Economia cresceu ‘muito mais’ do que o esperado nos últimos anos e já existe revisão para 2024, diz presidente do BC

Economia cresceu 'muito mais' do que o esperado nos últimos anos e já existe revisão para 2024, diz presidente do BC

Roberto Campos Neto também avaliou que 'não tem nada hoje que acenda algum tipo de luz vermelha' na inflação, mas acrescentou que é preciso manter a atenção.


Por Alexandro Martello, g1 — Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta segunda-feira (4) que a atividade econômica surpreendeu positivamente nos últimos anos, e acrescentou que já existe, no mercado, um movimento de revisão dos números para cima em 2024.

“Atividade econômica, a gente vê o Brasil surpreendendo o crescimento. Economistas têm errado consistentemente. Em 2021, 2022 e 2023, [o país] cresceu muito mais do que esperado. Em 2024, começou um movimento de revisão [pelos economistas] do crescimento para cima”, afirmou Campos Neto, durante palestra na reunião do Conselho Político e Social da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 2,9% em 2023.

O resultado, que representa pequena desaceleração frente a 2022 (+3% de alta), ficou bem acima do estimado pelo mercado financeiro no começo do ano.

O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país. O indicador serve para medir a evolução da economia.

Para este ano, a previsão da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda é de um crescimento de 2,2%.

Já o mercado financeiro elevou, na última semana, a estimativa de expansão do PIB deste ano, de 1,68% para 1,75%.

De acordo com Campos Neto, o chamado “crescimento estrutural” da economia brasileira, ou seja, a taxa de expansão que não gera inflação, subiu de 1,8% para 1,9%, segundo cálculos do mercado.

“Os economistas apontam que a gente fez um grande numero de reformas, e que isso pode estar levando o crescimento para cima. O desemprego surpreendeu bastante, o número esta bem mais baixo do que o esperado”, acrescentou ele.

 

Inflação e déficit das contas públicas

O presidente do Banco Central também avaliou que as estimativas dos agentes econômicos de inflação estão em “convergência” com as metas de inflação – embora ainda estejam acima do objetivo central para os próximos anos.

Para 2024 e 2025, respectivamente, as projeções de inflação dos bancos estão em 3,8% e 3,51%. Nos dois anos, a meta central de inflação é de 3%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%.

Para atingir as metas de inflação, o principal instrumento do BC é a taxa básica de juros, atualmente em 11,25% ao ano – após cinco reduções seguidas. O BC tem sinalizado que continuará reduzindo os juros nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

“A inflação no brasil está em convergência, mas diminuiu aceleração recentemente [em direção às metas]. Ainda há uma convergência benigna. Essa parte de salários começou a pressionar um pouco. A gente entende que não tem nada hoje que acenda algum tipo de luz vermelha, mas a gente precisa estar atento”, afirmou o presidente do Banco Central.

Campos Neto observou, também, que o mercado financeiro segue sem acreditar que o governo conseguirá zerar o déficit sem suas contas neste ano. Segundo ele, a projeção dos analistas é de um rombo de 0,8% do PIB, cerca de R$ 90 bilhões, em 2024.

“Acho que, como o mercado já tem um número para 2024 bastante ruim, a chance é a surpresa ser para melhor. O governo tem condições de apresentar um número melhor do que -0,8% [do PIB]”, declarou.

Para ele, entretanto, o não atingimento da meta neste ano “não é um problema relevante”. “A gente precisa ver estruturalmente para frente, pois a gente continua com a dívida subindo. Não é só o Brasil, grande parte dos países tem esse problema”, concluiu.

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