LDO 2025: equipe econômica mira contas no azul, mas estimativa oficial ainda é de rombo durante todo o governo Lula
LDO 2025: equipe econômica mira contas no azul, mas estimativa oficial ainda é de rombo durante todo o governo Lula
Estimativa consta no projeto enviado ao Congresso Nacional; previsões para os próximos anos ainda serão revisadas. Texto para 2025 precisa ser aprovado pelos parlamentares.
Por Alexandro Martello, Lais Carregosa, Thiago Resende, g1 — Brasília
O projeto de
Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2025, enviado ao Congresso nesta
segunda-feira (15) pelo governo federal, indica que a equipe econômica prevê
rombos fiscais para o país durante todo o governo Lula.
A área
econômica mira em uma reversão do quadro – e diz que vai tentar um superávit
fiscal de 0,25% em 2026, ou seja, um resultado positivo: arrecadar cerca de R$
33 bilhões mais do que gastar. Em 2025, a meta passou a ser de receitas iguais
a despesas. Déficit zero, mas também superávit zero.
Apesar das
metas de que as contas voltem ao azul, as últimas previsões oficiais dos
Ministérios da Fazenda e do Planejamento são de que as contas terão rombo até
2026 — o último da atual gestão. E que voltarão a ter superávit somente em
2027.
Mesmo com a
estimativa de que as contas permanecerão no vermelho em todo o governo Lula, a
equipe econômica avalia que as metas serão atingidas nos próximos anos por
estarem dentro da banda (dentro do intervalo previsto pelo arcabouço fiscal).
Ou o
superávit pode vir pelo abatimento de precatórios. Precatórios são dívidas que
o governo tem que pagar e já foram reconhecidas pela Justiça. Se o governo
conseguir adiantar esses pagamentos, libera espaço nas contas dos anos
seguintes.
Metas X
estimativas
Em termos de
metas, o governo diz trabalhar para atingir o déficit zero neste ano e em 2025
– ou seja, levar os gastos públicos para um patamar semelhante ao da
arrecadação. A meta anterior, de superávit já em 2025, foi alterada.
Ou seja, a
intenção do governo é atingir os seguintes resultados:
2024:
déficit zero
2025:
déficit zero
2026:
superávit de 0,25%, cerca de R$ 33 bilhões
Já em termos
de projeções, o cenário é outro. O governo estima que, se o quadro atual for
mantido, o país terá:
2024: rombo
de R$ 9 bilhões;
2025: rombo
de R$ 29,1 bilhões;
2026: rombo
de R$ 14,37 bilhões.
Entenda
Pela
proposta, a meta central é de um saldo zero em 2025. Mas o resultado das contas
públicas poderá oscilar entre um déficit de R$ 31 bilhões e um saldo positivo
de igual tamanho, sem que o objetivo seja formalmente descumprido.
Isso porque
existe uma banda em relação à meta central (de déficit zero), de 0,25 ponto
percentual do Produto Interno Bruto (PIB), para cima e para baixo.
Para 2026, a
meta central é de um superávit de 0,25% do PIB — cerca de R$ 33 bilhões. Com a
banda existente, as contas poderão oscilar entre um saldo zero e um superávit
de R$ 66 bilhões.
O governo
explica, na LDO, que, em 2025 e 2026, as ADIs 7064 e 7047 permitem a exclusão
do pagamento de precatórios. Com isso, esses valores poderão ser abatidos do
resultado e, mesmo com déficit, a meta seria atingida em 2026.
Histórico
das contas e meta atual
Entre 2014 e
2021, o Brasil teve déficit. Em 2022, foi registado um superávit de R$ 54
bilhões. Já no ano passado, as contas retornaram ao vermelho, com um saldo
negativo de R$ 230 bilhões.
Esses
números envolvem somente o resultado primário — que não considera as despesas
do governo com os juros da dívida pública.
A meta atual
para as contas do governo em 2025, que ainda não foi alterada, é de um
superávit de 0,5% do PIB, cerca de R$ 62 bilhões. O governo, no entanto, propôs
a mudança para a meta de déficit zero – a medida ainda precisa passar pelo
Legislativo.
Com a
redução da meta fiscal em 0,5 ponto percentual do PIB em 2025, e com uma
flexibilização adicional de 0,75 ponto percentual do PIB no ano seguinte, se
aprovados, o espaço que o governo pode obter para novos gastos públicos é de
cerca de R$ 161 bilhões nos dois anos.
O que diz
a equipe econômica
Na semana
passada, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já indicava que a meta para
2025, de um superávit de 0,5 do PIB, não era factível e seria alterada.
“Nós
estamos esgotando o tempo para fazer as contas necessárias para fixar uma meta
factível à luz do que aconteceu de um ano para cá”, declarou em entrevista
a jornalistas na porta do ministério”, disse Haddad, na ocasião.
Segundo
cálculos do Tesouro Nacional, a equipe econômica precisaria elevar a
arrecadação, por meio de medidas adicionais, em R$ 296 bilhões em 2025 e 2026,
para cumprir as metas fiscais existentes atualmente.
No começo
deste mês, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, admitiu que
“já está se exaurindo o aumento do orçamento brasileiro pela ótica da
receita, ou seja, por meio de medidas para aumentar a arrecadação”.
“Passar
disso significaria aumentar imposto. Até agora o que nós fizemos foi recuperar
receitas públicas no Brasil sem aumentar impostos”, declarou ela, naquele
momento.
Questionado
nesta segunda-feira por que o governo está propondo mudança nas metas fiscais
de 2025 e de 2026, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou que
algumas medidas adotadas pela equipe econômica de aumento de arrecadação
“tardaram a sua materialização”.
“Nós
passamos boa parte do ano discutindo Carf, paralisações nos julgamentos no
Carf, algumas medidas que levam tempo de maturação. E o resto é um pouco dessa
conclusão que chegamos a esse processo de revisão. Nós tínhamos déficit
estrutural de mais de 1% do PIB. Mas observando que temos uma trajetória
consistente. Só por manter as metas, elas não teriam efeito, ou geraram efeito
inverso. É melhor que o país dê passos na direção correta, inflação controlada
do que fazer um movimento que pode colocar tudo a perder”, declarou Ceron,
a jornalistas.