Guerra Israel-Hamas: como foram as negociações para libertar reféns que envolveram 4 países
Guerra Israel-Hamas: como foram as negociações para libertar reféns que envolveram 4 países
Além de Israel e do Hamas, participaram dos esforços EUA, Catar e Egito.
Por BBC
Logo após os
ataques de 7 de outubro contra Israel, foi criado uma célula secreta para
trabalhar na libertação dos cerca de 240 reféns capturados pelo Hamas.
Foi assim
que começou o “processo extremamente excruciante de cinco semanas”
envolvendo quatro países, coordenação entre especialistas em espionagem e
ligações presidenciais de alto risco, segundo uma fonte da Casa Branca.
Esse
processo resultou no acordo entre Israel e Hamas para libertar 50 mulheres e
crianças israelenses durante uma pausa de quatro dias nos combates em troca de
150 prisioneiros palestinos, também mulheres e crianças.
Quando o
acordo foi anunciado, o responsável pelas negociações deu detalhes a jornalistas
sobre como tudo aconteceu.
O Catar
liderou os esforços, disse ele, aproximando-se de Israel e dos EUA com uma
proposta para estabelecer uma célula que trabalharia de forma silenciosa e
intensa na questão.
Doha atuou
como principal canal para o Hamas, mas o Egito também fez parte do complexo
acordo de negociação.
O primeiro avanço ocorreu em 23 de outubro, quando o Hamas libertou duas mulheres americanas. Esse foi o projeto “piloto” que “comprovou o conceito”, disse o responsável.
Depois
disso, os esforços para uma etapa mais ampla de negociação começaram.
Israel
delegou o chefe da Mossad, David Barnea, como seu negociador. Ele atuou e
manteve contato regular com o chefe da CIA, Bill Burns, sobre os contornos de
um acordo.
O processo
foi demorado porque as mensagens tiveram de ser passadas de Doha ou do Cairo
para o Hamas em Gaza — e posteriormente respondidas seguindo o caminho inverso.
As conversas
também foram altamente técnicas, elaborando meticulosamente detalhes sobre
corredores para a passagem dos reféns, vigilância, prazos e números de pessoas
libertadas.
A fonte do governo
americano disse que o presidente dos EUA, Joe Biden, estava “direta e
pessoalmente” engajado na libertação dos sequestrados, convocando os
líderes de Israel e do Catar em momentos críticos.
Biden viu um
acordo de reféns como o “único caminho realista para garantir uma pausa
humanitária de vários dias nos combates”, disse.
Segundo ele,
os israelenses deixaram claro que não iriam parar a sua ofensiva por nenhum
outro motivo.
Esse cálculo
faz parte do acordo, que propõe prolongar a suspensão das hostilidades se o
Hamas libertar mais reféns.
“Também
temos confiança de que enquanto estivermos no período de pausa, mais mulheres e
crianças vão aparecer”, acrescentou.
Um dos pontos
críticos foi a inabilidade do Hamas de identificar claramente quem estaria no
grupo inicial de 50 reféns libertados.
Essa
informação só foi conhecida de fato quando o presidente Biden ligou para o emir
do Catar e disse que, sem esses detalhes, o acordo seria rompido, segundo conta
a fonte da administração americana.
Mas, no
momento em que o pacto parecia prestes a ser concluído, em meados de novembro,
o processo estagnou.
Segundo a
fonte, isso aconteceu porque as comunicações com o Hamas “ficaram obscuras”.
Ele não deu
mais detalhes, mas foi também nessa época que Gaza ficou sem combustível.
O
funcionário disse que após as comunicações serem restauradas ainda demorou
algum tempo para resolver as lacunas no acordo, que é extremamente detalhado
devido ao alto nível de desconfiança de Israel e dos EUA em relação ao Hamas.
A fonte
americana evitou responder perguntas sobre se o acordo de reféns e o canal de
negociações poderiam oferecer um caminho para acabar com a guerra.
Mas segundo
ele, no que diz respeito aos reféns, “o que acabei de descrever nas
últimas cinco semanas não vai parar. À medida que passamos por esta fase
inicial, estamos determinados a levar todos para casa”.
O acordo
Segundo um
comunicado divulgado pelo governo israelense, em uma primeira leva, 50 reféns —
crianças e mulheres — serão soltas durante quatro dias. Enquanto isso, o
conflito será pausado temporariamente.
“A
soltura adicional de cada grupo de 10 reféns resultará em um dia adicional na
pausa”, diz um trecho do comunicado de Israel.
Israel
libertará, então, 150 palestinos. Em seguida, Israel se comprometeu a libertar
“até” mais 150 palestinos detidos se “até” mais 50 reféns
forem libertados de Gaza.
Israel
divulgou uma lista de 300 palestinos que poderiam ser libertados na troca.
A maioria
tem 17 ou 18 anos, variando a idade geral entre 14 e 59 anos. Segundo foi
informado, 274 dos detidos são homens.
A lista foi
publicada devido a uma formalidade em Israel. Antes de qualquer libertação de
prisioneiros, os cidadãos israelenses devem ter 24 horas para entrar com um
recurso na Suprema Corte israelense.
Segundo
informações obtidas pela BBC, a suspensão dos conflitos deveria começar às 10h
(às 5h no horário de Brasília) desta quinta-feira (23/11), enquanto a troca de
prisioneiros ocorreria por volta do meio-dia.
Uma fonte do
governo israelense, porém, disse que permuta deve ser adiada para sexta
(24/11). Com isso, a ofensiva em Gaza continua.