SP: operação que investiga relação de PCC com licitações prende 14
SP: operação que investiga relação de PCC com licitações prende 14
Entre os presos estão três vereadores de municípios paulistanos.
Publicado por Elaine Patrícia Cruz - Repórter da Agência Brasil - São Paulo
Operação que
investiga participação do Primeiro Comando da Capital (PCC) em licitações
públicas prendeu nesta terça-feira (16) 14 pessoas, incluindo três vereadores,
das cidades paulistanas Ferraz de Vasconcelos, Santa Isabel e Cubatão. Além
deles, foram presos funcionários públicos, advogados e empresários. A Operação
Muditia é iniciativa do Ministério Público de São Paulo e da Polícia Militar
As prisões
são temporárias, pelo prazo de cinco dias. “Essa prisão é processual. Ao final
desse prazo, ela pode ser prorrogada e convertida posteriormente em prisão
preventiva”, explicou o promotor Yuri Fisberg, responsável pela Operação
Muditia, em entrevista à imprensa. Segundo o promotor, as prisões foram
necessárias que os suspeitos não atrapalhem as investigações.
Durante as
buscas, os policiais estiveram em 11 prédios públicos, 21 conjuntos
residenciais e dez comerciais e recolheram quatro armas, mais de 200 munições,
22 celulares e notebooks. Também encontraram dinheiro: R$ 3,5 milhões em
cheques, R$ 600 mil em espécie e quase 9 mil dólares.
Dos 11 prédios públicos que foram alvos de busca e apreensão, sete eram prefeituras [Guararema, Poá, Itatiba, Ferraz de Vasconcelos, Santa Isabel, Arujá e Cubatão] e quatro eram sedes de Câmaras Municipais [Ferraz de Vasconcelos, Santa Isabel, Arujá e Cubatão]. O promotor Fisberg ressalta que nem todas as prefeituras que são alvo da operação teriam participação no esquema. Os promotores não forneceram os nomes dos investigados, já que a operação corre sob sigilo e ainda está em curso.
Pelo menos
oito empresas estão sendo investigadas. De acordo com o promotor, uma delas
chegou a movimentar mais de R$ 200 milhões em contratos públicos.
Operação
Deflagrada
nesta terça-feira, a Operação Muditia agiu em diversas cidades do estado de São
Paulo. Em uma semana, é a segunda operação que apura o envolvimento de
integrantes da facção criminosa PCC na disputa de licitações públicas de
diversas prefeituras do estado de São Paulo. Promotores envolvidos na
investigação ressaltam que o PCC tem expandido os negócios para além do tráfico
de drogas, mirando contratos com o poder público.
No último
dia 9 de abril, foi deflagrada a Operação Fim da Linha, em que diretores de
duas empresas de ônibus da capital paulista foram presos por suspeita de
ligação com a facção criminosa.
“Acho que
tanto a operação de hoje quanto a operação da semana passada deixam bem claro
que hoje em dia, pensar nessa facção criminosa como atrelada unicamente ao
tráfico de drogas, ao crime de roubo, ou a esses crimes violentos, de longe não
mais corresponde à verdade. O que essas operações deixam muito claro é que há
uma sofisticação na atividade dessa organização criminosa, que demanda de nossa
parte também uma articulação maior de transmissão de informações, de atuação
conjunta, porque eu acho que somente assim a gente vai conseguir, de fato,
combater essa organização”, disse o promotor Frederico Silvério na entrevista
coletiva.
O nome da
operação, Muditia, alude ao grupo econômico investigado e também aos principais
contratos que foram firmados entre o PCC e o poder público e que envolvia
mão-de-obra terceirizada voltada à limpeza e a postos de fiscalização e
controle.
Segundo o
promotor Yuri Fisberg, as duas operações, embora tenham focos semelhantes, são
realizadas por equipes diferentes e não têm ligação entre si. “Essa
investigação é absolutamente distinta, o núcleo de atuação, pelo menos ao longo
do que foi apurado até agora, é totalmente distinto. Mas assim como na outra
operação da semana passada relacionada às empresas de ônibus, [elas mostram
que] o PCC tem diversificado sua atuação e dado maior complexidade à sua
atuação em diversos ramos, inclusive no ramo público”.
