Lula diz que vai escolher novo PGR com “mais critério”
Lula diz que vai escolher novo PGR com “mais critério”
Presidente não quer procurador que “faça denúncia falsa”.
Publicado em 01/08/2023 - 11:04 Por Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil - Brasília
O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta terça-feira (1°), que a escolha do
novo procurador-geral da República será feita “com mais critério”. Para o
presidente, o cargo deve ser ocupado por “alguém que goste do Brasil, alguém
que não faça denúncia falsa”. Em setembro, termina o mandato de Augusto Aras à
frente da Procuradoria-Geral da República (PGR) e a indicação do novo nome cabe
ao presidente do país.
“Eu vou
escolher a pessoa que eu achar que é a melhor para os interesses do Brasil, se
der errado, paciência, mas eu vou tentar escolher o melhor”, disse, durante o
programa semanal Conversa com o Presidente, transmitido pelo Canal Gov.
“Eu vou
escolher com mais critério, com mais pente fino, para não cometer um erro. Eu
não quero escolher alguém que seja amigo do Lula, eu quero escolher alguém que
seja amigo desse país, alguém que goste do Brasil, alguém que não faça denúncia
falsa, alguém que não levante falso sobre o outro.
Quem
denuncia uma denúncia falsa e depois não prova deveria pagar as custas do
processo porque assim a gente consegue fazer as pessoas serem mais honestas e
decentes nas suas decisões”, acrescentou o presidente.
Lula disse que sempre teve “o mais profundo respeito pelo Ministério Público”, mas que a atuação do órgão na Operação Lava Jato o fez perder a confiança. No âmbito da operação, Lula foi investigado, condenado e preso, em abril de 2018. Em março do ano passado, o Supremo Tribunal Federal anulou as condenações ao entender que a 13ª Vara Federal em Curitiba (PR), sob comando do ex-juiz Sergio Moro, não tinha competência legal para julgar as acusações.
Hoje, Lula
citou a atuação do então chefe da força-tarefa em Curitiba, o ex-procurador
Deltan Dallagnol, e disse que as decisões da Lava Jato visavam um projeto de
poder e levaram à eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Era uma das
instituições que eu idolatrava nesse país. Depois dessa quadrilha que o
Dallagnol montou, eu perdi muita confiança. Eu perdi porque é um bando de
aloprado, que acharam que poderiam tomar o poder, estavam atacando todo mundo
ao mesmo tempo, atacando o governo, o Poder Executivo, o Legislativo, a suprema
corte. Eles fizeram a sociedade brasileira refém durante muito tempo”, disse
Lula.
“Eu acho
que, mais grave do que a própria lei, foi o fato de que a sociedade brasileira
ou uma grande parcela dela foi cooptada pela mentira. Se estabeleceu uma
espécie de pacto, as quadrilhas, seja o Ministério Público, seja o juiz Moro,
eles convenceram a sociedade de que tal coisa era verdade e a sociedade
embarcou através do meio de comunicação”, argumentou o presidente na conversa
desta terça-feira com o jornalista Marcos Uchôa.
Para Lula,
muitas personalidades e empresas importantes para o país foram destruídas.
“Você poderia punir o diretor da empresa, mas não pune a empresa. Você causar
quase 4 milhões de desempregos nesse país, quase que aniquilar a indústria de
engenharia, a indústria de óleo e gás, em benefício de quem? Não foi do povo
brasileiro. O resultado disso foi o maluco beleza [Jair Bolsonaro] que governou
esse país durante quatro anos, o resultado disso foi o fascismo nesse país”,
afirmou.
Lista tríplice
O presidente
destacou que ainda fará muitas conversas antes da escolha.
“Vou ouvir
muita gente, vou atrás de informações de pessoas que eu penso, vou discutir se
é homem ou se é mulher, se é negro, se é branco, tudo isso é um problema meu,
que está dentro da minha cabeça. E quando eu tiver o nome, eu indico”, disse.
No mês
passado, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) definiu a
lista tríplice que será enviada ao presidente para indicação ao cargo de
procurador-geral da República. Apesar da mobilização dos procuradores, Lula já
afirmou que não vai seguir, necessariamente, as sugestões de nomes para a
sucessão na procuradoria, como fez em seus dois primeiros governos.
De acordo
com a Constituição, o presidente da República não é obrigado a seguir a lista
da associação e pode escolher qualquer um dos subprocuradores em atividade para
o comando do órgão. A candidata mais votada foi a subprocuradora Luiza
Frischeisen, seguida de Mário Bonsaglia. Os dois já figuraram em listas
anteriores. Em terceiro ficou José Adonis Callou, ex-coordenador da Operação
Lava Jato na PGR.
A lista tríplice foi criada em 2001 e é defendida pelos procuradores como um dos principais instrumentos de autonomia da carreira. Entre 2003 e 2017, durante os governos Lula e Dilma, o procurador-geral da República nomeado foi o mais votado na lista tríplice.
Em 2017, o
ex-presidente Michel Temer indicou a procuradora Raquel Dodge, que, na ocasião,
foi a segunda colocada na votação. Em 2019, Jair Bolsonaro não seguiu a lista e
indicou Augusto Aras, que foi reconduzido ao cargo dois anos depois.
Após
indicação do presidente da República, o procurador-geral é sabatinado pela
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e precisa ter o nome
aprovado pelo plenário da Casa. Em seguida, a posse é marcada pela
Procuradoria-Geral da República.
Novo IBGE
Durante o
programa Conversa com o Presidente, Lula também comentou a indicação do
professor e pesquisador Márcio Pochmann para a presidência do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e as críticas de que Pochmann
poderia “manipular dados a favor do governo”. Segundo o presidente, “não é
aceitável as pessoas tentarem criar uma imagem negativa de uma pessoa da qualificação
do Márcio Pochmann”.
“É um dos
grandes intelectuais desse país, é um rapaz extremamente preparado. Eu escolhi
porque confio na capacidade intelectual dele, ele é um pesquisador exímio”,
disse Lula.
“Quem tem
uma história nesse país, como a que vocês me ajudaram a construir, não vai
precisar de manipular dados para poder fazer as coisas. Quanto mais verdadeiro
forem os dados, melhor para quem governa.”
“Quem
gosta de dados mentirosos, caiu fora, quem gosta de mentira, de fake news caiu
fora. O que nós queremos são os dados do jeito que eles são, como foram
apurados, com a maior clareza, com a maior realidade”, acrescentou o
presidente.
Ainda de
acordo com Lula, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, já sabia, “há muito
tempo”, que Pochmann era o seu escolhido, mas ponderou que a troca no IBGE
fosse feita após o término do Censo Demográfico de 2022, prejudicado após
sucessivos adiamentos. “Fez o censo, terminou o censo, agora o Márcio Pochmann
vai tomar posse como presidente do IBGE”, afirmou.
O IBGE é
subordinado ao Ministério do Planejamento. Pochmann vai substituir o atual
presidente Cimar Azevedo, funcionário de carreira e ex-diretor de Pesquisas do
instituto que está de forma interina no cargo desde o início do ano.
Figura
histórica ligada ao Partido dos Trabalhadores, o professor e pesquisador
presidiu o Instituto Lula e a Fundação Perseu Abramo (fundação do PT voltada a
elaboração de estudos, debates e pesquisas). De 2007 a 2012, comandou o
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Pochmann é
membro da corrente de economistas ligada à Universidade de Campinas (Unicamp),
caracterizada pela defesa do desenvolvimentismo econômico e da indústria
nacional. Ele acumula pesquisas nas áreas de desenvolvimento, políticas públicas
e relações de trabalho.
Edição:
Maria Claudia