Cúpula do Mercosul termina em acordo pelo fortalecimento da democracia
Cúpula do Mercosul termina em acordo pelo fortalecimento da democracia
Carta saúda Brasil pelo início da presidência temporária do bloco.
Publicado em 05/07/2023 - 15:02 Por Daniella Almeida - Repórter da Agência Brasil - Brasília
Os
presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; da Argentina, Alberto Ángel
Fernández; e Paraguai, Mario Abdo Benítez, assinaram o comunicado conjunto da
62ª Cúpula de Presidentes do Mercosul e Estados Associados, realizada nesta
segunda (3) e terça-feira (4), na cidade de Puerto Iguazú, província argentina
de Missões. O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, não assinou a nota
conjunta, mesmo tendo participado do encontro, por considerar que o documento
não inclui termos que o governo uruguaio considera importantes.
Comunicado conjunto
De acordo
com o documento, os presidentes dos três países do Mercado Comum do Sul
(Mercosul) renovaram o compromisso do bloco com o fortalecimento da democracia,
do Estado de Direito e do respeito aos direitos humanos e destacaram a importância
da agenda econômica, comercial, social e cultural do bloco em benefício de seus
cidadãos e cidadãs.
Os presidentes também concordaram com a necessidade de haver uma reflexão sobre a modernização do bloco, incluindo o fortalecimento da agenda interna para haver maior integração de suas economias, bem como a estratégia de inserção internacional, de forma consensual e solidária. Os presidentes entenderam que é preciso enfrentar os desafios de um cenário mundial em transformação, afetado por mudanças nas questões de produção e do emprego, com efeitos na reconfiguração das cadeias globais de valor.
Nesse
contexto, os presidentes concordaram também em trabalhar para fortalecer as
conexões internas do bloco regional, diante dos diferentes tipos de dificuldades
para o comércio e a integração; aprofundar a inserção comercial internacional e
articular mecanismos que favoreçam a formação de cadeias de valor regional e
inter-regionais sustentáveis, justas e resilientes. O objetivo é “converter o
Mercosul em uma poderosa plataforma produtiva geradora de emprego digno e
inclusivo, utilizando as oportunidades que a transição energética, a
digitalização e a disponibilidade de talentos oferecem para o desenvolvimento
econômico e social do bloco em seu conjunto”, diz o comunicado.
A carta
ainda trata de assuntos como temas aduaneiros e facilitação do comércio, a
importância de avançar na liberalização do comércio de serviços, a integração
dos setores produtivos, a defesa da concorrência, defesa do consumidor, melhoraria
da ferramenta que disponibiliza as estatísticas de comércio exterior do bloco,
entre outros temas.
Sobre a
adesão da Bolívia como estado parte do Mercosul, os presidentes expressaram a
vontade de avançar com o processo de adesão para, desta forma, consolidar a
integração da América do Sul.
Por fim, a
carta ainda saúda o Brasil pelo início da presidência pro tempore do bloco,
após a Argentina e desejou sucesso no desempenho do cargo, nos próximos seis
meses, sucedendo a Argentina na presidência rotativa do Mercosul.
Negociações Externas
No informe
divulgado, Brasil, Argentina e Paraguai estão em consenso sobre a necessidade
de manter uma agenda externa que priorize cenários de negociação que ofereçam
possibilidades para que os países do bloco intergovernamental se insiram mais
nas cadeias inter-regionais, atraiam investimentos, aumentem suas exportações e
gerem emprego de qualidade.
Sobre o
Acordo de Associação com a União Europeia, os três mandatários reafirmaram, no
documento, o compromisso do Mercosul para avançar até a efetiva assinatura do
acordo, considerando que este deve ser benéfico a todas as partes, considerando
os diferentes níveis de desenvolvimento das nações.
Neste ponto,
durante a quarta edição da sua live semanal Conversa com o Presidente,
transmitida pela TV Brasil Gov e redes sociais, nesta terça-feira (4), o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou, que os países que integram o
bloco buscam uma política de ganha-ganha com a União Europeia. ““Queremos
discutir um acordo, mas não queremos imposição para cima de nós. É um acordo de
companheiros, de parceiros estratégicos. Então, nada de um parceiro estratégico
colocar espada na cabeça do outro. Vamos sentar, vamos tirar nossas diferenças
e vamos ver o que é bom para os europeus, para os latino-americanos, para o
Mercosul e para o Brasil.”
Lula já
havia dito, em seu discurso, durante a cúpula, que “o Instrumento Adicional
apresentado pela União Europeia em março deste ano é inaceitável. Parceiros
estratégicos não negociam com base em desconfiança e ameaça de sanções. É
imperativo que o Mercosul apresente uma resposta rápida e contundente”.
Uruguai
De acordo
com o Portal dos Meios Públicos de imprensa
oficial do governo uruguaio, o presidente daquele país, Luis Lacalle
Pou, disse que não assinou o comunicado conjunto da 62ª Cúpula de Presidentes
do Mercosul e Estados Associados porque os outros países não concordaram em
incluir questões que considera centrais, como a flexibilização e modernização
do bloco regional.
O presidente
explicou que o Ministério das Relações Exteriores do Uruguai propôs que esses
temas fossem incluídos no texto final da cúpula, mas que os países sócios não
concordaram, embora o chanceler uruguaio Francisco Bustillo tenha proposto duas
redações diferentes, revelou Luis Lacalle Pou.
Sobre o
Acordo de Livre Comércio do Uruguai com a China, o presidente Lacalle Pou
indicou que o governo dele vai continuar com o processo de negociação
bilateral.
No entanto,
o mandatário do Uruguai acredita que este não é o momento para que o país deixe
de ser um estado membro do Mercosul e se torne um associado do bloco porque
considera que é uma decisão que não pode ser tomada de forma inesperada.
Venezuela
Em seu
discurso durante a cúpula, Lacalle se posicionou contrário ao retorno da
Venezuela ao grupo como Estado associado. O uruguaio cobrou dos demais membros
do Mercosul um posicionamento sobre a Venezuela, suspensa do grupo em 2017 por
não cumprir critérios democráticos. “Acredito que o Mercosul tem que enviar um
sinal claro para que o povo venezuelano possa se encaminhar para uma democracia
plena que, claramente, hoje, não a tem”.
Apesar do
comunicado conjunto sobre a Cúpula do Mercosul não fazer referência à
Venezuela, sobre o tema, o presidente brasileiro defendeu o diálogo, em sua
fala durante o encontro. “Com relação à questão da Venezuela, todos os
problemas que a gente tiver de democracia, a gente não se esconde deles. A
gente os enfrenta. Eu não conheço os pormenores do problema com a candidata
[Maria Corina Machado], na Venezuela. Pretendo conhecer”, adiantou o presidente
Lula.
Em 30 de
junho, a Controladoria-Geral da Venezuela tornou a ex-deputada Maria Corina
Machado inelegível por 15 anos. Maria Corina é considerada a líder da oposição
ao governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro. Na mesma data, Maria
Corina reagiu no nas redes sociais. “Agora vamos votar com mais força, mais
rebeldia e mais vontade nas Primárias. Aqui, quem habilita é o povo da
Venezuela”.
Edição:
Aline Leal