2023 15h14 - Atualizado há 31 minutos
O
ex-ministro das Relações Exteriores Carlos França disse, em depoimento, que foi
a Presidência da República quem pediu a realização de uma reunião com
embaixadores, na qual o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) atacou, sem provas, o
sistema eleitoral brasileiro.
A reunião
motivou o processo em julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pode
levar à inelegibilidade de Bolsonaro. O relator do caso, ministro Benedito
Gonçalves, já se manifestou pela condenação do ex-presidente (veja mais
abaixo).
O depoimento
de Carlos França foi no âmbito da ação no TSE. O documento está em sigilo,
apesar de o processo ser público. O teor das declarações foi divulgado pelo
jornal “O Globo”, e confirmado pela GloboNews.
O encontro
citado ocorreu em julho de 2022, quando Jair Bolsonaro reuniu, no Palácio da
Alvorada, embaixadores de diversos países. Na reunião, que foi transmitida por
redes e canais oficiais do governo, o então presidente fez ataques infundados às
urnas e ao sistema eleitoral.
No
depoimento, ao ser questionado sobre a iniciativa para realização da reunião, o
ex-chanceler respondeu: “Bom, esse encontro ocorre organizado pela Presidência
da República”.
Em outro
momento, o juiz responsável por tomar o depoimento perguntou ao ex-ministro se
coube ao Ministério das Relações Exteriores fazer o contato com as embaixadas
para o evento. Carlos França negou a articulação.
“O que
eu fiz foi auxiliar a Presidência da República naquilo que me cabe. Na minha
pasta…a orientação… uma vez tomada a decisão de fazer o evento, que nós
julgávamos que deveria ser o público-alvo”, disse.
Ação no TSE
Os ataques
feitos pelo ex-presidente na reunião com embaixadores chegaram ao TSE por meio
de uma ação do PDT, que acusa Bolsonaro de abuso de poder político e uso
indevido dos meios de comunicação. Se for condenado, ele pode ficar inelegível
por 8 anos.
O Ministério
Público Eleitoral (MPE) também se manifestou pela condenação. Já a defesa do
ex-presidente alega que a reunião com embaixadores, mesmo ocorrendo meses antes
das eleições, não teve caráter eleitoral.
Os advogados
também afirmam que as falas sobre as urnas fizeram parte de um “debate de
ideias” para aprimorar o sistema de votação do país.
Na
terça-feira (28), o relator do caso no TSE, ministro Benedito Gonçalves, votou
pela condenação do ex-presidente. O julgamento foi suspenso em seguida e será
retomado nesta quinta-feira (29), para as manifestações dos demais ministros.
Para o
relator, Bolsonaro acirrou tensões, banalizou “golpismo” e
“violou ostensivamente deveres de presidente da República, inscritos na
Constituição, em especial zelar pelo exercício livre dos Poderes constituídos e
segurança interna”. Gonçalves também entendeu que a reunião teve sim
intuito eleitoral.
“A
reunião portanto teve finalidade eleitoral, mirando influenciar o eleitorado e
a opinião pública nacional e internacional com uso da estrutura pública e das
prerrogativas do cargo de presidente da República foi contaminado por desvio de
finalidade em favor da candidatura da chapa investigada”, leu o ministro.
Benedito
concluiu ainda que o material da apresentação feita aos embaixadores não teve a
participação de ministérios, como o MRE e a Casa Civil. Com isso, concluiu que
Bolsonaro foi o integral responsável pelo material.