Opinião: tripé impulsiona Corinthians em reação histórica e deixa lições para 2025

Opinião: tripé impulsiona Corinthians em reação histórica e deixa lições para 2025

Torcida, técnico e transferências são fundamentais para volta por cima do Timão.

Por Bruno Cassucci — São Paulo

O torcedor do Corinthians termina 2024 sem títulos, mas com muitos motivos para se orgulhar de sua equipe. Depois de preencher praticamente todo o gabarito do rebaixamento, com uma série de trapalhadas dentro e fora de campo, o clube protagonizou uma reação histórica, que será lembrada por muito tempo por sua gente.

Reconhecer a importância dessa remontada não é se contentar com pouco, nem subestimar a capacidade corintiana, mas valorizar um feito que muitos desacreditavam e que só reforça a grandeza o clube.

Para quem não acompanha o Corinthians tão de perto talvez seja difícil entender como aquele time que passou mais da metade do Brasileirão na zona de rebaixamento chegou na última rodada já classificado para a Libertadores de 2025 e ainda fechou a temporada com uma imponente vitória de 3 a 0 sobre o Grêmio, fora de casa.

A arrancada, que culminou na sequência de nove vitórias seguidas no Brasileirão, foi impulsionada por um tripé decisivo:

Torcida: mesmo nos momentos mais delicados, como derrotas em clássicos, tropeços em casa e eliminações nas competições por mata-mata, a Fiel não “soltou a mão” do time. O Corinthians teve uma média de mais de 42 mil pagantes em seus jogos em casa e contou com o apoio e paciência de seus torcedores quando mais precisou. Há tempos não se via uma conexão tão grande entre campo e arquibancada como a vista em 2024;

Técnico: Ramón Díaz assumiu um time em crise não apenas esportiva, mas também política e administrativa, e um elenco com autoestima baixa, que perdeu lideranças importantes, como Cássio e Paulinho; além de unir o grupo e resgatar a confiança, o argentino encontrou alternativas táticas que acabaram sendo decisivas para a melhora de desempenho, em especial o esquema 4-4-2 com um losango no meio de campo; por mais que tenha cometido erros crassos em jogos decisivos, especialmente as semifinais contra Flamengo e Racing, o veterano faz um ótimo trabalho até aqui à frente do Corinthians;

Transferências: a atuação da diretoria alvinegra na janela de meio de ano foi fundamental para agregar qualidade e experiência ao grupo. Chegaram jogadores que rapidamente se firmaram como titulares, como Hugo Souza, André Ramalho, André Carrillo e Memphis Depay, além de atletas que ajudaram a fortalecer o elenco e oferecerem alternativas técnicas e táticas, como José Martínez, Alex Santana, Charles, Talles Magno, entre outros.

Se 2023 acabou com muitas dúvidas e temores em relação ao futuro do Corinthians, agora o cenário é outro, de muito mais otimismo. Apesar de erros no início do processo, o clube conseguiu executar uma profunda reformulação no elenco e agora tem uma base forte para buscar títulos.

Porém, a experiência deste ano deixa importantes lições para o ano que vem e os próximos.

Como ficou evidente na primeira metade desta temporada, gastar dinheiro indiscriminadamente em contratações não é a solução dos problemas. Pelo contrário, pode agravar dificuldades já existentes e trazer outras novas. Mesmo com uma dívida altíssima, na casa de R$ 2 bilhões, o Corinthians investiu mais de R$ 130 milhões em reforços no começo do ano e nem assim conseguiu formar um time.

É preciso ter inteligência para prospectar e negociar reforços, tal qual foi visto na janela de inverno. Não à toa, a rota foi corrigida quando um profissional de mercado substituiu um diretor estatutário à frente do departamento de futebol alvinegro.

Os resultados vieram também graças ao respaldo dado a Ramón Díaz, que chegou a balançar no cargo logo antes de iniciar a sequência de nove vitórias seguidas no Brasileirão.

Embora o Corinthians tenha terminado o ano em viés de alta, deixando boas perspectivas para 2025, ainda há pontos importantes a ajustar. Para aspirar voos mais altos, é preciso baixar a fervura interna, com o caos político no Parque São Jorge que segue a respingar no CT Joaquim Grava.

As dificuldades financeiras também acendem um sinal de alerta. Num cenário de endividamento elevado, manter a base do elenco e ainda qualificá-la é o maior desafio do clube. Como segurar Yuri Alberto, artilheiro do Brasil, se o próprio clube já prevê a necessidade de fazer R$ 181 milhões em vendas de atletas no próximo ano?

Não são poucos os desafios que terão de ser enfrentados para voltar a ser campeão. Porém, depois de um ano tão difícil, o corintiano merece se dar o direito de desfrutar a boa fase vivida. 2024 não vai deixar muita saudade, mas termina com gostinho de quero mais…

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