Milei ameaça fazer consulta popular se Congresso não aprovar ‘decretaço’
Milei ameaça fazer consulta popular se Congresso não aprovar 'decretaço'
O presidente subiu o tom durante entrevista à televisão nesta terça-feira (26) em mais uma tentativa de pressionar o Legislativo argentino. Parlamentares decidirão sobre Decreto de Necessidade e Urgência e pacote de leis proposto pelo Executivo em sessões extraordinárias nos próximos dias.
Por Artur Alvarez, g1
Em nova
tentativa de pressionar deputados e senadores, o presidente da Argentina,
Javier Milei, disse na noite desta terça-feira (26) que fará uma consulta
popular se o Congresso não aprovar o Decreto de Necessidade e Urgência (DNU),
editado por ele em 20 de dezembro.
Sem
apresentar provas, Milei também associou a lentidão na tramitação de projetos
no Congresso ao fato de “alguns” legisladores buscarem
“propina”. As declarações do presidente foram dadas em entrevista à
televisão argentina LN+.
“Parte
da lentidão dos legisladores se deve ao fato de também buscarem propinas.
Alguns, eu digo. Mas o fato de gostarem de discutir é porque estão em busca de
propina. Isso aponta justamente contra os corruptos. E uma das coisas que
procuram é entrar nessa dinâmica para vender seus votos. Tem muitos criminosos
por aí”, afirmou Milei.
Milei também afirmou que fará uma consulta popular caso o Congresso rejeite deu “decretaço”: “se eles rejeitarem, eu convocaria um plebiscito e pediria que me explicassem por que estão contra o povo”.
A
Constituição Argentina estabelece que caso um plebiscito convocado pelo Poder
Executivo sobre o DNU seja aceito, o pacote não entra em vigor automaticamente,
mas traria mais capital político para o presidente.
Em sessões extraordinárias
previstas para os próximos dias, os parlamentares discutirão o DNU de Milei,
que modifica ou revoga mais de 350 normas no país e tem o objetivo de
desregular a economia argentina, além de um pacote de leis promovido pelo
Executivo.
O governo
Milei pressionou o Congresso nesta terça (26) para tentar aprovar logo o
“decretaço”, proposto na semana passada. O partido de Milei, o
Liberdade Avança, é minoria no Legislativo: tem 39 dos 257 deputados e 7 dos 72
senadores.
“Os
deputados e senadores terão que escolher entre apoiar o que o povo votou, a
mudança, esta Argentina que queremos para o povo de bem e sem o peso do Estado,
ou continuar a obstruir esta mudança e [impedir o que] a maioria do povo quer”,
disse Manuel Adorni, porta-voz do governo, em comunicado divulgado nas redes
sociais.
Na última
quarta-feira (20), Milei anunciou o Decreto de Necessidade e Urgência (DNU),
que viabiliza a desregulação econômica do país. O texto modifica ou revoga mais
de 350 normas e, embora já tenha entrado em vigor, ainda pode ser barrado pelo
Congresso.
Entre outros
pontos, o decreto desregulamenta o serviço de internet via satélite e a
medicina privada, flexibiliza o mercado de trabalho e revoga uma série de leis
nacionais. As medidas incluem também a conversão de diversas empresas estatais
em sociedades anônimas, facilitando o processo de privatização dessas
instituições.
Após uma
semana com diversos protestos contra as reformas, o presidente convocou o
parlamento para sessões extraordinárias entre os dias 26 de dezembro e 31 de
janeiro. O Congresso poderá provar ou rejeitar o texto integralmente, sem a
possibilidade de debater os detalhes de seu conteúdo.
Na pauta das
sessões extraordinárias, Milei incluiu ainda propostas para a restituição de
impostos sobre os salários, modificações na lei eleitoral e reformas do Estado.
“Apelamos à
boa vontade e que estejam à altura da situação no contexto de urgência em que
todos os argentinos estão imersos”, disse Adorni.
Ação coletiva
No sábado
(23), a Justiça federal admitiu uma ação coletiva de organizações civis para
declarar o texto inconstitucional.
As
organizações e as centrais sindicais convocaram uma manifestação na próxima
quarta-feira (27) diante dos tribunais. O intuito é entregar à Justiça o pedido
de contestação do decreto, e uma ação para suspender todos os seus efeitos.
O Ministério
Público Federal terá que responder às contestações em um processo que pode
chegar até a Suprema Corte da Argentina.
Crise
A Argentina vive uma das piores crises econômicas de sua história recente, com 40% da população vivendo na pobreza e a inflação ultrapassado os 140% anuais. Milei tem dito que o corte dos gastos públicos será equivalente a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.