Após decisão de Toffoli, Moro defende Lava Jato, e Dino diz que Lula foi julgado ‘indevidamente’
Após decisão de Toffoli, Moro defende Lava Jato, e Dino diz que Lula foi julgado 'indevidamente'
Ministro do STF anulou provas obtidas no acordo de leniência da Odebrecht por entender que elas foram obtidas ilegalmente, e disse que prisão de Lula foi 'armação'. Também determinou investigação sobre envolvidos. Para Deltan Dallagnol, anulação faz 'corrupção compensar'.
Por Pedro Alves Neto
Autoridades
e políticos se manifestaram nesta quarta-feira (6) sobre a decisão do ministro
do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli que anulou todas as provas
obtidas no acordo de leniência da construtora Odebrecht, no âmbito da Operação
Lava Jato.
Na decisão,
Toffoli disse que as provas foram obtidas ilegalmente e que a prisão do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela operação foi uma
“armação”, e um dos “maiores erros jurídicos da história”.
Confira a
repercussão:
Sergio Moro:
Em uma rede
social, o senador e ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro (União-PR) defendeu a
operação e disse que as ações da força-tarefa da Lava Jato seguiram a lei.
“A
corrupção nos Governos do PT foi real, criminosos confessaram e mais de seis
bilhões de reais foram recuperados para a Petrobras. Esse foi o trabalho da
Lava Jato, dentro da lei, com as decisões confirmadas durante anos pelos Tribunais
Superiores”, escreveu.
“Os
brasileiros viram, apoiaram e conhecem a verdade. Respeitamos as instituições e
toda a nossa ação foi legal. Lutaremos, no Senado, pelo direito à verdade, pela
integridade e pela democracia. Sempre!”, continuou.
Flávio Dino, ministro da Justiça:
“A
decisão do ministro Toffoli tem dois alcances: um de natureza jurídica,
reafirmando a inocência do presidente Lula, indevidamente julgado sem o devido
processo legal; o outro é de natureza política, na medida em que fica o
registro dos absurdos perpetrados em uma página trevosa da nossa História.
Quando o Ministério da Justiça receber oficialmente a decisão, enviarei à
Polícia Federal para cumprimento da determinação de apuração de
responsabilidade criminal de agentes públicos.”
Deltan Dallagnol, ex-coordenador da
força-tarefa da Lava Jato no MPF
“O
maior erro da história do país não foi a condenação do Lula, mas a leniência do
STF com a corrupção de Lula e de mais de 400 políticos delatados pela
Odebrecht. A anulação da condenação e do acordo fazem a corrupção compensar no
Brasil. E, se tudo foi inventado, de onde veio o dinheiro devolvido aos cofres
públicos? E, com a anulação do acordo, os 3 bilhões devolvidos ao povo serão
agora entregues novamente aos corruptos? Os ladrões comemoram enquanto quem fez
a lei valer é perseguido.”
Carlos Jordy (PL-RJ), líder da Oposição
na Câmara dos Deputados:
“Toffoli
determina a anulação de todas provas de corrupção contra Lula obtidas no acordo
de leniência da Odebretch. Agora só falta mandar o estado brasileiro ressarcir
o dinheiro da corrupção devolvido por empreiteiras. É isso que acontece quando
se indica um amigo pro Supremo.”
Carlos Zarattini (PT-SP), Vice-líder
do governo Lula no Congresso Nacional:
“VERDADE
DOS FATOS: Ministro do STF, Dias Toffoli, anulou todas as provas do acordo de
leniência da Odebrecht e afirmou que prisão de Lula foi fruto de ARMAÇÃO. Mais
uma decisão que comprova de forma irrefutável, que Lula foi alvo de uma ação
criminosa para impedir que ele fosse candidato. Lula é INOCENTE e ficou 580
dias na prisão sem ter cometido nenhum crime.”
Gleisi Hoffmann (PT-RS), deputada e
presidente do PT:
“Decisão
exemplar do ministro Toffoli confirma o que sempre dissemos sobre a farsa da
Lava Jato. Cedo ou tarde a verdade sempre vence. Os q mentiram, falsificaram
provas, arrancaram depoimentos à força terão, agora, de responder por seus
crimes. A história segue restabelecendo a Justiça sobre a maior armação
judicial e midiática que já se fez contra um grande líder.”
