Antes de ser morto, Villavicencio disse ‘não ter medo de chefes do tráfico’; entenda por que Equador é cobiçado pelo crime organizado
Antes de ser morto, Villavicencio disse 'não ter medo de chefes do tráfico'; entenda por que Equador é cobiçado pelo crime organizado
Candidato à presidência do Equador defendia propostas para endurecer as regras do sistema prisional e do combate ao narcotráfico e à corrupção. Atentado deixa recado a demais políticos na região, analisa Thiago Rodrigues.
Por g1 11/08/2023 05h01 - Atualizado há 4 horas
Assassinado
a tiros ao deixar um comício em Quito na noite de quarta-feira (9), o candidato
à presidência do Equador Fernando Villavicencio havia desafiado publicamente o
narcotráfico durante um discurso em palanque.
No dia
seguinte ao assassinato, a facção criminosa conhecida como “Los
Lobos” – considerada a segunda maior do país – teria alegado responsabilidade
pela execução do candidato.
O atentado
deixa recado ao demais candidatos à presidência do Equador e reflete a força do
crime organizado na região. É o que explica Thiago Rodrigues, autor do livro
“Política e drogas nas Américas: uma genealogia do narcotráfico” em entrevista
a Natuza Nery.
“Villacencio
já vinha sofrendo ameaças de assassinato porque o discurso dele tinha esse
elemento anticorrupção. Ele também dizia que faria uma grande reforma do
sistema penitenciário, de modo a evitar que os chefes do narcotráfico
conseguissem operar de dentro do sistema penitenciário.”
O Equador na rota do narcotráfico
“O
Equador não é um grande produtor de cocaína”, ressalta Rodrigues. Embora
seja a Colômbia a principal produtora de cocaína do mundo, o professor no
Instituto de Estudos Estratégicos da UFF explica que o Equador se tornou uma
cobiçada porta de saída da cocaína em direção aos Estados Unidos e à Europa.
Rodrigues
atribui a projeção do narcotráfico equatoriano:
– ao aumento
da demanda da cocaína no narcotráfico mundial;
– às
políticas de combate ao narcotráfico na Colômbia, que causaram a fragmentação
de grupos criminosos no país e resultaram no fortalecimento dos cartéis no
México.
“Nos últimos
cinco ou seis anos, a situação de violência no Equador tem crescido muito
porque coincide com a reestruturação do narcotráfico mexicano”, detalha.
“A cocaína colombiana, peruana e grupos mexicanos passaram a ter
representações locais ou fazer alianças locais para poder usar esse corredor
equatoriano.”
Quem foi Fernando Villavicencio
Jornalista investigativo e líder sindical, o político tinha 59 anos e se declarava defensor de causas indígenas e trabalhistas. Em 2014, chegou a receber asilo político no Peru após acusar o ex-presidente Rafael Correa de crimes contra a humanidade.