Morre indígena baleado por garimpeiros em Roraima
Morre indígena baleado por garimpeiros em Roraima
Ataque também matou agente de saúde e feriu outro indígena.
Publicado em 21/08/2023 - 11:21 Por Letycia Bond - Repórter da Agência Brasil - São Paulo
O indígena
Venâncio Xirixana morreu neste domingo (20), no Hospital Geral de Roraima, após
ser baleado em um ataque de garimpeiros à comunidade Uxiú, no Alto Mucajaí, na
Terra Indígena Yanomami, em Roraima, em 29 de abril deste ano. Os tiros
atingiram a vítima na região do intestino, desencadeando uma infecção, segundo
informações da Associação Indígena Ninam (Taner) e da Hutukara Associação
Yanomami (HAY).
A investida
dos garimpeiros, segundo as entidades, também resultou na morte do agente de
saúde indígena Ilson Xirixana, que não resistiu após levar um tiro na cabeça.
Uma terceira pessoa, cujo nome não foi divulgado, também foi ferida por arma de
fogo, mas sobreviveu.
As
lideranças yanomami reclamam a elucidação do caso e a responsabilização do
grupo que organizou o ataque à comunidade. “Não aguentamos mais ver o
nosso sangue derramado dentro do nosso território por invasores, que além de
roubarem as nossas riquezas, devastam, contaminam e nos matam. A dor do nosso
povo é muito grande. Esse caso não pode ser esquecido, não pode ser só mais um.
Queremos justiça! E mais uma vez reiteramos aos órgãos públicos a urgência da
saída dos garimpeiros da nossa Terra-Floresta. Chega de mortes!”, apelam as
entidades.
Histórico
No início
deste mês, a HAY, a Associação Wanasseduume Ye’kwana (SEDUUME) e a Urihi
Associação Yanomami lançaram, em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA),
o relatório Nós Ainda Estamos Sofrendo, que aponta que algumas medidas do poder
público geraram resultados, mas que parte dos garimpeiros têm retornado ao
território yanomami por via fluvial. Os invasores, relatam as lideranças, têm
permanecido em pontos como Papiu, Parafuri, Xitei e Homoxi, próximos das
aldeias e chegam em voos regulares de helicóptero.
Neste mês de
agosto, completa 30 anos o episódio que ficou conhecido como Massacre de
Haximu, o primeiro e único caso reconhecido pela Justiça brasileira como um
crime de genocídio na história do país.
A chacina
ocorreu em 1993, quando garimpeiros ilegais do Alto Orinoco descumpriram um
acordo feito com os yanomami que viviam em uma região montanhosa de fronteira
entre o Brasil e a Venezuela. No dia 15 de junho, sete garimpeiros convidaram
seis indígenas para caçar e executaram quatro deles durante o percurso.
Em
retaliação, os yanomami assassinaram um dos garimpeiros. Pouco mais de um mês
se passou e, no dia 23 de julho, um grupo de garimpeiros invadiu a aldeia, onde
estavam alguns yanomami – a maioria, mulheres e crianças –, e mataram a tiros e
golpes de facão 12 yanomami. As vítimas foram um homem, uma mulher, três
adolescentes, duas idosas, quatro crianças e um bebê.
O Ministério
da Justiça e Segurança Pública disse, em nota, que lamenta profundamente a
morte de Venâncio Xirixana e reitera o esforço e o compromisso para fortalecer
a segurança no território indígena Yanomami, com o objetivo de impedir que
novos confrontos aconteçam.
“Atualmente,
196 agentes da Força Nacional atuam em diversas áreas da TIY em Roraima,
reforçando o efetivo de segurança e em apoio a outros órgãos federais, como
Polícia Federal, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama) e Fundação dos Povos Indígenas (Funai). O contingente
empregado em cada área obedece ao planejamento do órgão apoiado”,
acrescentou a pasta.
* Matéria
alterada às 12h55 para acrescentar nota do Ministério da Justiça e Segurança
Pública.
Edição:
Fernando Fraga