Privatização da Sabesp é concluída em cerimônia na B3; Governo de SP levanta R$ 14,8 bi
Privatização da Sabesp é concluída em cerimônia na B3; Governo de SP levanta R$ 14,8 bi
Evento ocorreu na manhã desta terça (23), na sede da Bolsa de Valores, no Centro da capital paulista. Venda resultou em R$ 14,8 bilhões para os cofres do governo paulista.
Por Lívia Machado, Paola Patriarca, Renata Bitar, g1 SP
O governador
de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) participou, na manhã desta
segunda-feira (23), na B3, no Centro da capital paulista, da cerimônia que
marcou a conclusão do processo de privatização da Sabesp.
A venda de
32% da empresa resultou em R$ 14,8 bilhões aos cofres do governo paulista.
“Hoje
não tem martelo. Acho que ficaram com medo”, disse o governador em uma
tentativa de piada com o que ocorreu na sede da Bolsa em março do ano passado,
quando ele quase quebrou o símbolo da B3 ao encerrar o leilão do Rodoanel
Norte.
Em discurso
inflado, ele defendeu os trabalhos realizados pela gestão para viabilizar a
desestatização do saneamento, prometeu redução da tarifa, limpeza de rios e
universalização do saneamento até 2029.
“Não
faltou nesse processo uma série de atributos, não faltou ousadia, não faltou
coragem, não faltou dialogo, não faltou respeito, não falta criatividade pra
que a gente construísse um modelo que não é o modelo de Buenos Aires, não é o
modelo de Berlim, não é o modelo do Reino Unido, não é o modelo do Chile, não é
o modelo de Portugal, não é o modelo da Eletrobrás, é o modelo da Sabesp, é o
nosso modelo, é o modelo de São Paulo e é o melhor modelo da história.”
Cerimônia
de privatização da Sabesp na B3
O governador
disse ainda ter “muito orgulho da PGE” e defendeu que o processo foi
feito “para libertar a Sabesp”.
“Quantas
ações judiciais, quanta guerra, confusão, que vinham daqueles que não
entendem”.
Com a
conclusão do processo, a nova gestão da Sabesp assume a empresa após a eleição
do novo Conselho de Administração, em assembleia geral de acionistas.
Antes, a
aquisição de 15% das ações da Sabesp pela Equatorial precisa ser aprovada pelo
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE).
Tarifa
Com o novo
modelo, o governo promete redução de até 10% nas tarifas social e vulnerável
para famílias inscritas no Cadastro Único (CADÚnico) e para que tem renda
familiar per capita entre R$ 218 e R$ 706 (meio salário mínimo).
Além disso,
haverá 1% de desconto para os demais clientes residenciais. E 0,5% de redução
nas outras tarifas, como comercial e industrial.
“A
redução [da tarifa] começa a partir de hoje. Então, obviamente, tem uma questão
que é proporcional, nós temos tarifas que estão, vamos dizer, que não têm o mês
fechado, então nós temos os dias de tarifa cheia e a partir de hoje a gente
passa a ter a redução proporcional de maneira que no próximo ciclo a gente vai
ter aquele resultado da redução de tarifa que foi colocado, 10% de redução nas
tarifas sociais dos vulneráveis, 1% pros consumidores residenciais e 0,5% pros
consumidores comerciais e industriais”, disse Tarcísio nesta terça.
Proposta
única
Na semana
passada, a gestão estadual confirmou que o fundo de investimentos Equatorial
cumpriu com as exigências previstas na oferta pública inicial e, assim,
adquiriu o bloco prioritário de 15% das ações da Sabesp.
O grupo foi
o único a apresentar proposta de compra e vai desembolsar R$ 6,9 bilhões pela
fatia da companhia.
“De nossa parte, trazemos experiência de ampla estrutura e eficiência no atendimento aos clientes. Nas nossas distribuidoras levamos energia a 34 milhões de clientes. Completamos em 2024 20 anos de existência. Uma história que nos levou a ser um dos maiores agentes de energia do país”, disse Augusto Miranda, CEO da empresa durante o evento nesta manhã.
A mudança na
composição da Sabesp faz parte da decisão do governo paulista de diminuir sua
participação acionária na empresa — ou seja, privatizar a companhia de
saneamento. O Executivo paulista tinha 50,3% dos papéis e decidiu ficar com
apenas 18%.
A venda,
portanto, foi de 32% das ações, sendo 15% para o grupo Equatorial e 17% para
investidores, incluindo pessoas físicas. Os outros 49,7% dos papéis já eram
listados em bolsa de valores.
Sobre a
Sabesp
Atualmente,
metade das ações da empresa está sob controle privado, sendo que parte é
negociada na B3 e parte na Bolsa de Valores de Nova York, nos Estados Unidos.
Em 2022, a
empresa registrou um lucro de R$ 3,1 bilhões. Desse montante, 25% foram
revertidos como dividendos aos acionistas e R$ 2,4 bilhões destinados a
investimentos.
Atendendo
375 municípios com 28 milhões de clientes, o valor de mercado da empresa
chegou, em 2022, a R$ 39,1 bilhões.
Venda de
ações
Ao todo, a
venda de 17% dos papéis da empresa rendeu R$ 7,9 bilhões ao governo de São
Paulo.
O preço
definido por ação foi de R$ 67 — mesmo valor negociado com a Equatorial
Participações e Investimentos, investidor estratégico da Sabesp, que já tinha
adquirido 15% dos papéis por um total de R$ 6,9 bilhões.
Os
investidores interessados tiveram do dia 1º a 15 de julho para reservar 17% das
ações da companhia. Pessoas físicas também puderam participar.
Ao longo da
pré-venda, as buscas totais pelos papéis mobilizaram R$ 187 bilhões de
investidores interessados em concorrer a um pedaço da empresa.
A soma das
vendas também coloca a desestatização da Sabesp como a maior oferta pública de
ações do ano no país.
Conforme
mostrou o g1, a principal forma de adquirir ações da Sabesp durante a
privatização foi por meio da reserva de papéis — processo simples que pôde ser
realizado por meio da conta do investidor em qualquer corretora de valores.
No portal
das corretoras, os interessados puderam procurar pela opção de “ofertas
públicas” e escolher a Sabesp sob o código SBSP3.
No momento
da reserva, no entanto, ainda não havia a definição do preço da ação da
empresa. Os valores foram divulgados dias após o encerramento do período de
reservas.
Constitucionalidade
A
privatização da empresa foi alvo de diversas ações da oposição, que aponta
irregularidades do governo no processo. O PT questiona a constitucionalidade da
lei de autoria do governo Tarcísio de Freitas e aprovada pela Assembleia
Legislativa em dezembro de 2023.
O partido
pede a suspensão da eficácia de atos administrativos do Conselho de
Administração da companhia e do Conselho Diretor do Programa Estadual de
Desestatização (CDPED).
A legenda
defende que a lei fere os princípios da Administração Pública: legalidade,
moralidade, impessoalidade, isonomia, publicidade e eficiência.
Na quinta
(18), a Advocacia-Geral da União defendeu a suspensão do processo. A AGU
afirmou que os fatos narrados e os documentos mostram que esses princípios não
foram observados no processo de desestatização da empresa, que é uma sociedade
constituída por ações de mercado que integra a administração indireta do estado
de São Paulo.
Entretanto,
no sábado (20), o pedido foi rejeitado por pelo presidente do Supremo Tribunal
Federal (STF), Luís Roberto Barroso.
Segundo o
ministro, “não compete ao STF arbitrar a conveniência política e os termos
e condições do processo de desestatização da Sabesp”.