Celular Seguro, app do governo que visa inibir roubos, terá desafios para cumprir finalidade
Celular Seguro, app do governo que visa inibir roubos, terá desafios para cumprir finalidade
Ferramenta permitirá que vítima avise operadoras e bancos de uma só vez. Mas, para que o aparelho roubado seja inútil para os criminosos, será preciso ampliar parcerias, dizem especialistas.
Por Darlan Helder, Victor Hugo Silva, g1
O Celular
Seguro, serviço com o qual o governo federal pretende inibir roubos de
smartphones, poderá, num primeiro momento, ajudar a bloquear o acesso de
bandidos à linha telefônica e a aplicativos de bancos ao notificar terceiros
sobre crimes.
Mas ainda
não será capaz de fazer dos aparelhos “um pedaço de metal inútil” na
mão dos bandidos, como pretende o Ministério da Justiça e Segurança Pública.
A ferramenta
já está disponível para navegadores como Google Chrome e Microsoft Edge neste
link – veja como usar – e ganhará aplicativos para Android e iPhone (iOS) na
quarta-feira (20).
Com o Celular Seguro, quem tiver o celular roubado ou furtado poderá avisar de uma vez várias instituições parceiras do governo, como a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e bancos (veja a lista ao fim da reportagem).
A partir de
informações divulgadas pelo ministério, o g1 ouviu especialistas para entender
o que pode ser positivo e quais são os desafios para que o serviço alcance a
finalidade pretendida. Confira os principais pontos levantados:
A proposta prevê que quem se
cadastrar previamente e tiver o celular roubado, furtado ou perdido poderá
registrar uma “ocorrência” no aplicativo;
️ O alerta será enviado, ao mesmo
tempo, para operadoras de telefonia e bancos que participam da iniciativa;
Se a ideia se cumprir, a vítima
perderá menos tempo para entrar em contato com cada instituição;
Por outro lado, não há garantia de
bloqueio imediato. A associação de operadoras de telefonia fala em até 6 horas
para encaminhar o pedido às operadoras e mais 1 dia útil para a linha ser
bloqueada. Alguns bancos participantes citam bloqueio imediato, mas outros têm
prazo de até meia hora, a partir do recebimento do alerta feito pelo app.
Outra questão é que os aparelhos não
ficarão totalmente inutilizados. Para isso, seria preciso que os sistemas
também fossem bloqueados, mas entre os principais desenvolvedores, apenas o
Google (dono do Android) é citado como parceiro. Ao g1, Ricardo Cappelli,
secretário-executivo do Ministério da Justiça, disse que a pasta está
conversando com a Apple, dona do iOS, que é o sistema operacional dos iPhones.
O que dizem especialistas?
O diretor de
tecnologia da empresa de telecomunicações Sage Networks, Thiago Ayub, disse que
o esforço é bem-vindo, mas lembrou que outras iniciativas já foram burladas por
criminosos. “Se burla semelhante ocorrer novamente, essa nova iniciativa
terá sua eficácia reduzida”, disse.
Ele também
destacou a importância de incluir fabricantes de celular e desenvolvedoras de sistemas
no programa do governo.
“Essas
ações terão uma chance de sucesso bem maior, seja utilizando outro tipo de
identificação não alterável do aparelho, seja impedindo o mecanismo de troca de
IMEI [código de identificação do aparelho] que criminosos já demonstraram serem
aptos a alterar”, disse.
O presidente
da Associação Brasileira de Segurança Cibernética, Hiago Kin, alertou para
possíveis mal-entendidos que o novo app pode causar. Para ele, usuários poderão
se confundir e pensar que a ferramenta bloqueia celulares, quando, na verdade,
apenas notifica outras instituições.
Na avaliação de Kin, é preciso evitar falhas de comunicação e monitorar eventuais golpes que usem o nome do Celular Seguro, para não trazer mais prejuízo aos usuários.
“O
maior risco à população se dá por meio das brechas a ataques de engenharia
social, como usuários sendo enganados, a partir de comunicações falsas de que
‘seus números serão bloqueados por um app do governo'”, afirmou Kin.
Como vai funcionar?
O Celular
Seguro deverá agilizar notificações a terceiros sobre roubos, furtos e perdas
de celulares. Isso será feito por meio de parcerias entre o governo e
instituições como a Anatel, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e
instituições financeiras.
O governo
federal também prevê ampliar a parceria com operadoras de celular para bloquear
o chip – e não apenas o celular – e impedir o recebimento de mensagens de texto
que permitem recuperar senhas de redes sociais, por exemplo.
A expansão
deverá ser implementada até 9 de fevereiro de 2024, informou o
secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli. Ele afirmou ao
g1 que iFood, Uber, 99, Mercado Livre e Nubank também deverão aderir ao
programa.
“A
pessoa que roubou o aparelho não vai conseguir usar os aplicativos, não vai
acessar os bancos, não vai conseguir vender o aparelho”, disse Cappelli,
ao g1. “A gente acredita que, com isso, vai desestimular o interesse por
esse delito e também pela receptação”.
Quem está trabalhando com o governo?
Anatel:
coordenação entre operadoras de telefonia e ABR Telecom;
ABR Telecom:
encaminhamento para as operadoras participantes (Algar Telecom, Claro, Datora
Telecom, Emnify Brasil, Sercomtel, Surf Telecom, TIM, Vivo/Telefônica);
Febraban:
coordenação entre as instituições financeiras;
Banco do
Brasil, Banco Inter, Banco Pan, Banco Safra, Bradesco, BTG Pactual, Caixa,
Itaú, Santander, Sicoob, Sicredi e XP Investimentos: interrupção do acesso aos
seus aplicativos.
Google
(Android), 99 Táxi, iFood, Zetta, Uber e Associação Brasileira da Indústria
Elétrica e Eletrônica (Abinee): assinaram protocolo de intenções para adesão do
projeto em breve.