Precatórios elevam déficit anual do governo central para R$ 230,54 bi
Precatórios elevam déficit anual do governo central para R$ 230,54 bi
Apenas em dezembro, resultado primário ficou negativo em R$ 116,15 bi.
Publicado por Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil - Brasília
A quitação
de precatórios após um acordo com o Supremo Tribunal Federal (STF) fez o
Governo Central – Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central – fechar
2023 com o segundo maior déficit primário desde o início da série histórica. No
ano passado, o resultado ficou negativo em R$ 230,54 bilhões, só perdendo para
2020, quando o déficit atingiu R$ 743,25 bilhões por causa da pandemia de
covid-19.
O déficit
primário representa o resultado negativo das contas do governo sem os juros da
dívida pública. Segundo o Tesouro Nacional, sem o pagamento dos precatórios, as
contas do Governo Central teriam fechado o ano passado com resultado negativo
de R$ 138,1 bilhões, equivalente a 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos
bens e dos serviços produzidos no país). Sem o socorro financeiro de cerca de
R$ 20 bilhões para estados e municípios, o déficit teria caído para R$ 117,2
bilhões, 1,1% do PIB.
Apenas em
dezembro, o déficit primário somou R$ 116,15 bilhões, impulsionado pela
quitação dos precatórios em atraso. Dívidas do governo com sentença judicial
definitiva, os precatórios foram parcelados ou adiados após uma emenda
constitucional em 2021. No ano passado, o governo quis quitar a dívida para evitar
um passivo de R$ 250 bilhões no fim de 2026.
O déficit de
dezembro foi o maior já registrado para o mês desde o início da série
histórica, em 1997. Sem os precatórios, informou o Tesouro, o resultado
negativo ficaria em R$ 23,8 bilhões. Esse valor ficaria abaixo da estimativa
das instituições financeiras. Segundo a pesquisa Prisma Fiscal, divulgada todos
os meses pelo Ministério da Fazenda, os analistas de mercado esperavam
resultado negativo de R$ 35,5 bilhões, sem considerar o pagamento de
precatórios.
O resultado
primário representa a diferença entre as receitas e os gastos, desconsiderando
o pagamento dos juros da dívida pública. Apesar da quitação dos precatórios, o
déficit ficou dentro da meta de R$ 231,5 bilhões para o Governo Central
estabelecida pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do ano passado.
Em janeiro,
o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tinha anunciado um pacote para aumentar
a arrecadação e revisar gastos para melhorar as contas públicas e diminuir o
déficit para cerca de R$ 100 bilhões em 2023. No fim de novembro, a Secretaria
de Política Econômica informou que a previsão oficial de déficit primário
estava em R$ 177,4 bilhões para este ano, podendo chegar a R$ 203,4 bilhões se
considerada a metodologia do Banco Central. A previsão, no entanto,
desconsiderava os precatórios.
Receitas
Na
comparação com o ano passado, as receitas caíram, se descontada a inflação, mas
as despesas aumentaram em volume maior por causa do Bolsa Família, dos gastos
com a Previdência Social e dos precatórios. Em 2023, as receitas líquidas
subiram 2,3% em valores nominais. Descontada a inflação pelo Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), no entanto, elas recuaram 2,2%. No mesmo
período, as despesas totais subiram 17,7% em valores nominais e 12,5% após
descontar a inflação.
Se considerar
apenas as receitas administradas (relativas ao pagamento de tributos), houve
queda de 1% em 2023 na comparação com 2022, já descontada a inflação, puxada
principalmente pela Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. No entanto,
houve aumento de R$ 11,7 bilhões (39,5% acima da inflação) em outras receitas
administradas, por causa principalmente do programa de redução da
litigiosidade, em que o contribuinte fechava acordos com o governo em troca de
encerrar ações na Justiça.
Também houve
aumento de R$ 32,9 bilhões (5,8%) na arrecadação da Previdência Social,
decorrente da recuperação do mercado de trabalho.
Em relação
às receitas não-administradas pela Receita Federal, os maiores recuos foram
registrados nas receitas de dividendos de estatais, que caíram R$ 41,1 bilhões
(-44,7%, descontada a inflação), em virtude do menor recebimento de repasses da
Petrobras, da Caixa Econômica e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES). As receitas com concessões caíram R$ 40,7 bilhões (-82%, descontado
o IPCA%) por causa de concessões de geração elétrica resultantes da
privatização da Eletrobras, que não se repetiram em 2023.
As receitas
com royalties, que caíram R$ 26,2 bilhões (-18,5%, descontada a inflação) em
2023 na comparação com 2022, por causa da queda do petróleo no mercado
internacional. Atualmente, a cotação do barril internacional está em torno de
US$ 82 após ter chegado a US$ 120 no meio de 2022, por causa da guerra entre
Rússia e Ucrânia.
Despesas
Turbinados pelo novo Bolsa Família, os gastos com programas sociais subiram R$ 75,4 bilhões (42,4%) acima da inflação no ano passado na comparação com 2023. Também subiram os gastos com a Previdência Social (+R$ 66,5 bilhões), com saúde (+R$ 20,6 bilhões) e gastos discricionários (não obrigatórios) com educação, transporte e assistência social (+R$ 23,6 bilhões).
Os gastos
com o funcionalismo federal subiram R$ 10,2 bilhões (2,8%) acima da inflação em
2023 comparados com 2022. Apesar do aumento de 9% concedido aos servidores do
Poder Executivo Federal, aprovado no fim de abril do ano passado pelo
Congresso, o principal fator que impulsionou a despesa foi pagamento de
precatórios, que consumiu R$ 8,3 bilhões no ano dos R$ 10,2 bilhões extras.
Em relação
aos investimentos (obras públicas e compra de equipamentos), o governo federal
investiu R$ 82,23 bilhões em 2023. O valor representa alta de 72,5% acima do
IPCA em relação a 2022. Nos últimos meses, essa despesa tem alternado momentos
de crescimento e de queda descontada a inflação. O Tesouro atribui a
volatilidade ao ritmo variável no fluxo de obras públicas.
Edição:
Maria Claudia