Caso Marielle: ‘Eu estava louco, encantado com os R$ 25 milhões que a gente ia ganhar’, diz Ronnie Lessa
Caso Marielle: 'Eu estava louco, encantado com os R$ 25 milhões que a gente ia ganhar', diz Ronnie Lessa
Em depoimento no STF, assassino confesso da vereadora diz que cometeu o crime por ganância.
Por Marco Antônio Martins, g1 Rio
Em
depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF), Ronnie Lessa contou que matou a
vereadora Marielle Franco por ganância.
Segundo ele,
os valores que foram prometidos a ele pelo crime beiravam R$ 25 milhões. A
quantia seria o valor estimado dos dois terrenos que teriam sido prometidos
pelos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, numa localidade no Tanque, em
Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade.
“Eu
estava louco, encantado com os R$ 25 milhões que a gente ia ganhar. Era o preço
pela morte da vereadora que seria o valor dos terrenos”
Segundo
Lessa, esses terrenos e esses valores seriam destinados a ele. Edmílson
Oliveira da Silva, o Macalé, ficaria com outros R$ 25 milhões. Os irmãos Brazão
ficaria com terras ao lado. O ex-policial contou que o local deveria passar por
obras para a instalação de água.
A “Medelín
da milícia”, como já era chamada pelos irmãos Brazão, segundo Lessa, ficaria
nas encostas de 2 morros então desocupados às margens da Estrada Comandante
Luís Souto. Na época da emboscada, em 2018, praticamente toda a Grande
Jacarepaguá estava sob o domínio de paramilitares.
“Eu nem precisava, realmente. Eu estava numa fase muito tranquila da minha vida. Minha vida já pronta, e eu caí nessa asneira. Foi ganância mesmo. Uma ilusão danada”, disse.
Lessa prestou
depoimento nesta terça-feira (27) por 5 horas. Ele reafirmou conhecer os irmãos
Domingos e Chiquinho Brazão há mais de 20 anos. Com eles se reuniu três vezes
para tratar da morte da vereadora Marielle Franco.
Duas, antes
do crime. A terceira vez foi após a morte de Marielle e de Anderson. Nesta
ocasião, segundo Lessa, Domingos Brazão estava muito nervoso. De acordo com o
seu relato, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado falava alto. Já
Chiquinho, afirma Lessa, estava de braços cruzados e só observava.
Lessa conta
que a todo momento, Domingos Brazão garantia que ele não deveria se preocupar
com a elucidação dos crimes. Ele conta que o então chefe de Polícia Civil,
Rivaldo Barbosa “viraria o canhão para o outro lado”.
“[Ele
disse:] ‘Fica tranquilo. O Rivaldo (Barbosa) está vendo isso aí. Se não der,
nós temos promotores, juízes, desembargadores. Se for o caso nós vamos por
cima”, conta Lessa.
Suposta ajuda da DH
De acordo
com Lessa, independente de qualquer ajuda, a Delegacia de Homicídios trabalhava
para evitar a descoberta dos culpados por crimes. Fosse no caso Marielle e
Anderson ou fosse em diferentes episódios.
“Normalmente,
quem tem acesso aos delegados é quem paga propina. Talvez, se tivesse uma
intervenção, uma coisa séria, se aparecesse um cara para denunciar provando que
deu dinheiro a delegados, ia ter que abrir concurso. E na PM não é diferente.
Seriam meia dúzia de gatos pingados que iriam sobrar. Essa é a realidade da
Polícia Civil e na Polícia Militar. As polícias estão contaminadas há décadas.
Vai no cara que paga (as propinas) que vem das milícias, do jogo do bicho, das
casas de massagem”, contou lembrando que, antes dos inquéritos se tornarem
digitais eram comum eles sumirem das delegacias.
“Depois
que digitalizou ficou mais difícil. Pegava o processo, botava debaixo do braço
e deixava R$ 50 mil. Tinha que sobrar R$ 5 para passar num posto, comprar
gasolina e fósforo para tacar fogo. Era assim que funcionava”, revelou o
ex-policial militar que ficou 10 anos na PM e depois mais 10 anos cedido a
delegacias da Polícia Civil.
O
ex-policial volta a depor nesta quarta-feira (28) por videoconferência. O
representante da Procuradoria Geral da República (PGR), o promotor Olavo
Pezzoti, retorna para continuar a fazer perguntas a Lessa como nesta terça.
Depois, as assistentes de acusação e defensores públicos do Rio fazem perguntas
a Lessa.
Se houver
tempo, as defesas dos réus Domingos e Chiquinho Brazão, Rivaldo Barbosa, o
major Ronald Paulo Araújo Pereira e do policial militar Robson Calixto Fonseca,
o Peixe.
Logo na
abertura do depoimento, Saulo Carvalho, advogado de Lessa solicitou que todos
outros réus deixassem a videoconferência e não assistissem à sessão, sendo
representados apenas por suas defesas.
O que dizem os irmãos Brazão
A defesa de Domingos
Brazão afirmou que não existem elementos que sustentem a versão de Lessa e que
não há provas da narrativa apresentada.
Os advogados
de Chiquinho afirmaram que a delação de Lessa “é uma desesperada criação
mental na busca por benefícios, e que são muitas as contradições, fragilidades
e inverdades”.