Em relatório, ONU cita falta de transparência nas eleições da Venezuela e aponta segurança em atas divulgadas pela oposição
Em relatório, ONU cita falta de transparência nas eleições da Venezuela e aponta segurança em atas divulgadas pela oposição
Pleito foi acompanhado por especialistas, que ficaram por mais de um mês na Venezuela. ONU chegou a afirmar que documento seria confidencial, mas resolveu tornar o relatório público nesta terça-feira (13).
Por g1
A ONU
divulgou nesta terça-feira (13) um relatório “confidencial” sobre as
eleições na Venezuela. O documento indica falta de transparência do órgão
eleitoral venezuelano e afirma haver segurança em atas com resultados
divulgados pela oposição.
As eleições
presidenciais na Venezuela terminaram com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE)
proclamando Nicolás Maduro vitorioso. No entanto, a oposição garante que atas
das urnas colhidas após o pleito dão vitória a Edmundo González, por ampla
vantagem.
O relatório
da ONU foi produzido por especialistas que compõem um painel eleitoral
independente. Membros da equipe viajaram para a Venezuela no fim de junho,
cerca de um mês antes das eleições, e acompanharam o pleito.
Segundo o
documento, o anúncio do resultado que consagrou a reeleição de Maduro ocorreu
sem detalhes da votação. De acordo com os especialistas, isso configurou uma
ação sem precedentes em eleições democráticas contemporâneas, com impacto negativo
na confiança do resultado.
O Painel da
ONU afirma ainda que o CNE não seguiu as disposições legais e regulamentares
nacionais. Além disso, o órgão eleitoral perdeu todos os prazos estipulados.
“O
processo de gestão dos resultados do CNE ficou aquém das medidas básicas de
transparência e integridade que são essenciais para a realização de eleições
credíveis”, afirma o documento.
Em relação
às atas publicadas pela oposição, que dão vitória a Edmundo González, o
documento afirmou que os dados exibem características de segurança.
“O
Painel revisou uma pequena amostra dos documentos que estão atualmente no
domínio público (incluindo aqueles postados online pela oposição) e que são
relatados como sendo protocolos de resultados de várias urnas. Todos os
documentos revisados exibem todos os recursos de segurança dos protocolos de
resultados originais”, diz o relatório.
O documento
reforçou ainda que, de modo geral, o sistema de votação da Venezuela foi
projetado para ser confiável, com várias camadas de proteção. Por outro lado,
as autoridades eleitorais não publicaram os relatórios oficiais com os
resultados, que garantiriam segurança aos dados.
“O CNE
não publicou, e ainda não divulgou, nenhum resultado (ou resultados detalhados
por urna), para apoiar seus anúncios orais conforme previsto no marco legal das
eleições”, cita o documento.
Além disso,
o Painel da ONU afirmou que recebeu vários relatos de que agentes da oposição
foram impedidos de receber cópias dos dados oficiais das urnas eleitorais. O
documento também destacou restrições a opositores durante o período
pré-eleitoral.
O relatório
publicado nesta terça-feira é provisório e foi entregue ao secretário-geral da
ONU, António Guterres, e ao Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela.
Documento confidencial
Em uma nota
publicada em junho, a ONU informou que o Painel Eleitoral foi criado após um
pedido do CNE da Venezuela. À época, a organização afirmou que os especialistas
produziriam um relatório confidencial sobre o andamento das eleições no país.
O objetivo
do relatório seria sugerir recomendações e melhorias para futuros pleitos na
Venezuela. A nota indicou ainda que o documento seria “independente e
interno”, direcionado ao secretário-geral e autoridades venezuelanas.
No entanto,
nesta terça-feira, um porta-voz da ONU disse que o relatório preliminar
produzido pela equipe de especialistas seria disponibilizado no site da organização
para acesso público.
“O
painel continua acompanhando os aspectos técnicos das próximas fases restantes
do processo eleitoral, de acordo com seus termos de referência, e fornecerá um
relatório final ao Secretário-Geral”, afirmou Haq.
O anúncio da
ONU foi criticado pelo presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge
Rodríguez. Ele chamou o painel de especialistas de “lixo” e propôs
uma reforma nas leis eleitorais do país para evitar observadores estrangeiros.
Análise do Centro Carter
Logo após a
eleição de 28 de julho, na qual Nicolás Maduro foi proclamado reeleito
presidente pelas autoridades eleitorais, o Centro Carter afirmou que o pleito
não poderia ser considerado democrático.
Ao todo, 17
observadores do Centro Carter acompanharam as eleições venezuelanas. O órgão já
acompanhou 124 eleições em 43 países.
A entidade
informou que a Venezuela “violou inúmeras disposições de suas próprias
leis nacionais” e que não pôde verificar os resultados declarados pelo
Conselho Nacional Eleitoral.
Além disso,
o Centro Carter elencou outros problemas, como:
– registro
de eleitores prejudicados por prazos curtos;
– requisitos
excessivos, e alguns arbitrários, para cidadãos votarem no exterior, o que
resultou em um número baixo de votantes fora da Venezuela;
– condições
desiguais de competição entre Maduro e Edmundo González, da oposição;
– tentativas
de restrição da campanha da oposição durante a corrida eleitoral;
– falta de
transparência do CNE no anúncio dos resultados.
– Na mesma linha, a Organização dos Estados Americanos (OEA) produziu um relatório afirmando haver indícios de que o governo Maduro distorceu o resultado.