Orçamento secreto: Dino determina que ‘emendas PIX’ devem garantir transparência
Orçamento secreto: Dino determina que 'emendas PIX' devem garantir transparência
Pela decisão, deputados e senadores só poderão destinar recursos para os estados pelos quais foram eleitos.
Por Márcio Falcão, Paloma Rodrigues, TV Globo — Brasília
O ministro
do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino determinou nesta quinta-feira
(1º) que as chamadas “emendas PIX” devem seguir critérios de
publicidade, transparência e rastreamento.
Pela decisão
de Dino, as emendas só poderão ser liberadas pelo Executivo se determinadas
exigências forem cumpridas.
Em nota, a
Câmara dos Deputados informou que está “analisando tecnicamente a decisão
do ministro” e que vai recorrer ao plenário da Corte (veja na íntegra
abaixo).
Também fica
determinado que o parlamentar – deputado ou senador – só pode enviar emendas
dessa categoria para o estado pelo qual foi eleito.
O ministro
fixou, ainda, prazo de 90 dias para que a Controladoria-Geral da União realize
uma auditoria em repasses dessa modalidade em benefício de ONGs e entidades do
terceiro setor entre 2020 e 2024.
Pedido de jornalistas
O ministro
analisou um pedido feito pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo
(Abraji), que acionou o STF pedindo a suspensão das transferências especiais
das “emendas PIX”, sua execução e pagamento.
A Abraji
pede que seja declarada a inconstitucionalidade dessa modalidade de pagamento
de emendas.
A entidade
quer que o STF determine que é preciso adotar plena transparência e controle
sobre as transferências especiais realizadas.
“A
Constituição de 1988 consagra, em seu artigo 60, § 4º, os princípios constitucionais
ou cláusulas pétreas, que são imunes a alterações, mesmo por emenda
constitucional. Dentre esses princípios, destacam-se a forma federativa de
Estado, a separação dos Poderes e os direitos e garantias fundamentais, Nesta
ótica, a mera criação de emendas que não tenham finalidade específica se
demonstra inconstitucional, já que não apresenta informação específica da
destinação do repasse, afronta autonomia entre os poderes e cria verdadeiro
apagão fiscalizador contábil no Estado brasileiro”.
As regras
Na decisão,
o ministro estabelece que as emendas PIX:
– somente
sejam realizadas com o atendimento aos requisitos constitucionais da
transparência e da rastreabilidade
– sejam
fiscalizadas pelo Tribunal de Contas da União e da Controladoria-Geral da
União, inclusive quanto às transferências realizadas anteriormente a esta
decisão.
Entre os
detalhes previstos no novo modelo, os deputados e os gestores que vão receber a
emenda terão que divulgar:
– o plano de
trabalho do gasto;
– o objeto a
ser executado (obra, reforma, pavimentação, por exemplo) e a finalidade dele;
– a
estimativa de recursos para a execução;
– o prazo
para o serviço;
– a
classificação orçamentária da despesa.
Consequentemente,
o Poder Executivo só poderá liberar os recursos oriundos das “emendas PIX” após
o atendimento da referida obrigação pelos futuros destinatários da
transferência especial.
Na área da
saúde, as emendas só poderão ser efetivamente executadas mediante prévio
parecer das instâncias competentes de governança do SUS.
O que diz Flávio Dino
Na decisão,
o ministro afirmou que a intervenção do STF se justifica para “impedir a
continuidade de caminhos incompatíveis com a Constituição”.
“Isso
visa inclusive prevenir que posteriormente haja a promoção de responsabilidade
penal e civil de agentes públicos – em decorrência de inconstitucionalidades
perpetradas”, diz Dino.
Dino
ressaltou ainda que dados apontam que os instrumentos de planejamento são
insuficientes, e os mecanismos de controle e transparência, inadequados para
fiscalizar essas emendas.
Na avaliação
do ministro, há possibilidade de danos irreparáveis ao erário e à ordem
constitucional, caso a realização das transferências especiais continue a
ocorrer sem o estabelecimento de mecanismos que assegurem a transparência e a
rastreabilidade dos dados.
“Nesse
sentido, deve-se compreender que a transparência requer a ampla divulgação das
contas públicas, a fim de assegurar o controle institucional e social do
orçamento público. Por sua vez, a rastreabilidade compreende a identificação da
origem e do destino dos recursos públicos”, escreveu.
Posição da Câmara
Em nota, a
Câmara dos Deputados informou que pretende recorrer da decisão do ministro.
“A assessoria
jurídica da Câmara dos Deputados está analisando tecnicamente a decisão do
ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino, para recorrer ao Plenário da
Corte Suprema do país.”