CCJ da Câmara aprova PEC que pode acabar com aborto legal no Brasil
CCJ da Câmara aprova PEC que pode acabar com aborto legal no Brasil
Proposta altera Constituição para prever inviolabilidade do direito à vida 'desde a concepção'.
Por Marcela Cunha, g1 — Brasília
A Comissão
de Constituição, Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara aprovou nesta
quarta-feira (27), por 35 votos a favor a 15 contra, uma proposta de Emenda à
Constituição (PEC) que, na prática, proíbe o aborto no Brasil, mesmo nas
situações já autorizadas em lei ou por decisão do Supremo Tribunal Federal
(STF).
Apresentada
em 2012 pelo ex-deputado Eduardo Cunha, a PEC inclui a expressão “desde a
concepção” no trecho da Constituição que trata dos direitos e garantias
fundamentais e prevê a “inviolabilidade do direito à vida”.
Isso,
segundo uma interpretação dos defensores da proposta, proibiria o aborto em
qualquer estágio da gravidez e em qualquer circunstância, uma vez que, nessa
visão, a vida começa na concepção.
Em seu
parecer, a relatora da proposta, deputada Chris Tonietto (PL-RJ) votou pela
admissibilidade do texto.
Na semana
passada, um pedido de vista (mais tempo para análise do texto) adiou a votação,
que foi retomada e concluída nesta quarta.
A CCJ é presidida pela deputada Caroline de Toni (PL-SC) e tem entre seus membros titulares outros parlamentares de direita e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, entre eles Bia Kicis (PL-DF), Delegado Ramagem (PL-RJ), Delegado Éder Mauro (PL-PA), Julia Zanatta (PL-SC) e Pastor Marco Feliciano (PL-SP).
É a
principal comissão da Câmara e tem como função avaliar se propostas que chegam
para discussão estão de acordo com a Constituição e podem tramitar para serem
votadas.
Agora a
proposta será encaminhada para apreciação de uma comissão especial a ser criada
e só irá a votação no plenário se for pautada pelo presidente da Câmara,
deputado Arthur Lira (PP-AL).
Para aprovar
uma PEC no plenário da Câmara são necessários, pelo menos, 308 votos
favoráveis. Se isso acontecer o texto ainda terá de passar pelo Senado.
Na
justificativa da proposição, Cunha afirmou que o debate sobre a inviolabilidade
do direito à vida não pode excluir o “momento do início da vida”.
“A vida não
se inicia com o nascimento e sim com a concepção. Na medida desse conceito, as
garantias da inviolabilidade do direito à vida têm que ser estendidas aos
fetos, colocando a discussão na posição em que deve ser colocada”, disse o
parlamentar.
Atualmente,
o aborto é permitido em três casos no Brasil:
anencefalia
fetal, quando há malformação do cérebro do feto;
gravidez que
resulta de estupro;
e se a
gravidez impuser risco de vida para a mãe.
Para os
casos de gravidez de risco e anencefalia, é necessário apresentar um laudo
médico que comprove a situação. Além disso, um exame de ultrassonografia com
diagnóstico da anencefalia também pode ser pedido.
Já para os
casos de gravidez decorrente de violência sexual, a mulher não precisa
apresentar Boletim de Ocorrência ou algum exame que comprove o crime. O relato
da vítima à equipe médica é suficiente.
Para
especialistas, a aprovação do texto resultaria na revogação do direito das
mulheres ao aborto nas situações já previstas no Código Penal e na
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF).
Outra
proposta relacionada ao aborto foi alvo de discussão este ano. Em junho, a
Câmara aprovou a urgência de um projeto que altera o Código Penal e equipara
aborto a homicídio. Sem consenso, a votação do texto pelo plenário ainda não
ocorreu.
Sessão
marcada por confusão
Antes na
aprovação, no início da tarde desta terça, manifestantes a favor do direito ao
aborto legal no Brasil invadiram a sessão da CCJ. O grupo gritava palavras de
ordem como “criança não é mãe, estuprador não é pai”.
Sem
conseguir retirar os ativistas do local, a presidente da CCJ, deputada Caroline
de Toni (PL-SC), decidiu suspender a sessão por 15 minutos.
Discussão
no STF
O aborto é
crime no Brasil e a regra prevê que a mãe e os demais envolvidos no
procedimento podem ser processados.
No ano
passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) começou a julgar uma ação para
descriminalizar o aborto feito por mulheres com até 12 semanas de gestação. A
ministra Rosa Weber era relatora do processo e votou a favor da
descriminalização.
O ministro
Luís Roberto Barroso, presidente do STF, pediu destaque no julgamento e a
votação foi suspensa.
Em fevereiro
deste ano, Barroso disse em entrevista que o STF não julgará a ação neste
momento. Para ele, não cabe neste momento ao Supremo decidir sobre uma prática
que a maioria da população é contra e o Congresso também expressa esse
sentimento.
O presidente
disse, no entanto, que criminalizar a prática “é uma péssima política
pública”, porque “obriga mulheres pobres a fazerem procedimentos
rudimentares e se automutilarem”.