Isenção do IR até R$ 5 mil e taxação dos ricos: o que se sabe sobre as propostas do governo
Isenção do IR até R$ 5 mil e taxação dos ricos: o que se sabe sobre as propostas do governo
Proposta é uma forma de compensar integralmente a renúncia de receitas, que deve gerar um impacto de R$ 35 bilhões, segundo as contas do próprio governo.
Por Bruna Miato, g1
O governo
federal vai encaminhar ao Congresso um projeto de lei que pretende taxar as
pessoas com rendimentos de mais de R$ 600 mil por ano, ou R$ 50 mil por mês,
com uma alíquota de até 10%.
A mudança
não afeta os trabalhadores que têm carteira assinada e que, por isso, já pagam
uma alíquota maior, de 27,5% de imposto de renda.
A proposta é
uma forma de compensar integralmente a isenção do Imposto de Renda da Pessoa
Física para quem recebe até R$ 5 mil por mês. A renúncia de receitas deve gerar
um impacto de R$ 35 bilhões, segundo as contas do próprio governo.
As mudanças
foram anunciadas pela equipe econômica nesta quinta-feira (28), em uma coletiva
de imprensa capitaneada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Além dos
primeiros detalhes da reforma da renda, ele também anunciou um pacote de cortes
de R$ 70 bilhões em gastos públicos.
Como
funciona o IR hoje?
O ministro
da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou em entrevista nesta quinta-feira (28) que
o objetivo das mudanças na tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF)
não tem a intenção de fazer caixa para o governo, e nem de aumentar os gastos
públicos.
Segundo
Haddad, assim como a reforma tributária, as mudanças seguem um princípio de
neutralidade tributária. Na prática, a ideia é que haja “impacto
zero” no caixa do governo.
“Não
queremos confundir o debate da reforma tributária com a questão de medidas que
visam reforçar o arcabouço fiscal. A reforma tributária, tanto do consumo
quanto da renda, tem um pressuposto que foi anunciado no começo do governo e
vai ser mantido se depender do Executivo […] O pressuposto da neutralidade
fiscal. Que significa isso? A reforma tributária não visa nem aumentar, nem
diminuir arrecadação. O objetivo da reforma tributária é buscar eficiência e
justiça tributária, essa é a finalidade”, afirmou
“Qualquer
aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda, como ja foi feito por esse
governo duas vezes, tem que vir acompanhado de uma compensação. Não se trata de
mexer com o nível de arrecadação de impostos. Trata-se de buscar justiça
tributária”, completou.
Como vai
funcionar a taxação dos mais ricos
O
secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan, deu mais detalhes sobre como
deve funcionar a taxação dos mais ricos.
A alíquota
não será a mesma, de 10%, para todas as pessoas que recebem acima de R$ 600 mil
por ano (ou R$ 50 mil por mês).
A taxação
ocorrerá de forma progressiva, com uma alíquota reduzida para os rendimentos
anuais acima de R$ 600 mil que vai aumentando gradativamente a cada faixa de
renda. Os 10% sobre a renda anual só serão cobrados para pessoas com ganhos que
ultrapassem R$ 1 milhão (cerca de R$ 84 mil por mês).
Ainda não
há, no entanto, informações sobre quais serão as alíquotas para cada faixa de
renda.
“(A
alíquota) começa crescente a partir de R$ 600 mil e vai chegar em 10% em um R$
1 milhão. Para quem ganha mais de R$ 1 milhão no ano, será aquela alíquota de
10%, que é aquela alíquota máxima”, explicou.
O imposto
será cobrado sobre toda a renda anual do cidadão, incluindo os ganhos com
salários, dividendos, juros sobre capital próprio, aluguéis e outras formas de
rendimentos. O pagamento dessa alíquota será feito na Declaração de Ajuste
Anual do Imposto de Renda.
