Prejuízo, ataques racistas e ameaças: veja relatos de torcedores do Botafogo em Montevidéu

Prejuízo, ataques racistas e ameaças: veja relatos de torcedores do Botafogo em Montevidéu

Alvinegros podem ter prejuízo financeiro de mais de R$ 5 mil, mas priorizam segurança no Uruguai.


Por Jéssica Maldonado — Montevidéu

Apesar de chegarem a Montevidéu com receio de represália pelos acontecimentos no Rio de Janeiro, na última semana, os torcedores do Botafogo não imaginavam que poderiam ser barrados do jogo de volta da semifinal, contra o Peñarol, na próxima quarta-feira.

O Ministro do Interior comunicou, no início da tarde desta segunda-feira, que a presença dos brasileiros seria vetada no Campeón del Siglo alegando um alerta de segurança. A Conmebol, no entanto, exige a presença de torcedores do Botafogo.

O ge conversou com torcedores que já estão na capital uruguaia. Eles relataram provocações, ataques racistas e até ameaças de morte. Os botafoguenses também comentaram sobre a proibição de irem ao estádio, estimaram o prejuízo financeiro e alertaram sobre o que pode acontecer.

 

“Não sairão vivos”

Antônio Bento relatou problemas logo na chegada a Montevidéu, na manhã desta segunda. Ele disse que um grupo de torcedores cantava uma música do Botafogo no avião, quando foi ameaçado. Um uruguaio, que se disse torcedor do Nacional, prometeu que os brasileiros não sairiam vivos do país.

– Já estamos aqui e não tem muito o que fazer. É um prejuízo enorme, absurdo, mas também estamos inseguros, não sabemos qual é a posição do clube. Estamos com medo de eles forçarem a barra para ter torcida, e as autoridades tirarem um pouco da culpa e alegarem que tinham avisado que não era para ir. Não sei se me sinto mais seguro não indo, e se vão garantir a segurança no estádio – disse Antônio.

 

Ameaças e insultos racistas

Poucas horas depois de chegar ao Uruguai, um torcedor, que não será identificado pela reportagem, viu seu celular ser invadido por mensagens ameaçadoras e racistas. Ele foi chamado de macaco. O remetente perguntou se ele havia trazido colete à prova de balas porque, segundo a mensagem, “já se morreu um, hoje vai morrer outro”.

O ge teve acesso às ameças feitas através de mensagens, com insultos racistas e ameaças fortes, mas optou por não publicar devido ao conteúdo agressivo e criminoso.

– Eu estou meio desanimado, fui insultado pra p*** e ouvi ameaças que, por mais que eu ache que sejam da boca pra fora, bate aquele “e se for verdade?”. Nada direcionado diretamente para mim, mas mandei isso em um grupo de amigos que estão vindo, e um até desistiu de vir – disse o torcedor ameaçado por mensagem, que viajou com seu pai, de 61 anos.

 

Outra confusão no aeroporto

Gustavo Chagas, que falou com a reportagem no aeroporto de Montevidéu, no início da tarde desta segunda-feira, relatou que, enquanto aguardava para sair do voo, dois homens provocaram os brasileiros.

– Ele disse: ‘Respeita que aqui é o Uruguai e tem que se comportar’. Falou que a gente não sabe se comportar e ainda prometeu vingança: ‘Vocês começaram a violência lá e estamos começando aqui’ – contou Gustavo.

Caso não consiga assistir ao jogo como planejado, o prejuízo será de R$ 6 mil.

 

Prejuízo além do financeiro

Mas a preocupação vai além das cifras. A maior é com a integridade física, que coloca um peso a mais na decisão de ir ou não ao estádio, mesmo que haja reversão da decisão.

– O nível de segurança está muito difícil, evitando de falar alto em portugues, e nem trouxemos camisa do Botafogo para sair nas ruas. Mesmo se liberarem, me sinto inseguro de ir – disse outro torcedor que veio do Rio de Janeiro, mas não quis se identificar.

– Quando começaram as confusões, depois de ameaça de que não seríamos bem recebidos, começou a bater o desespero. Se criou um ambiente hostil, o que é normal, mas dessa vez está sendo bem difícil. Passar o que a gente está passando nunca aconteceu. O maior prejuízo vai ser psicológico, estar dentro de um país que não é nosso e não estar seguro… Quero ter tranquilidade, não quero voltar para o Brasil (pretende manter a viagem até sexta, como planejado), mas quero estar aqui seguro – completou.

– Não esperava que fosse ir para esse nível de autoridades uruguaias pedirem para não ter torcida. A torcida do Botafogo não teve nenhum envolvimento no Rio, não tem nada que ligue uma coisa à outra. Não é uma vingança pessoal, mas virou uma briga entre dois países e está estourando em nós – lamentou Antônio.

Para Marcos Fonseca, que chegou no último domingo para aproveitar a cidade antes de, tudo indica, carimbar a vaga para a final da Libertadores, uma solução para o acesso precisa ser encontrada. Trata-se de um momento único na história do Botafogo.

– Recebi a informação do veto via grupo de WhatsApp, ainda incrédulo, conferi nos sites de notícia. A melhor forma é a polícia ser reforçada e garantir a segurança. Não são mais do que 2 mil torcedores, que só vieram para torcer e comemorar a classificação inédita do Botafogo. Não é razoável que a polícia não dê conta – opinou.

Como previsto para a semifinal, quatro mil ingressos foram colocados à venda, mas o Botafogo não informou o número total de bilhetes comercializados.

No Uruguai, relatos de abuso de poder por parte da polícia brasileira são os principais temas abordados na imprensa e entre os moradores de Montevidéu. Cerca de 20 torcedores seguem detidos no Brasil.

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