Baixa vacinação de idosos acende alerta para casos de gripe
Baixa vacinação de idosos acende alerta para casos de gripe
Infectologista destaca "recorde histórico para baixo" na imunização.
Publicado em 30/06/2023 - 14:10 Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
Dados do
Ministério da Saúde referentes ao período de março a maio revelam que somente
55% dos idosos foram vacinados neste ano na Campanha Nacional de Vacinação
contra a Influenza, em comparação com o mesmo período de 2022 ano passado.
“Os números
estão abaixo do estimado como nunca estiveram”, disse nesta sexta-feira (30) à
Agência Brasil a médica Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio
Ribas. “Este é o recorde de baixa cobertura desde que começaram as campanhas de
vacinação contra a gripe”, afirmou a infectologista. A vacinação contra a
influenza foi incorporada no Programa Nacional de Imunizações (PNI) em 1999.
“Hoje, os
números apontam que 56% da população idosa, acima de 60 anos de idade, estão
com vacinação contra influenza. Este também é um recorde histórico para baixo”,
destacou Rosana. Tradicionalmente, crianças e gestantes sempre tiveram mais
dificuldade de alcançar as metas, o que não ocorria com a população idosa e
profissionais de saúde. “Desta vez, 56% são algo muito longe do que se tem na
nossa história.”
Uma questão
preocupante é que, pelos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (Pnad Contínua), está diminuindo a população abaixo de 30 anos, não só
no Brasil, mas no mundo inteiro, enquanto aumenta significativamente a parcela
dos que têm mais de 60 anos. A Pnad Contínua foi divulgada neste mês pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Estamos
totalmente na contramão, do ponto de vista que estamos envelhecendo. Isso
significa que há no Brasil uma população muito mais suscetível a ter gripe, e
tudo que essa doença traz, contra o que havia no passado, quando se alcançava
95% de cobertura vacinal na campanha de imunização. Existe esse paradoxo do
ponto de vista da cobertura e de aumento da população de risco”, afirmou a
infectologista.
Síndrome respiratória
Segundo o
Ministério da Saúde, os registros de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG)
por Influenza em idosos aumentaram 4,5 vezes em 2023, na comparação com o mesmo
período de 2022, e 96,1% desses casos necessitaram de hospitalização até o mês
de maio deste ano. Os idosos permanecem com maior risco de acidente vascular
cerebral (AVC) até dois meses após uma infecção pelo vírus Influenza.
Rosana
Richtmann destacou que observa-se, cada vez mais , a relação de doenças virais
– “e a Influenza é uma delas” — com complicações cardiovasculares. “Você teve
um quadro de Influenza e tem risco maior de
infarto, de arritmia cardíaca nas semanas seguintes. Você teve Zoster,
tem maior risco de ter um AVC, um derrame nas próximas semanas”. Está se
estabelecendo uma relação direta de um fenômeno infeccioso viral como um
gatilho para ter uma complicação cardiovascular, explicou a médica. “Quando
você fala em prevenção de gripe, você passa a não ter infecção aguda pelo vírus
Influenza e, por outro lado, tem a prevenção indireta para outras condições,
como as respiratórias.”
A médica
ressaltou que, com a idade, as pessoas não percebem que é muito maior a chance
de ter outras complicações decorrentes da gripe. Problemas como diabetes,
hipertensão, e situações respiratórias, entre as quais asma e bronquite crônica,
podem acelerar o processo.
O Ministério
da Saúde destaca que cerca de 70% dos idosos têm alguma doença crônica e maior
risco de agravamento de infecções. Isso ocorre porque o avanço da idade faz com
que o sistema de defesa do corpo humano comece a apresentar diminuição de suas
funções; processo é chamado de imunossenescência. Como resultado desse declínio
progressivo do sistema imunológico, a pessoa fica mais suscetível a algumas
doenças e infecções.
Os idosos
que se vacinam contra Influenza, porém, têm menos possibilidade de ter a
doença, com percentual em torno de 60% a 65%, ou de ter uma doença menos grave.
Existem objetivos específicos para vacinar esta população”. Rosana alertou que
o vírus da Influenza ainda está circulando no país, trazendo complicações
respiratórias, daí, a necessidade de vacinação desse grupo.
Fiocruz
O
coordenador do boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Marcelo
Gomes, confirmou a queda na adesão de idosos à campanha de vacinação e disse
que isso acaba tendo impacto negativo sobre esse grupo. Segundo o pesquisador,
as ações empreendidas desde 2020 para diminuir o impacto da covid-19 tiveram
efeito positivo com a queda dos demais vírus respiratórios, inclusive com
impacto muito maior para a própria covid. “Foi uma redução muito significativa
mas, agora, à medida se foi retomando a normalidade, os vírus estão, de certa
forma, aproveitando esse momento”, disse Gomes à Agência Brasil.
Ele destacou
que caiu a percepção de risco associado aos vírus da gripe, o que pode ter
ajudado na diminuição da busca pela vacina contra influenza. Assim como a
infectologista Rosana Richmann, Gomes alertou que o vírus Influenza continua
circulando, “aproveitando o momento” em que se relaxou, em todos os sentidos.
“Tanto no comportamento quanto na vacinação.”
O resultado
é que as pessoas não estão com a imunidade adequada, e o comportamento favorece
a transmissão. “Aí, o vírus Influenza voltou com força.”.
Outro fator
relevante neste ano é a volta do vírus H1N1, diferentemente do que ocorreu em
2022, quando teve maior presença o H2N2. Embora também cause internações, o
H2N2 não tem o mesmo impacto em termos de internações que o H1N1, que tem maior
risco de agravamento. Neste ano, o H1N1 reapareceu, com presença mais
significativa em um cenário em que não se tem adotado quase nenhum cuidado.
“Mesmo pessoas que têm algum sinal de gripe, que estão espirrando, tossindo,
têm relaxado”, destacou Marcelo Gomes.
Máscara
O
pesquisador da Fiocruz alertou que pessoas com sinais de gripe que não possam
fazer repouso e precisem sair devem usar máscaras de proteção, especialmente se
pegam transporte público. Para ele, os brasileiros estão perdendo uma
oportunidade muito grande de criar uma conscientização populacional de que a
máscara é uma ferramenta extremamente valiosa para situações específicas.
Com o
arrefecimento da covid-19, a sensação é de que a máscara já não é mais
necessária. Gomes ressaltou que não se trata de usar sempre máscara, mas sim em
situações específicas, como outros países fizeram no passado e construíram esse
costume como defesa contra a gripe. “A gente está perdendo uma oportunidade de
ouro de fazer essa mudança comportamental que pode, sim, nos trazer uma proteção,
combinada com a vacina.”
Óbitos
De 2021 para
2022, o número de óbitos causados pela Influenza no Brasil subiu 135%. Neste
cenário, as pessoas com mais de 60 anos são as que adoecem com maior gravidade,
indica o Ministério da Saúde.
Atualmente,
as infecções respiratórias são a quarta maior causa de mortalidade de idosos no
país.
Edição:
Nádia Franco