Lula defende cortar impostos só da ‘carne que o povo consome’; fiscalização seria impossível, diz Fazenda
Lula defende cortar impostos só da 'carne que o povo consome'; fiscalização seria impossível, diz Fazenda
Congresso discute, na regulamentação da tributária, quais produtos vão compor a cesta básica. Há certo consenso para incluir o frango, mas carnes vermelhas ainda geram debate.
Por Guilherme Mazui, Alexandro Martello, g1 — Brasília
O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta terça-feira (2) que o país inclua na
cesta básica apenas cortes específicos de carne, levando em consideração o que
as populações mais pobres consomem.
A lista de
produtos que fará parte da cesta básica – e com isso, terá imposto menor ou até
zerado – é discutida na regulamentação da reforma tributária, aprovada em 2023
pelo Congresso. A inclusão do frango e da carne bovina na lista será debatida
pelo governo e pelos parlamentares.
“Eu sou
favorável [às carnes na cesta básica]. Já conversei isso com Haddad, já
conversei isso com Galípolo, já conversei com pessoal do Tesouro”, disse
Lula em entrevista à rádio Sociedade, de Salvador (BA).
“Eu
acho que temos que fazer diferenciação. Você tem vários tipos de carne, tem
carne chique, de primeiríssima qualidade, que o cara que consome pode pagar um
impostozinho. Agora, você tem outro tipo de carne, que é a carne que o povo
consome. Frango, por exemplo, não precisa ter imposto. Frango faz parte do dia
a dia do povo brasileiro, ovo faz parte do dia a dia. Uma carne, sabe, um
músculo, um acém, coxão mole, tudo isso pode ser evitado”, seguiu Lula.
“Eu
acho que a gente precisa colocar a carne na cesta básica, sim, sem que haja
imposto. Você pode separar a carne, você pode selecionar a carne. Vai comprar
coisa importada, chique, tem que pagar imposto”, adicionou.
Lula disse
ainda que não sabe se a ideia passaria no Congresso – e que “a proposta do
governo não é irrevogável, ela pode mudar”.
“Eu
acho que é uma sensibilidade da parte do pessoal que está trabalhando a
política tributária, se não for para toda a carne, para um tipo de carne sem
imposto”, concluiu.
Fiscalização
seria impossível, diz Fazenda
A ideia de
Lula, se aplicada, pode tornar a fiscalização da Receita Federal inviável.
A análise é
do diretor de programa da Secretaria Extraordinária da Reforma Tributária do
Ministério da Fazenda, Rodrigo Orair. Ele falou sobre o tema em abril, ao
anunciar a proposta do governo e dos estados para a regulamentação da reforma
tributária.
Segundo
Orair, “do ponto de vista operacional, não dá para o fiscal da Receita
fiscalizar” qual tipo de carne está em cada pacote comercializado. Ou seja: o
ideal é a taxação ser uniforme.
“Divide o
boi no meio e em quartos. Só tem o quarto dianteiro e o quarto traseiro.
Geralmente, carnes nobres estão no quarto traseiro. Tem estados que todos
chegaram lá e os bois eram bípedes, só tinha quarto dianteiro. Do ponto de
vista operacional, não dá para o fiscal da receita fiscalizar. A picanha, se
cortar dessa veia para frente, é picanha, para trás é coxão. Sabe que é carne
bovina, suína, peixes. Entre os peixes dá, porque é espécie”, declarou Orair, à
ocasião.
Naquele
momento, ele também disse que, quem consome o grosso de proteína aninal, as
carnes bovinas, são “majoritariamente” os mais ricos. “É impactante”,
acrescentou.
Segundo ele,
os mais pobres consomem, principalmente, “miudezas” e “carne de segunda”.
“Exceção é o frango, carne de peixe um pouquinho, caprinos e ovinos”, disse, em
abril.
Redução
da tributação sobre carnes
Mesmo
enquadrando as carnes com taxação de 40% dos futuros impostos sobre valor
agregado da União (CBS) e dos estados e municípios (IBS), o governo alega que
haverá redução na tributação em relação ao patamar atual.
Isso ocorre
porque, mesmo estando isentas de impostos federais, as carnes são taxadas pelo
ICMS estadual.
O governo
diz, com isso, que o peso dos impostos sobre as carnes, de uma forma geral,
está em 12,7% atualmente (considerando o ICMS estadual e, também, resíduos
tributários, ou seja, impostos sobre impostos).
Com a
tributação parcial instituída pela reforma tributária, que vai passar a cobrar
impostos não cumulativos, a área econômica diz que o peso dos tributos vai cair
para 10,6%.
De acordo com o secretário Bernard Appy, do Ministério da Fazenda, a população de baixa renda, cerca de 73 milhões de pessoas, terá direito ao abatimento de 20% no chamado “cashback” — devolução do imposto pago. Para esse público, a alíquota seria menor ainda, de 8,5%.