Mãe e três filhos são feitos reféns por 8h em Salvador; grupo transmitiu ação em ‘live’
Mãe e três filhos são feitos reféns por 8h em Salvador; grupo transmitiu ação em 'live'
Caso aconteceu na noite de domingo (24). Vítimas foram resgatadas sem ferimentos e suspeitos presos no início da manhã desta segunda-feira (25).
Por g1 BA e TV Bahia
Uma mulher e
três filhos foram mantidos reféns por sete homens armados desde a noite de
domingo (24), no bairro de Dom Avelar, em Salvador. As vítimas foram resgatadas
após oito horas, sem ferimentos, no início da manhã desta segunda-feira (25).
Seis suspeitos foram presos, e um adolescente de 16 anos apreendido, segundo
informações do tenente coronel da PM, Agnaldo Alves Ceita.
De acordo com
a Polícia Militar, os homens e o adolescente invadiram o imóvel por volta das
22h30, na rua Sacramentinas, depois que trocaram tiros e foram perseguidos por
policiais da Rondas Especiais (Rondesp). Em alguns momentos, os suspeitos
transmitiram o sequestro nas redes sociais. A polícia, no entanto, não detalhou
o que os suspeitos disseram na “live”.
Durante a
madrugada, o grupo liberou uma das vítimas, adolescente, com a chegada de um
advogado. O resgate da dona da casa e dos outros filhos aconteceu às 6h30 após
longa negociação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar
da Bahia.
Mesmo sem
ter tido ferimentos, a família foi levada para uma unidade de saúde. Os
suspeitos, que também estavam com drogas, se renderam e foram levados para a
Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o
Adolescente (Dercca), porque havia menores de idade entre as vítimas, e depois
serão encaminhados para a Central de Flagrantes.
Um dos
suspeitos usava tornozeleira eletrônica. A Polícia Civil informou que ao menos
três pistolas, munições e celulares foram apreendidos.
Ocorrências
de cárcere privado com transmissão ao vivo pela internet têm acontecido com
frequência na Bahia. Criminosos em fuga invadem casas e fazem moradores reféns.
Somente em
Salvador, de janeiro até 11 de setembro deste ano, 17 casos de sequestro foram
registrados, de acordo com o Bope.
Até três
anos atrás, era comum os suspeitos entrarem nas casas dos reféns e pedirem a
presença da imprensa, familiares e advogados para negociarem rendição. No
entanto, os criminosos passaram a utilizar as mídias sociais.
O primeiro
caso de cárcere privado transmitido ao vivo no estado foi registrado em 2021,
no bairro de Amaralina, pelo Bope. A partir deste sequestro, o modelo se tornou
comum e passou a ser usado nas negociações com a polícia.
Os bairros
de Tancredo Neves e Engomadeira concentram 90% dos casos. Em 2023, os
criminosos também fizeram reféns nas localidades de Águas Claras e Uruguai. Nos
últimos três anos, três ocorrências desse tipo foram registrados no interior do
estado.
O
coordenador do Observatório de Segurança da Bahia, Dudu Ribeiro, acredita que é
importante a responsabilização das empresas responsáveis pelas plataformas
digitais no gerenciamento dos conteúdos e a regulação das mídias.
“Nós
estamos falando de um cenário que há altíssima letalidade promovida pelos
agentes da segurança. Então, existe também um movimento de auto proteção quando
se constrói essas ações virtuais”, disse Dudu Ribeiro.
Luiz Henrique
Pires, Major da Polícia Militar, fez uma alerta e informou que acompanhar esse
tipo de transmissão não é crime, mas é monitorada pelo Bope e isso pode gerar
momentos de tensão. Ele acredita que isso pode dificultar a rendição dos
criminosos.
“Já tivemos
ocorrências com lives com quase 5 mil pessoas. Isso gera um aumento do nível de
estresse e engajamento dos causadores do cárcere privado porque eles acreditam
que está aumentando o nível de visualizações”, relatou o policial.
Para o
advogado criminalista Luiz Requião, as transmissões não deveriam ser vistas e
compartilhadas pela população porque, para ele, isto aumenta a sensação de medo
proporcionada pelos criminosos.
“Quanto
mais você compartilha, divulga e encaminha para outras pessoas este objetivo
está sendo cumprido. Isto é uma tática de guerrilha. É você inserir o medo na
pessoa. Quanto mais medo eu conseguir inserir, mais poder eu tenho”, disse
o advogado.