Congresso argentino adia votação e depena megapacote de Milei em meio a protestos e prisões
Congresso argentino adia votação e depena megapacote de Milei em meio a protestos e prisões
Deputados decidiram adiar para esta sexta-feira (2) votação da Lei 'Ómnibus', o megapacote de medidas que Javier Milei tenta aprovar. Milhares de manifestantes se concentraram na porta do Congresso para acompanhar debate.
Por g1
Em meio a
fortes protestos do lado de fora e debates calorosos que invadiram a madrugada
do lado de dentro, a Câmara dos Deputados da Argentina adiou para esta
sexta-feira (2) a votação da chamada Lei “Ómnibus”, o pacote de
medidas que é o carro-chefe do novo governo de Javier Milei.
No entanto,
o que os deputados tentarão votar, após mais de 30 horas de debate em dois dias
consecutivos de sessões, será um pacote de medidas “depenado”: dos
664 artigos que o projeto original tinha quando foi enviado à Câmara, restaram
apenas 224.
Os cortes
foram exigências de diferentes partidos e grupos políticos em troca de apoio ao
pacote de Milei, que tem minoria no Congresso. Por isso, o governo teve de
fazer uma intensa negociação com deputados de centro.
Ainda assim,
não há garantia de que a lei será aprovada hoje na Câmara – o debate foi
retomado nesta manhã, com uma fila de 30 oradores ainda para falar. A votação
deve ocorrer pela noite, mas pode ser adiada para sábado (3) caso não haja
consenso.
E, depois da
aprovação do texto entre os deputados, o projeto vai para o Senado, onde o
governo também não tem maioria.
O que caiu e o que ficou do pacote
Embora
algumas das principais mudanças que a Lei “Ômnibus” traz tenham sido
mantidos, os deputados decidiram cortar do projeto pontos significativos e
amplamente defendidos por Milei. Entre eles:
A redução no
número de empresas públicas que serão privatizadas de 37 para 27;
A duração
das “faculdades delegadas”, como foi chamada na lei a centralização de poder no
Executivo: originalmente, Milei queria poder prescindir do Legislativo em
diversos temas durante dois anos, prorrogáveis por dois outros. Esse prazo
mudou para um ano, prorrogável para um segundo ano;
Os temas das
“faculdades delegadas”: o novo presidente queria que, entre as
“faculdades delegadas”, estivessem temas relativos a defesa, política social e
de saúde. Questões ligadas a todos esses temas foram retiradas. Ainda
permanecem temas econômicos, financeiros, tarifários, energéticos, fiscais e
administrativos;
Antes mesmo
do início do debate sobre a lei no Congresso, no início desta semana, o governo
já havia recortado todo o capitulo fiscal do pacote, que incluía uma reforma no
cálculo das pensões, uma externalização de ativos não declarados e um aumento
de impostos.
Ainda de
acordo com o jornal argentino “La Nación”, Milei afirmou aos seus
ministros que não queria mais mudanças no projeto, mas, mesmo assim, mais
cortes podem vir no debate desta sexta, entre eles:
Reduzir
ainda mais o número de empresas públicas privatizadas e limitar três delas – o
Banco Nación, a Nucleoeléctrica Argentina e a Arsat – a um processo de
privatização parcial.
A parte de
segurança da Lei Ómnibus corre risco de cair inteiramente, segundo o “La
Nación”;
Outro tema
importante para Milei que pode ser derrotado é a capacidade de assumir novas
dívidas sem consultar o Congresso.
Deputados
governistas ainda estão negociando com a oposição questões ligadas a privatizações.
E, apesar da
disposição do governo em abrir mão de medidas da lei para conseguir sua
aprovação, deputados governistas conseguiram manter alguns pontos polêmicos,
como:
– O aumento
de pena para quem “bloqueie o funcionamento do trânsito”, mesmo sem
criar uma situação de perigo. A punição passou de três meses a um ano de prisão
para a de um a três anos e meio de prisão;
– A medida
que prevê que pessoas que organizarem manifestações serão responsabilizadas por
qualquer ano a bens públicos durante o protesto em questão;
– A medida
que prevê que todos as manifestações deverão ser comunicadas ao Ministério de
Segurança com ao menos 48 horas de antecedência;
– A redução
do financiamento estatal a atividades culturais.
Protestos e prisões
No primeiro
dia de discussões em plenário, a sessão terminou às 21h30. O presidente da
Câmara, Martín Menem (sobrinho do ex-presidente Carlos Menem), adiou então o
debate.
Nos dois
dias, organizações sociais e partidos de esquerda fizeram manifestações do lado
de fora do Congresso para que as propostas fossem rejeitadas. As ruas ao redor
do prédio do Congresso foram tomadas.
Houve
confrontos entre os manifestantes e as agentes de polícia. Na quinta-feira,
deputados de esquerda chegaram a deixar o plenário por causa da repressão aos
manifestantes. O debate seguiu mesmo sem esses deputados na Casa.
O que é a Lei ‘Ómnibus’
A Lei
‘Ómnibus’ é atualmente um dos pilares da política do novo governo para tentar
tirar a Argentina de uma das piores crises econômicas e inflacionárias que o
país já viveu.
A lei é um
pacote de centenas de medidas de temas variados, desde “superpoderes”
a Milei até a privatização de estatais, passando por temas de política de
segurança.