Reforma tributária: relator mantém ‘cesta básica nacional’ com imposto zero e cria lista adicional com tributo reduzido
Reforma tributária: relator mantém 'cesta básica nacional' com imposto zero e cria lista adicional com tributo reduzido
Segundo o relator da reforma tributária no Senado, Eduardo Braga, a cesta básica nacional, com tributo zero, 'não pode ter caviar e salmão'. Definição de produtos com isenção será feita somente em lei complementar.
Por Alexandro Martello, Ana Paula Castro, g1 e TV Globo — Brasília
O relator da
reforma tributária no Senado Federal, Eduardo Braga (MDB-AM), informou nesta
quarta-feira (25) que alterou a proposta para a cesta básica.
O texto que
foi aprovado pela Câmara dos Deputados previa apenas a criação de uma
“cesta básica nacional de alimentos” – com alíquota zero, ou seja,
isenta de tributos.
Já o
relatório de Eduardo Braga, apresentado nesta quarta-feira, manteve a cesta
básica nacional, com tributação zero, e incluiu também um novo conceito — a
chamada “cesta básica estendida”. Nesse caso, os produtos lá incluídos
pagarão 40% do imposto cobrado dos demais setores da economia.
O senador Eduardo Braga explicou que a mudança decorre do fato de que havia uma pressão para incluir muitos produtos na cesta básica nacional, que será isenta dos impostos sobre o consumo.
Por isso,
optou por cria uma lista adicional, que terá um tributo reduzido, deixando a
cesta básica nacional (com isenção) para uma lista restrita de itens.
“Essa
cesta vai ter limitação de itens, restrições de quantidade de itens, pois
percebi que aquela ideia da cesta com alíquota zero, todo mundo quer colocar
agora produto na alíquota zero. E a cesta que corretamente é cesta para o
enfrentamento da fome estava tentando se transformar em uma cesta de 300 itens,
o mesmo erro de hoje”, explicou o senador Eduardo Braga.
Segundo ele,
a cesta básica nacional, com tributo zero, “não pode ter caviar e
salmão”.
“Vai
ter limitação de produtos, mas vai ser definido na lei complementar. Mas já
estamos dando um indicativo de que ela será restritiva. Vai ter açúcar, sal,
café, óleo, arroz, feijão, uma proteína animal”, acrescentou.
O relator
disse que também haverá “cashback”, ou seja, devolução de parte dos
impostos pagos pela população de baixa renda, na compra de produtos da cesta
básica estendida.
A definição
de quais produtos entrarão na cesta básica nacional, com alíquota zero, e também
na lista estendida, porém, ocorrerá somente por meio de lei complementar – após
a eventual aprovação da PEC da reforma tributária pelo Legislativo.
Entenda a discussão
Na cesta
básica, atualmente, não há cobrança de impostos federais (PIS/Pasep, Cofins e
IPI).
Hoje,
alimentos naturais (como frutas, carnes e hortaliças) ou de baixo processamento
(como queijos, iogurtes e pães) e alguns produtos de higiene e limpeza já são
isentos dos impostos federais (PIS, Cofins e, para industrializados, IPI).
Cada estado,
no entanto, define uma alíquota de ICMS para cada uma dessas categorias. Essas
alíquotas são zeradas para alguns produtos em alguns estados, mas podem chegar
a até 33% segundo levantamento da Associação Brasileira de Supermercados
(Abras).
Quanto a uma
lista nacional de itens, sabe-se que há uma relação elaborada pela Associação
Brasileira de Supermercados (Abras) que está em análise no Ministério da Fazenda
e no gabinete de Ribeiro.
A relação
tem 34 itens e inclui produtos que, hoje, não são considerados “cesta
básica” no país – água sanitária, absorvente íntimo e fralda descartável,
por exemplo. Veja a seguir:
Alimentação:
carne bovina, carne de frango, carne suína, peixe e ovos; farinhas de trigo, de
mandioca e de milho, massas alimentícias e pão francês; leite UHT, leite em pó,
iogurte, leite fermentado, queijos, soro de leite e manteiga; frutas, verduras
e legumes; arroz, feijão e trigo; café, açúcar, óleo de soja, óleo vegetal e
margarina.
Higiene
pessoal: sabonete, papel higiênico, creme dental, produtos de higiene bucal,
fralda descartável e absorvente higiênico.
Limpeza:
detergente, sabão em pó e água sanitária.
O presidente
da Abras, João Galassi, afirma que a reforma aprovada pela Câmara previa
isenção de itens que não estão na nova versão – por exemplo, hortifruti e ovos.
“Tínhamos
expectativa de uma cesta nacional de alimentos isenta composta com carnes,
proteína animal, peixes, e outros produtos, e me parece que há um pensamento de
reduzir os alimentos que hoje já são isentos com PIS/Cofins, e na maioria dos
estados eles também já tem isenção, ou redução grande”, declarou.
Ele também criticou o uso do “cashback”. Galassi avaliou que esse mecanismo deixará “muita gente” de fora do seu uso, pois beneficiará apenas a faixa de pobreza. “Deveríamos de fato ter a isenção da cesta básica sem a questão do cashback”, disse.