Crime
A investigação apontou que a estrutura criminosa simulava concorrência pública com empresas parceiras ou de um mesmo grupo econômico. “Em resumo, são algumas empresas investigadas, ou em nome de pessoas associadas ao PCC ou em nome de laranjas, às vezes funcionários de algumas dessas empresas, que concorriam e simulavam competição em licitações de câmaras e prefeituras e também do estado de São Paulo. Basicamente, prestação de serviços de facilities, ou seja, mão de obra com limpeza, postos de fiscalização e controle”, explicou o promotor Fisberg.
“O objetivo
era, a partir do controle de empresas, direcionar o resultado de licitações,
especialmente na área da limpeza”, detalhou Emerson Massera, coronel da Polícia
Militar.
Também há
indicativos da corrupção sistemática de agentes públicos e políticos e diversos
outros delitos – como fraudes documentais e lavagem de dinheiro. As empresas
investigadas atuavam de forma recorrente a frustrar a competição de
contratações de mão-de-obra terceirizada no estado.
“O que temos
são três núcleos bem distintos. No primeiro deles, empresários e funcionários
das empresas atuavam na parte operacional, com uma liderança vinculada à facção
criminosa. Havia também os advogados que atuavam para essa operação e, o
terceiro núcleo era formado pelos agentes políticos e servidores públicos, que
facilitavam o serviço mediante contraprestação, ou seja, mediante indícios de
propina para favorecer tais empresas no âmbito público”, explicou Fisberg.
“Estamos
tratando de uma organização criminosa que atua em parceria, favorecendo a
facção, em três eixos. Um deles é a prática desses crimes de fraude em
licitações. Paralelamente, nós temos a prática dos crimes de corrupção, com o
envolvimento dos agentes públicos que recebem parte de valor para facilitar,
auxiliar e favorecer as contratações dessas pessoas que compõem a organização
criminosa; e essas pessoas jurídicas, essas sociedades empresariais, que eram
usadas para a lavagem de dinheiro [do tráfico]. Então, são três eixos que se
interligam: a lavagem de dinheiro, a organização criminosa e a corrupção dos
agentes públicos”, acrescentou a promotora Flávia Flores.
Segundo o
promotor Fisberg, para impedir que novos crimes como esse, que envolvem
licitações públicas, continuem existindo, é preciso mais do que as ações que já
estão previstas na nova Lei de Licitações. “A gente precisa caminhar muito em
compliance nas prefeituras e órgãos públicos”, disse ele.
Outro
lado
A reportagem
da Agência Brasil buscou contato com todas as prefeituras e Câmaras Municipais
que foram alvo da operação de hoje.
Por meio de
nota, a prefeitura de Poá informou que “não recebeu notificação oficial sobre a
operação, mas que está à disposição da Justiça para colaborar e até mesmo
prestar eventuais esclarecimentos que se fizerem necessários. Da mesma forma, o
Executivo poaense confia em seu corpo técnico e lisura no tratamento dos
processos e demais atos que envolvem o bem público e a municipalidade”.
A Câmara
Municipal de Ferraz de Vasconcelos disse que, por enquanto, não se manifestará
sobre a ação.
Já a prefeitura de Santa Isabel diz que não ocorreram ações vinculadas ao Executivo da cidade. Já a Câmara de Santa Isabel informa que vem colaborando com as investigações. “Quanto aos mandados de prisão, informamos que não fomos cientificados acerca de eventuais prisões. Aguardamos o deslinde das investigações, e nos colocamos à disposição da Justiça para maiores esclarecimentos”, diz a nota.
A prefeitura
de Cubatão, por sua vez, informa que não foi citada na investigação que apura
eventuais irregularidades em contratos da Câmara Municipal da Cidade. Já a
Câmara Municipal de Cubatão disse que tomou ciência da operação e que está
colaborando com as equipes, fornecendo os documentos solicitados pelas
autoridades.
A prefeitura
de Guararema disse que colaborou com o trabalho do Grupo de Atuação Especial de
Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e da Polícia Militar. “A Administração
Municipal se mantém à disposição das autoridades policiais para ajudar no que
for preciso”, escreveu, em nota.
Edição:
Aline Leal