Geração eólica no mar pode acelerar transição energética no Brasil
Geração eólica no mar pode acelerar transição energética no Brasil
Fonte renovável ampliará capacidade do país em 3,6 vezes, estima CNI.
Publicado por Bruno de Freitas Moura - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
Em algumas
regiões do país, mais notadamente nas dunas do Nordeste, grandes turbinas
eólicas fazem parte da paisagem. Essas espécies de ventiladores gigantes são
geradoras de energia elétrica a partir da força dos ventos. Se depender do que
aponta uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), essas
estruturas vão ser mais comuns também na paisagem marítima, com usinas eólicas
offshore (fora de terra firme), com a vantagem de explorar ventos mais constantes
e com maiores velocidades.
Essa nova
fronteira de geração de energia limpa pode fazer o Brasil aumentar em 3,6 vezes
a capacidade total de produção de energia elétrica e potencializar a transição
para um mundo com cada vez mais combustíveis renováveis.
O cenário é
traçado pelo estudo Oportunidades e Desafios para Geração Eólica Offshore no
Brasil e a Produção de Hidrogênio de Baixo Carbono, elaborado pela Confederação
Nacional da Indústria (CNI), lançado nesta terça-feira (12), em Brasília, no
evento Diálogo Pré-COP 28: O Papel da Indústria na Agenda de Clima.
O encontro
tem a participação de representantes do setor produtivo, governo e sociedade
civil para debater assuntos da Conferência da ONU sobre Mudanças Climática
(COP), que será realizada em Dubai, Emirados Árabes Unidos, entre 30 de
novembro e 12 de dezembro.
Potencial de geração
De acordo com o estudo, em 2021, o mundo tinha capacidade instalada para a geração de 55,9 gigawatt (GW) por meio de usinas eólicas offshore, basicamente na China e na Europa. A estimativa é que o parque eólico offshore global alcance o patamar de 260 GW em 2030 e 316 GW dez anos depois. Para isso, estão previstos investimentos de até US$ 1 trilhão.
O
levantamento da CNI aponta que o Brasil tem grande potencial ainda inexplorável
com capacidade de chegar a 700 GW, ou seja, 3,6 vezes a capacidade total de
energia elétrica já instalada e conectada ao Sistema Interligado Nacional (194
GW). Porém, o estudo não indica quando o Brasil alcançará esse patamar. Até 30
de agosto, havia no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) 78 pedidos de licenciamento para usinas eólicas no
mar, somando potencial de geração de 189 GW.
Transição energética
A inclusão
dessa energia limpa na matriz energética brasileira é vista como ponto
primordial para o Brasil perseguir o Acordo de Paris – tratado sobre mudanças
climáticas assinado por 195 países e adotado em 2015. Nele, o Brasil se
comprometeu a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025 e
em 50% até 2030, tendo como base as emissões de 2005. Além disso, no ano passado,
o país assumiu o compromisso de alcançar emissões líquidas neutras até 2050, ou
seja, não contribuir para o efeito estufa, tanto diminuindo as emissões, quanto
capturando carbono da atmosfera.
“A eólica
offshore vem para somar rumo a essa expansão de renováveis e com o objetivo de
manter a matriz energética elétrica do Brasil cada vez mais limpa e
sustentável”, avalia o gerente executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da
CNI, Davi Bomtempo.
O
levantamento identificou que as regiões do litoral brasileiro com maior
potencial para a geração estão na costa nordestina, entre Piauí, Ceará e no Rio
Grande do Norte; entre os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, no
Sudeste; e na Lagoa dos Patos, litoral do Rio Grande do Sul.
Hidrogênio verde
Se o Brasil
viabilizar a geração de todo o potencial apontado no estudo da CNI, o país terá
excesso de energia. Além de deixar a matriz energética mais limpa e
sustentável, haverá a chance de vender o superávit para outros países, assim
como avançar na chamada economia do hidrogênio de baixo carbono.
