Carro zero com desconto: governo vai renovar programa e liberar mais R$ 300 milhões

Carro zero com desconto: governo vai renovar programa e liberar mais R$ 300 milhões

Recursos vão vir da reoneração do diesel, afirmou o ministro Fazenda, Fernando Haddad.


Por Raphael Martins e Ana Paula Castro, g1 e TV Globo 28/06/2023 17h08 - Atualizado há 9 horas

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) confirmou nesta quarta-feira (28) ao g1 que promoverá uma nova rodada de crédito para o programa do governo que barateia o carro zero.

Pouco depois, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o valor adicional para a prorrogação do programa será de R$ 300 milhões, com recursos provenientes da reoneração do diesel (entenda mais abaixo).

“Ia ser um programa de R$ 1,5 bilhão, mas vai ser de R$ 1,8 bilhão, mantendo o que eu falei desde o início: que seria um programa de menos de R$ 2 bilhões — e com recursos da reoneração do diesel, em virtude da queda do dólar e do preço do petróleo”, explicou Haddad.

 

O desenho inicial do programa tinha a seguinte distribuição:

 

– R$ 500 milhões para automóveis;

– R$ 700 milhões para caminhões;

– R$ 300 milhões para vans e ônibus.

De acordo com os últimos dados divulgados pelo MDIC, as fabricantes já solicitaram R$ 420 milhões em créditos tributários dos R$ 500 milhões disponíveis para automóveis.

Os benefícios concedidos para veículos de transporte de passageiros chegaram a R$ 140 milhões, e de transporte de cargas, a R$ 100 milhões.

 

Reoneração

Para compensar a prorrogação e elevar o programa ao total de R$ 1,8 bilhão, Haddad explicou que o litro do diesel será reonerado em mais R$ 0,03 a partir de outubro. Entenda:

 

– ao lançar o programa, no início de junho, o governo anunciou que a fonte de recursos era a reoneração do diesel em R$ 0,11 a partir de setembro;

– segundo o ministro da Fazenda, essa reoneração a partir de setembro vai gerar uma arrecadação de R$ 1,6 bilhão — dos quais R$ 1,5 bilhão seriam inicialmente destinados ao custeio do programa;

– agora, com a prorrogação da medida, o governo vai utilizar essa “sobra” de R$ 100 milhões e reonerar ainda mais o litro do diesel para arrecadar os outros R$ 200 milhões necessários;

– ou seja, a partir de outubro, o litro do diesel será reonerado em mais R$ 0,03, chegando a R$ 0,14/litro.

 

Montadoras

Apesar de reduzir os preços, a ação foi limitada para compensar a falta de escoamento de produção das montadoras.

Um vídeo feito na manhã desta quarta-feira (28) pelo Globocop, da TV Globo, causou repercussão ao registrar o pátio da montadora Volkswagen, em São Bernardo do Campo, com milhares de veículos à espera de serem vendidos.

O acúmulo de estoque fez a montadora promover mais uma parada de produção em suas fábricas por conta de uma “estagnação do mercado”. Em outras palavras, a empresa continua sentindo a falta de demanda por veículos novos, que causou paralisações das principais montadoras do país no início do ano.

O fenômeno é o mesmo que o g1 mostrou à época:

 

– os aumentos da taxa básica de juros, a Selic, feitos pelo Banco Central desde 2021, começaram a trazer consequências mais fortes para a economia.

– uma delas é, justamente, a redução do consumo por meio da dificuldade de concessão de crédito.

– o encarecimento do crédito junto com a redução do poder de compra da população reduziu o potencial de financiamento e, por consequência, a demanda por carros novos.

As estimativas da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) são de que o programa do governo, em sua primeira versão, traria descontos para 110 mil a 120 mil carros neste ano.

A título de comparação, a produção prevista pela associação para 2023 é da ordem de 2,4 milhões de novos veículos, sendo mais de 2 milhões para o mercado interno. Ou seja: o dinheiro despejado pelo governo só trará diferencial de preço para pouco mais de 5% dos novos veículos.

Questionada, a Anfavea não comentou o assunto.

A Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), que contabiliza o emplacamento de carros novos no Brasil, também não divulgou números antes de sua coletiva de imprensa, no próximo dia 4.

 

Preços-base não vão mudar

Mesmo com os pátios lotados, os preços não serão reduzidos, na visão de analistas ouvidos pelo g1 em março.

O excedente de produção, em tese, deveria criar novas condições para a comercialização de veículos — a famosa lei da oferta e demanda da economia —, mas analistas dizem que as montadoras precisam retomar as perdas por conta do momento que viveram durante a pandemia de Covid.

Com custo de produção em alta devido aos entraves logísticos e falta de matéria-prima durante os últimos anos, as empresas precisam recuperar o “dinheiro perdido”. Ainda que as cadeias logísticas tenham melhorado em 2022, houve a guerra na Ucrânia que trouxe novos impactos em preços de commodities necessárias para a indústria.

É o caso de metais usados em semicondutores, peças responsáveis pela condução das correntes elétricas. São chips indispensáveis para a montagem de automóveis e eletroeletrônicos — que também tiveram aumento de demanda durante a pandemia.

Além disso, o mercado está em momento de alta competitividade, já que as montadoras correm contra o relógio em busca de desenvolver veículos que funcionem com novas matrizes energéticas, por exemplo. A eletrificação da linha demanda investimentos em pesquisa e eficiência, para que o produto final tenha preço competitivo dentro do mercado.

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