Haddad tem reunião com Lula nesta quinta sobre corte de gastos; veja as medidas no radar
Haddad tem reunião com Lula nesta quinta sobre corte de gastos; veja as medidas no radar
Mudança no salário mínimo, na previdência de militares e abono salarial estão em estudo pelo governo; pacote é aguardado desde o fim da eleição municipal, há um mês.
Por Thiago Resende, Lais Carregosa, TV Globo e g1 — Brasília
O ministro
da Fazenda, Fernando Haddad, tem reunião nesta quinta-feira (21) com o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para tratar do pacote de corte de
gastos.
O governo
retoma as discussões iniciadas no final de outubro. Nos últimos dias, Lula e
Haddad estiveram no encontro das maiores economias do mundo, o G20, no Rio de
Janeiro, e recepcionaram o presidente da China, Xi Jinping, em visita a
Brasília.
A
expectativa é que o governo anuncie medidas capazes de conter as despesas a fim
de manter a sustentabilidade das regras fiscais vigentes e equilibrar as contas
públicas. A meta fiscal para 2024 e 2025 é de déficit zero, ou seja, de igualar
receitas e despesas.
Para isso, o plano em elaboração pelo governo prevê que algumas despesas passem a ser corrigidas pela mesma regra do arcabouço fiscal.
No arcabouço
fiscal há um limite para os gastos públicos. Eles não podem subir mais do que
70% da alta da receita, e não podem avançar mais do que 2,5% por ano, acima da
inflação.
A ideia é
que, por meio de uma PEC (proposta de emenda à Constituição), mais despesas
passem a ter esse teto de crescimento. A alta de alguns gastos acima do
previsto no arcabouço pode acabar pressionando ainda mais o espaço para o
funcionamento da máquina pública e investimentos.
Cortes no
radar
O presidente
Lula e o ministro Haddad se reuniram nas últimas semanas com ministros de
diversas áreas. A expectativa é que, se o anúncio não for feito nessa semana,
ocorra no máximo na próxima semana.
Isso
dependerá da reunião entre o presidente e o ministro da Fazenda, além de
detalhes nas medidas envolvendo o Ministério da Defesa.
As
principais medidas em estudo são:
Hoje o piso
salarial é corrigido pela inflação mais o PIB. O governo deve adotar um cálculo
diferente. O salário mínimo continuará a ter aumento real (acima da inflação)
entre 0,6% e 2,5%. Para o próximo ano, deve ser de 2,5%. Sem a mudança, seria
de 2,9% –crescimento do PIB no ano passado.
Pente-fino
no BPC e Bolsa Família
O INSS
estuda exigir biometria para que pessoas saquem o BPC (benefício de prestação
continuada), pago a idosos de baixa renda e pessoas com deficiência. Essa é uma
das medidas para fechar o cerco contra fraudes nesse gasto. No Bolsa Família, a
ideia é ampliar o combate a irregularidades em famílias unipessoais –aquelas
pessoas que dizem morar sozinhas e ter direito ao programa social.
Previdência
de militares
A proposta
prevê elevar, de forma progressiva, a idade mínima de 55 anos para o militar
passar para a reserva remunerada. Hoje é de 50 anos. Ainda será debatida a
transição para essa mudança. Além disso, deve acabar com a morte Ficta, ou
seja, a pensão paga a famílias de militares expulsos. Outro ponto é aumentar a
contribuição para o fundo de saúde para 3,5% da remuneração até janeiro de
2026.
Nova
regra para abono salarial
Mudança no
critério para ter direito ao abono salarial. O abono é uma espécie de 14º
salário pago pelo governo a trabalhadores de baixa renda com carteira assinada.
Hoje, tem direito quem recebe até dois salários mínimos por mês. A ideia é ter
uma regra mais restritiva, com renda de 1,5 salário mínimo. Essa medida não
deve ter efeito em 2025 e, provavelmente, nem em 2026.
Fim dos
supersalários
Está em
estudo propor cortar salário acima do teto do funcionalismo. A ideia é deixar
claro, em lei, que “penduricalhos” dos salários de servidores também
estão sujeitos ao teto de remuneração.
Ministérios
envolvidos
Até o
momento, passaram pelas reuniões no Palácio do Planalto representantes de 12
ministérios. As medidas discutidas envolvem diretamente as pastas de Trabalho e
Emprego, Educação, Saúde, Desenvolvimento Social e Previdência Social.
Mas também
estiveram nas reuniões os ministérios de Desenvolvimento e Comércio Exterior,
Casa Civil, Comunicação Social, Advocacia-Geral da União, além das pastas
econômicas: Fazenda, Planejamento e Gestão.
O Ministério
da Defesa foi incluído mais recentemente a pedido de Lula.
O que
pode acontecer sem o corte de gastos?
A explicação
de analistas é que, sem o corte de gastos obrigatórios (por meio do envio de
propostas ao Congresso Nacional), a nova regra para as contas públicas aprovada
no ano passado pelo governo Lula, está em risco.
Isso porque
o espaço para gastos livres dos ministérios, que englobam políticas públicas
importantes, como bolsas de estudo, fiscalização ambiental e o “Farmácia
Popular”, por exemplo, está sendo comprimido (e pode acabar no futuro
próximo) por despesas obrigatórias, como a Previdência Social.
A previsão
do Tribunal de Contas da União (TCU) é que, se nada for feito, o espaço para
essas políticas importantes para a população, acabarão nos próximos anos,
paralisando a máquina pública (veja abaixo).
Com o
arcabouço fiscal em risco, podendo ser abandonado, não haveria mais uma regra
que controlasse as contas públicas, o que, por sua vez, elevaria mais a dívida
do setor público, que já é alta para o padrão dos países emergentes.
O próprio
Banco Central cita o aumento de gastos em seus comunicados, explicando que isso
também pressiona a inflação.
Essa dúvida sobre as contas públicas, que está sendo chamada pelo mercado financeiro de “risco fiscal”, já está cobrando seu preço, com alta do dólar e dos juros futuros.