O hidrogênio
verde, como também é conhecido, é produzido a partir das fontes renováveis de
energia, como a eólica, e pode ser utilizado como combustível em setores
intensivos de consumo energético, como o petroquímico, siderúrgico e de
cimento. Outra utilização do hidrogênio verde é na fabricação de fertilizantes,
produto muito importado pelo Brasil.
Como o
hidrogênio tem grande desempenho comparado às baterias convencionais utilizadas
na indústria de veículos elétricos, pode ganhar cada vez mais escala na nova
indústria automotiva.
Outra
característica do hidrogênio é a capacidade de poder armazenar energia. Isso
permitiria ao sistema de geração e transmissão de energia elétrica do país
manejar mais adequadamente a oferta de acordo com a demanda. De acordo com a
CNI, isso reforça a ideia de que a economia do hidrogênio de baixo carbono é
potencial consumidora do combustível limpo gerado pelas eólicas.
Competidor global
O fato de o
Brasil ser visto pela CNI como forte competidor no mercado global de energia
eólica offshore fez com que a confederação tratasse o tema como prioridade no
plano de retomada da indústria, apresentado ao governo federal neste ano.
“A
consolidação dessa cadeia de valor no Brasil pode impulsionar a economia e
facilitar a retomada da industrialização. Além de oferecer uma fonte de energia
limpa e renovável, o setor deve gerar
empregos, estimular o desenvolvimento tecnológico e científico, reduzir a
dependência de fontes não renováveis e colaborar para a segurança energética do
país”, diz o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
A
possibilidade de exportar o hidrogênio verde para outros países, especialmente
do Hemisfério Norte, é um dos fatores que favorecem a instalação de eólicas offshore
na costa norte nordestina, pela proximidade de portos que fariam esse comércio.
“A vocação
principal da região Nordeste para produção de hidrogênio de baixo carbono e
seus derivados seria para exportação para o continente europeu. A distância entre
o Porto do Pecém (São Gonçalo do Amarante-CE) e o Porto de Rotterdam, na
Holanda, é cerca de 7,5 mil quilômetros ou de nove dias por transporte
marítimo”, cita o documento.
Licenciamento
Quando o
assunto é licenciamento ambiental, são levadas em conta questões como processos
migratórios de aves e espécies marinhas. A CNI acrescenta preocupações com os
múltiplos usos do espaço oceânico, como pesca, navegação, turismo e a extração
de óleo e gás. O documento explica que a complexidade logística e os custos
associados à instalação e à manutenção de parques eólicos offshore requerem
aportes significativos e um ambiente regulatório favorável.
O Decreto
10.946, de janeiro de 2022, regulamenta a cessão de uso de espaços físicos e o
aproveitamento dos recursos naturais em águas da União para o desenvolvimento
da energia elétrica a partir de empreendimento offshore. Mas, segundo a CNI,
não é suficiente para trazer segurança jurídica aos investidores. A
confederação lembra que tramita no Congresso Nacional um projeto de lei que
regulamenta o modelo de cessão de áreas, a cobrança de outorgas e os critérios
para a realização dos leilões, como funciona na indústria do petróleo.
Davi
Bomtempo defende a criação de um marco regulatório das eólicas offshore. “É
importante para orientar todo o desenvolvimento dessa atividade.”
Experiência no offshore
A CNI observa que a tendência é que os projetos de geração eólica offshore sejam implementados em locais cada vez mais distantes da costa, o que representa desafios e oportunidades para empresas que atuam no mercado de óleo e gás no Brasil, “devido a sua expertise em operações realizadas em águas profundas”.
A Petrobras
indica ter interesse nesse desafio. Em março, a estatal firmou uma parceria com
a multinacional norueguesa Equinor para avaliar sete projetos de eólica
offshore no Brasil, com potencial para gerar até 14,5 GW.
“Esse acordo
vai abrir caminhos para uma nova fronteira de energia limpa e renovável no
Brasil, aproveitando o expressivo potencial eólico offshore do nosso país e
impulsionando nossa trajetória em direção à transição energética”, disse à
época o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.
Edição:
Juliana Andrade