Cortes de juros podem gerar economia de até R$ 100 bilhões em 2024 nos gastos do governo, estimam economistas
Cortes de juros podem gerar economia de até R$ 100 bilhões em 2024 nos gastos do governo, estimam economistas
Isso possibilita um crescimento menor na dívida pública brasileira, com impacto nas expectativas do mercado financeiro e dos investidores sobre a sua sustentabilidade.
Por Alexandro Martello, g1
O ciclo de
corte da taxa Selic iniciado nesta semana pelo Banco Central vai gerar uma
economia nos gastos com juros da dívida pública e possibilitar um crescimento
menor na dívida pública brasileira.
A redução de
gastos acontecerá porque mais de 40% da dívida brasileira em títulos públicos,
que somou R$ 6,19 trilhões em junho deste ano, está atrelada aos juros básicos
da economia.
Com isso,
quando os juros caem, ao mesmo tempo também recua a despesa com juros projetada
para os próximos meses.
Além do
impacto direto, as novas emissões de títulos prefixados (cujos juros são
definidos no momento do leilão) também ficarão mais baratas.
De acordo
com Gabriel Leal de Barros, economista da Ryo Asset, a economia com o pagamento
de juros da dívida será de R$ 80 bilhões em 2024.
Esse valor
embute a redução já feita de 0,5 ponto percentual desta semana, para 13,25% ao
ano, além da projeção do mercado de que a taxa vá recuar para 11,75% ao ano no
fim de 2023 (com base em indicações do próprio Banco Central).
“A
importância [do corte de juros para as contas públicas] é grande pelo contágio
da Selic para os demais indexadores da dívida. Cerca de 47% da dívida é
Selicada [indexada ao juro básico da economia], é uma parcela substancial, o
efeito é bastante relevante e imediato”, avaliou o economista Gabriel Leal
de Barros, da Ryo Asset.
Para o
economista-chefe do banco Master, Paulo Gala, considerando o corte de dois
pontos percentuais nos juros neste ano, projetado pelo mercado, a economia
seria justamente de R$ 80 bilhões em 2024.
Se o cálculo
incluir uma queda maior, para até 9% ao ano na Selic, projetada para ocorrer no
decorrer do próximo ano, o valor da economia sobe para R$ 100 bilhões no ano
que vem, estimou o analista.
“A
dívida pública vai crescer a uma taxa menor [com a despesa mais baixa com
juros]. Isso também ajuda muito. O déficit primário [nas contas do governo]
esperado para o ano que vem é de R$ 100 bilhões. Daria praticamente o déficit
esperado para o próximo ano”, declarou Paulo Gala, do banco Master.
Em junho, o
secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, calculou que se a taxa básica de
juros estivesse em 10% ao ano, em vez dos 13,75% ao ano que vigoravam naquele
momento, a economia nos gastos com juros da dívida pública permitiria o pagamento
anual de quase um Bolsa Família. O orçamento do Bolsa Família é de cerca de R$
170 bilhões por ano.
“Não
estou dizendo que deveria ser esse valor [para a taxa Selic, fixada pelo Banco
Central para tentar conter as pressões inflacionárias] mas, se ela fosse, ao
invés de 13,75% [ao ano], fosse 10% [ao ano] a Selic atualmente, você teria
quase um Bolsa Família por ano economizado em termos de juros que estão sendo
pagos na dívida pública”, afirmou ele, naquele momento.
Os gastos
com juros estão no orçamento financeiro, que é diferente do orçamento dos
ministérios (primário). Apesar disso, ambas as despesas, primárias e
financeiras, têm impacto na dívida pública.
O
endividamento do setor público é indicador que é acompanhado com atenção pelo
mercado financeiro e por investidores, pois traz indicativos sobre a capacidade
de pagamento dos países.
Se a dívida
começa a ficar fora de controle, os investidores podem cobrar juros mais altos
na compra de títulos públicos. Com a queda da Selic e a redução dos gastos com
juros, há uma dinâmica melhor para o endividamento brasileiro.
Tamanho da dívida pública
Em junho, a dívida bruta do setor público somou 73,6% do PIB, o equivalente a R$ 7,59 trilhões. Na comparação com o final do ano passado, quando estava em R$ 7,22 trilhões, ou 72,9% do PIB, houve uma alta de 0,7 ponto percentual.
Em doze
meses até junho deste ano, os gastos com os juros da dívida pública somaram R$
638 bilhões, segundo o Banco Central, o equivalente a 6,18% do PIB.
Veja a
estimativa de outros gastos, estes primários (diretos com a população), para
este ano:
Além dos
cortes de juros esperados para os próximos meses, o governo também conta com o
arcabouço fiscal, a nova regra para as contas públicas, para tentar impedir uma
explosão da dívida pública nos próximos anos.
A proposta
de arcabouço fiscal já passou pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal,
mas, para ter validade, ainda depende uma nova votação dos deputados.
O arcabouço
traz uma limitação para as despesas, que não podem ser maiores do que 70% da
alta das receitas, e, também, não podem ter um crescimento maior do que 2,5% ao
ano (em termos reais).
O Tesouro
Nacional tem informado que suas estimativas indicam que, após a aprovação do
arcabouço fiscal pelo Congresso Nacional, a dívida se estabilizará abaixo de
80% do PIB até 2026 e continuará sua trajetória queda nos anos seguintes.
Analistas do
mercado financeiro estimaram no mês passado, entretanto, que a dívida pública
brasileira deve atingir 91,8% do PIB em 2032.
Acima de 90%
do PIB, a dívida brasileira poderá superar o patamar da União Europeia, das
nações emergentes e estar bem acima do estimado pelo Fundo Monetário
Internacional (FMI) para a América Latina. As previsões, entretanto, vão
somente até 2027.