Pesquisa mostra que 78,5% das famílias brasileiras estão endividadas
Pesquisa mostra que 78,5% das famílias brasileiras estão endividadas
Número é o maior da série histórica iniciada em janeiro de 2010.
Publicado em 11/07/2023 - Por Cristina Indio do Brasil – Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
O percentual
de famílias que relataram ter dívidas a vencer avançou 0,2 ponto percentual
(pp) em junho, atingindo 78,5% das famílias no país. As que se consideram muito
endividadas são 18,5% desse total. Segundo a Confederação Nacional do Comércio
de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que divulgou os números nesta terça-feira
(11), este é o maior volume da série histórica, iniciada em janeiro de 2010. Os
dados fazem parte da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor
(Peic), apurada mensalmente pela CNC.
De acordo
com a CNC, o aumento do número de endividados interrompeu uma sequência de
quatro meses de estabilidade do indicador.
Para o
presidente da CNC, José Roberto Tadros, a economia brasileira passa por um
cenário de endividamento e inadimplência crescente, e isso atinge a capacidade
de consumo das famílias. “O equilíbrio entre os objetivos de estabilidade de
preços e o crescimento econômico é um desafio a ser perseguido e que será
determinante para a retomada do desenvolvimento do País”, aponta texto
divulgado pela CNC sobre o resultado de junho.
Renda
A pesquisa
mostrou que, mesmo com o aumento do endividamento em junho, um mês antes do que
a CNC estimava, a parcela média da renda comprometida com dívidas registrou o
menor percentual desde setembro de 2020, ao atingir 29,6%.
Segundo a
economista Izis Ferreira, responsável pela pesquisa, isso pode ser explicado
pelo comportamento da renda de parte dos consumidores. “Isso é resultado da
melhora da renda dos consumidores que recebem até 10 salários mínimos, que
ocorre por conta da dinâmica favorável da inflação em desaceleração desde o fim
do ano passado”, observou.
Inadimplência
O volume da
inadimplência seguiu o movimento de avanço do endividamento em junho. O total
de famílias com dívidas atrasadas chegou a 29,2%, o que significa alta de 0,1
pp. Do total de consumidores com dívidas atrasadas, 4 em cada 10 entraram em
junho sem condições de pagar os compromissos de meses anteriores, maior proporção
desde agosto de 2021.
Izis
Ferreira disse, porém, que a evolução positiva do mercado de trabalho e o
alívio da inflação, que resultaram na melhora da renda disponível, não foram
suficientes para retirar da inadimplência os consumidores com dívidas atrasadas
há mais tempo.
“A proporção
de consumidores com dívidas atrasadas voltou a crescer após seis meses de
queda, assim como o contingente dos que afirmam que não terão condições de quitar
dívidas atrasadas de meses anteriores”, afirmou a economista. Para ela, os
juros elevados continuam dificultando a melhora desse quadro.
Também
cresceu o número de consumidores com atrasos há mais de 90 dias, que, em junho,
atingiu 46% do total de inadimplentes. De acordo com Izis, isso quer dizer que
a cada 100 consumidores com dívidas atrasadas, 46 estão com atrasos há mais de
três meses. “E a proporção vem crescendo.”
Regiões
As regiões
Sul e a Sudeste foram as que tiveram maior número de famílias endividadas. A
população de Minas Gerais é a mais endividada entre os estados. São 94,9% do
total. Na sequência, ficaram o Paraná, com 94,7%; e o Rio Grande do Sul, com
93,9%. Mato Grosso do Sul teve o menor índice de endividamento do país (59,1%),
seguido por Pará (62%) e Piauí (65%).
Faixas de renda
Em todas as
faixas de renda pesquisadas, o volume de endividados aumentou no semestre, o
que indica “tendência de alta na segunda metade do ano”. Na comparação com o
mesmo período do ano passado, o maior crescimento na proporção de endividados
ficou com os consumidores com renda mensal de 5 a 10 salários (2,1 pontos
percentuais).
“Com a
absorção de pessoas com menor nível de escolaridade pelo mercado de trabalho e
programas de transferência de renda mais robustos, um avanço mais expressivo
entre as famílias de renda baixa vem sendo contido”, completou a economista no
texto da CNC.
Edição:
Nádia Franco