Por que o
governo vai taxar os mais ricos
A notícia de
que o governo vai isentar as pessoas que ganham até R$ 5 mil por mês, anunciado
pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad pegou economistas e analistas do
mercado financeiro de surpresa.
Embora essa
isenção fosse uma das principais promessas de campanha do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT), esperava-se que esse fosse um anúncio apenas de
ajuste nos gastos públicos para cumprimento das regras do arcabouço fiscal, e
não de uma medida com potencial de gerar mais impacto negativo nas contas do
governo.
Ao mesmo
tempo, o ministro anunciou um pacote de medidas que prometem gerar economia de
R$ 70 bilhões.
A isenção do
Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil tem um impacto estimado de R$ 35
bilhões, disse Haddad em uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira (28). O
mercado financeiro estima algo entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões.
Para
compensar esse impacto, o governo apresentou a proposta de taxar os mais ricos.
As medidas, contudo, ainda dependem de aprovação do Congresso Nacional e não
têm prazo para entrarem em vigor.
Segundo
Haddad, essas mudanças no Imposto de Renda são importantes para que todos
contribuam para o funcionamento e crescimento do país. Ele comparou a um
condomínio: “quando um não paga, os outros precisam pagar para manter o
elevador funcionando”. Por isso, tanto “quem vive na cobertura”
quanto quem “está no primeiro andar” precisam pagar
proporcionalmente.
Quais são
os próximos passos
Agora, o
governo encaminha as propostas para o Congresso Nacional, que precisa analisar
e votar as medidas. O teor do texto, com todos os detalhes, ainda não foi
divulgado.
Se
aprovadas, a expectativa é que as mudanças entrem em vigor em 2026, junto com
todas as alterações da reforma da renda.
Como
funciona o IR hoje?
O tributo é
recolhido na fonte, ou seja, descontado do salário. Posteriormente, o
contribuinte pode ter parte do valor restituído ou pagar ainda mais imposto –
por meio de sua declaração anual de ajuste.
De acordo
com a Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil
(Unafisco Nacional), a ampliação da faixa de isenção do IR custaria de R$ 45
bilhões a R$ 50 bilhões por ano.
De acordo
com os números da entidade, a ampliação do limite de isenção do IR deixará
isentos da cobrança do imposto 30 milhões de contribuintes.
Atualmente,
cerca de 43 milhões de pessoas físicas declaram o Imposto de Renda. Entretanto,
destas, 14,6 milhões já são isentos. Com a mudança, outros 16 milhões de
contribuintes também não pagarão Imposto de Renda.
Quais são
as medidas de cortes de gastos públicos
Nesta
quinta-feira, o governo também anunciou um pacote de medidas que devem cortar
R$ 70 bilhões em gastos em 2025 e 2026 e gerar uma economia de R$ 327 bilhões
em cinco anos.
Entres as
principais medidas estão:
– Abono
salarial: limitação da faixa de quem ter direito ao abono salarial de até R$
2.824 para até R$ 2.640
– Fundeb:
até 20% da complementação da União ao Fundeb poderá ser empregada em ações para
criação e manutenção de matrículas em tempo integral na educação básica pública
– Desvinculação
de Receitas da União (DRU): prorroga até 2032
– Subsídios
e subvenções: ajuste orçamentário em cerca de $ 18 bilhões
– Fundo
Constitucional do Distrito Federal: limita crescimento de acordo com a inflação
– Salário
mínimo: limitação do crescimento real a 2,5%
– Bolsa
família: muda regras como atualização obrigatória para cadastros desatualizados
e biometria obrigatória
– Benefício
de Prestação Continuada: vai focar em em pessoas incapacitadas para a vida
independente e para o trabalho
– Lei Aldir
Blanc: mantém o repasse de R$ 3 bilhões ao ano, mas com a condição de os
recursos serem executados no ano anterior
– Biometria:
obrigatória para beneficiários de programas sociais
– Militares:
acaba com a morte fictícia e transferência de pensão, entre outras medidas
– Concursos
públicos: limitação e faseamento em 2025