Questionamento sobre provas
Na decisão
que invalidou as provas obtidas pelo acordo de leniência da Odebrecht, o
ministro Dias Toffoli afirma que tudo indica que elas foram alcançadas “às
margens” da lei, e não somente as referentes ao presidente Lula, mas em
todos os casos que se basearam nesses elementos.
“Razão
pela qual o reconhecimento da referida imprestabilidade [anulação das provas]
deve ser estendido a todos os feitos [processos] que tenham se utilizado de tais
elementos, seja na esfera criminal, seja na esfera eleitoral, seja em processos
envolvendo ato de improbidade administrativa, seja, ainda, na esfera
cível”, afirma.
As
conclusões do ministro sobre a obtenção irregular das provas têm como base
mensagens apreendidas na operação Spoofing – que apurou o vazamento de
conversas de autoridades envolvidas na Lava Jato, como procuradores da
força-tarefa do Ministério Público e o ex-juiz Sergio Moro.
As conversas
mostram Moro e integrantes do Ministério Público supostamente combinando
procedimentos em processos da operação. O material foi obtido pelo hacker
Walter Delgatti Neto.
Na decisão,
Toffoli diz que, apesar da invalidação de provas, cabe aos juízes responsáveis
pelos processos abertos com base no acordo de leniência da Odebrecht decidir
sobre arquivamentos.
O ministro
também dá prazo de 10 dias para que a 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável
pela Lava Jato, e o Ministério Público Federal no Paraná apresentem o conteúdo
integral de todos os documentos relacionados ao acordo de leniência da
Odebrecht.
Ele ainda
encaminha as investigações à Procuradoria-Geral da República, à Advocacia-Geral
da União, ao Ministério das Relações Exteriores, ao Ministério da Justiça, à
Controladoria-Geral da União, ao Tribunal de Contas da União, à Receita
Federal, ao Conselho Nacional de Justiça e ao Conselho Nacional do Ministério
Público para que:
– identifiquem
e informem eventuais agentes públicos que atuaram e praticaram os atos
relacionados ao referido Acordo de Leniência, sem observância dos procedimentos
formais;
– adotem
medidas necessárias para apurar responsabilidades não apenas na seara
funcional, como também nas esferas administrativa, cível e criminal,
consideradas as gravíssimas consequências dos atos referidos acima para o
Estado brasileiro e para centenas de investigados e réus em ações penais, ações
de improbidade administrativa, ações eleitorais e ações civis espalhadas por
todo o país e também no exterior
Prisão de Lula foi ‘armação’, diz
Toffoli
No
documento, de 135 páginas, o ministro do Supremo afirma que, diante de
“situações estarrecedoras” verificadas nos processos e de outras
decisões já tomadas pelo STF, a prisão do presidente Lula “até poder-se-ia
chamar de um dos maiores erros judiciários da história do país”.
“Na
verdade, foi muito pior. Tratou-se de uma armação fruto de um projeto de poder
de determinados agentes públicos em seu objetivo de conquista do Estado por
meios aparentemente legais, mas com métodos e ações contra [a lei]”,
afirmou Toffoli em um trecho da decisão.
Ele também
diz que a prisão do petista “foi o verdadeiro ovo da serpente dos ataques
à democracia e às instituições que já se prenunciavam em ações e vozes desses
agentes contra as instituições e ao próprio STF”.
Lula foi
preso em abril de 2018 e permaneceu detido por um 1 ano e 7 meses em Curitiba,
após ser condenado a 8 anos e 10 meses de prisão por corrupção e lavagem de
dinheiro, no caso do triplex em Guarujá (SP). O processo foi baseado em
informações obtidas na delação premiada de executivos da OAS.
O presidente foi solto em 2019, depois que STF decidiu derrubar a possibilidade de prisão de condenados em segunda instância. Em abril de 2021, o Supremo anulou todas as condenações impostas a Lula pela Justiça Federal do Paraná no âmbito da Lava Jato.