Butantan iniciará teste pré-clínico de vacina contra Zika em 2024
Butantan iniciará teste pré-clínico de vacina contra Zika em 2024
Imunizante desenvolvido é voltado para gestantes.
Publicado por Paula Laboissière – Repórter da Agência Brasil - Brasília
O Instituto
Butantan anunciou nesta quinta-feira (7) que está desenvolvendo uma vacina
contra o vírus Zika, que pode causar microcefalia em bebês quando a infecção
ocorre durante a gestação. O imunizante é composto pelo vírus inativado,
plataforma classificada pelo instituto como ideal e mais segura para aplicação
em gestantes.
A expectativa
é que os testes em animais tenham início no segundo semestre de 2024. “Os
pesquisadores têm se dedicado ao estudo da vacina desde 2015, quando o Brasil
enfrentou uma epidemia do vírus”, destacou o Butantan. Dados do Ministério da
Saúde mostram que, entre 2015 e 2022, o país registrou quase 1,9 mil casos de
microcefalia congênita.
“Estudos de
prova de conceito feitos em animais, para avaliar a viabilidade do produto, já
mostraram que a vacina é capaz de gerar anticorpos neutralizantes contra o
Zika. A próxima etapa, prevista para agosto de 2024, é fazer testes
pré-clínicos de segurança para verificar a tolerabilidade e possíveis reações adversas”,
destacou o Butantan.
“Apesar de
ainda estar em fase inicial, a expectativa em relação à nova candidata a vacina
é positiva. Ela utiliza técnicas clássicas de produção, além de um adjuvante
tradicional, o hidróxido de alumínio (composto responsável por potencializar a
resposta e ajudar a mantê-la a longo prazo). São métodos conhecidos e
considerados seguros pela comunidade científica.”
Vacina
De acordo
com o instituto, o processo de produção do imunizante funciona da seguinte
forma: as células são cultivadas em frascos, multiplicadas em biorreator e
inoculadas com o vírus; depois, o material é filtrado para eliminar
contaminantes celulares. O passo seguinte é a inativação do vírus, utilizando
um reagente químico clássico e, depois, ocorre a purificação. Por fim, o vírus
inativado e purificado é concentrado e formulado. O produto final pode ser
armazenado em refrigeração comum – entre 2 graus Celsius (°C) e 8°C.
Para chegar
a duas formulações adequadas, foram testadas mais de 60 diferentes composições
nos últimos anos. Neste momento, os pesquisadores trabalham na versão final,
que será encaminhada para estudos pré-clínicos. Com a formulação estabelecida,
o produto tem uma estabilidade de 100% por pelo menos quatro meses e atividade
comprovada por até oito meses.
“A
composição final envolve a adição do adjuvante antes do envasamento nos frascos
de vacina, etapa que tende a melhorar ainda mais o perfil de estabilidade do produto”,
destacou o Butantan.
“Vale
ressaltar que, sem o vírus em circulação, não é possível fazer ensaios clínicos
de eficácia (fase 3) para avaliar se os vacinados ficam menos doentes do que os
não vacinados – outro motivo para o estudo estar em estágio inicial. Hoje,
existem dois imunizantes contra o Zika de farmacêuticas estrangeiras sendo
estudados em pacientes, que se encontram nas fases 1 (de análise de segurança)
e 2 (de análise de imunogenicidade, ou seja, capacidade de induzir anticorpos)
de ensaio clínico.”
Microcefalia
A
microcefalia é uma condição em que a cabeça do bebê é muito menor do que o
esperado, exigindo acompanhamento médico para toda a vida. As crianças podem
apresentar convulsões, atrasos no desenvolvimento, deficiência intelectual,
problemas motores e de equilíbrio, dificuldade de se alimentar, perda auditiva
e problemas de visão. Em quadros mais graves, a expectativa de vida pode variar
de alguns meses até 10 anos.
A principal
forma de evitar a doença é eliminar os criadouros do mosquito Aedes aegypti
(transmissor do vírus), ou seja, evitar acúmulo de água parada em vasilhas,
vasos de plantas e pneus velhos; instalar telas em janelas e portas; usar
roupas compridas (calças e blusas) ou aplicar repelente nas áreas do corpo
expostas e dar preferência a locais com telas de proteção e mosquiteiros.
Covid-19
No Brasil, a
epidemia do zika durou aproximadamente um ano, o que, segundo o Butantan,
desacelerou o estudo. Os cientistas, entretanto, continuaram trabalhando nas
etapas de produção do vírus, inativação, análise de qualidade, purificação e
formulação. O trabalho seguiu até 2020, quando todos os esforços das equipes de
virologia precisaram se voltar para a covid-19 e foi preciso pausar o projeto.
Edição:
Carolina Pimentel