Forças de segurança ocupam 10 comunidades da Zona Oeste do Rio para coibir a disputa territorial entre traficantes e milicianos
Forças de segurança ocupam 10 comunidades da Zona Oeste do Rio para coibir a disputa territorial entre traficantes e milicianos
Dois mil agentes atuarão em 10 comunidades nos bairros de Jacarepaguá, Barra da Tijuca, Recreio, Itanhangá, Vargem Grande e Vargem Pequena. Cláudio Castro admite aumento da mancha criminal.
Por Rafael Nascimento, Bruno Grubertt, Jefferson Carvalho, Lucas Madureira, Matheus Gifonni, g1 Rio e TV Globo
As forças de
segurança do Estado do Rio de Janeiro ocupam, na manhã desta segunda-feira
(15), 10 comunidades de 6 bairros da Zona Oeste do Rio. O objetivo da ação é a
retomada de territórios e coibir as disputas entre traficantes e milicianos na
região, que ocorrem há quase dois anos.
Segundo o
Governo do Estado, a operação foi idealizada e pautada por informações de
inteligência e definida por informações sobre os casos de crimes nessas
regiões. A Zona Oeste do Rio tem sido alvo de intensas disputas territoriais
por parte de traficantes e milicianos.
Dois mil
policiais Civis e militares atuam, por tempo indeterminado, na Cidade de Deus,
Gardênia Azul, Rio das Pedras, Morro do Banco, Fontela, Muzema, Tijuquinha,
Sítio do Pai João, Terreirão, César Maia. A comunidade de Rio das Pedras é
considerada o berço da milícia no estado.
Os bairros
onde acontece a operação são: Jacarepaguá, Barra da Tijuca, Recreio, Itanhangá,
Vargem Grande e Vargem Pequena.
Duas
aeronaves blindadas sobrevoam as comunidades e são usadas pelos agentes. Entre
os equipamentos usados pelos policiais também estão:
Drones com
reconhecimento facial;
200
viaturas;
40
motocicletas;
Ambulância
blindada.
Os agentes
também buscam cumprir mandados de prisão de criminosos que estão em aberto. Na
Cidade de Deus, equipes da PM retiram barricadas das ruas e realizaram a
demolição de uma construção irregular.
Até às 7h,
um homem havia sido preso. Maicon Silva de Paula foi preso em casa, no Beco do
Borracheiro, no Recreio, com 101 sacolés de maconha, uma pistola, 15 munições e
R$ 60. O caso está sendo registrado na 42ª DP (Recreio).
Na Linha
Amarela, bandidos em fuga do cerco policial abandonaram um carro na altura na
Avenida Geremário Dantas, no sentido Fundão, com três granadas. O Esquadrão
Antibombas foi acionado e desativou os explosivos.
No Morro
Dona Dalva, na Muzema, algumas casas tinham dezenas de marcas de tiros e outras
traziam cartazes com pedidos de paz.
“Eu só
quero ser feliz. Andar tranquilamente na favela onde nasci”, dizia um
deles, reproduzindo o rap que ficou conhecido nas vozes dos cantores Cidinho e
Doca.
Disputa
territorial
Há cerca de
dois anos, moradores dessas comunidades convivem com intensos confrontos e
dezenas mortes em função da disputa entre esses grupos criminosos.
Nos últimos
dois anos, o Comando Vermelho financiou bandos armados e articulou dezenas de
ataques na região. Só em Jacarepaguá, a facção tomou 19 comunidades em 14
bairros diferentes, que antes eram dominadas por paramilitares.
O interesse do Comando Vermelho na região não está apenas em implantações de bocas de fumo. Há alguns anos, o tráfico passou a replicar o modelo da milícia, com exploração da venda de gás e pacotes de internet e até do mercado imobiliário, refletindo também uma diversificação dos negócios escusos da facção.
Atualmente,
ainda há quatro favelas em Jacarepaguá que são alvos constantes de ataques do
grupo criminoso — como Rio das Pedras, considerado o berço da milícia.
Um
levantamento da inteligência da PM aponta que o CV domina 1085 localidades em
todo o estado — o número é maior do que a soma dos territórios dominados pela
milícia e outras facções do tráfico.
Castro
admite crescimento do crime na região
O governador
Cláudio Castro admitiu o aumento da mancha criminal na região. Ele destacou que
a ocupação visa coibir a lavagem de dinheiro da criminalidade.
“Em
torno de 30 a 40 dias atrás, nós percebemos, até pela quantidade de mandados de
prisão em aberto, a inteligência mostrava a questão de uma guerra de facções
muito pesada nessa região e o aumento dessa mancha criminal, que era necessário
que a gente fizesse uma ação integrada. Então hoje, uma grande ação integrada.
A ideia é a gente dar esse choque”, afirmou Castro.
“Trabalharemos
para a retomada da ordem nessa região que vai do Itanhangá até as Vargens .
Livraremos nossa população de um julgo territorial. Retomaremos serviços
públicos que, infelizmente, tem sido utilizada por essa criminalidade para
obtenção de recursos e lavagem de dinheiro. Combateremos todo tipo de crime:
patrimonial, público, ao meio ambiente”, destacou o governador.
De acordo
com a Secretaria de Segurança Pública, a ação também vai fiscalizar o comércio
dessas regiões.
“Começamos
hoje uma ação estruturada. Uma ação que advém de diversas investigações. Essa
ação integrada não tem dia para acabar, ela será permanente enquanto a gente
julgar necessária essa ação mais forte”, afirmou Castro.
Vazamento
Nas redes
sociais, neste domingo (14), criminosos usaram as redes sociais para alertar
sobre a operação desta segunda.
“Papo
de intervenção na CDD. Que Deus proteja nós. Que Deus guarde nós. Que Deus
livre nós dê toda maldade. Cris é nós”, escreveu um deles.
“O
Bope, a polícia vai ficar ocupando a favela por vários dias”, disse uma
moradora em um áudio.