‘Chegou lá gritando de dor, até que morreu com o pescoço tombado’, diz pai de paciente que morreu em sala de espera de UPA no Rio
'Chegou lá gritando de dor, até que morreu com o pescoço tombado', diz pai de paciente que morreu em sala de espera de UPA no Rio
Corpo de José Augusto foi enterrado em Mogi Guaçu (SP). Exames do IML devem apontar causa da morte. Secretaria Municipal de Saúde vai abrir sindicância.
Por Paulo Gonçalves, Yasmin Castro, Bom Dia Cidade e g1 Campinas e Região
“Ele
chegou lá gritando de dor, pedindo atendimento e ninguém atendeu. Foi ficando
lá, sentado. Até que morreu com o pescoço tombado.”
Foi dessa
forma que o pai de José Augusto Mota Silva descreveu, ainda no velório, a morte
do filho na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Cidade de Deus, no Rio de
Janeiro.
O corpo do homem, que tinha 32 anos, foi enterrado no domingo (15), em Mogi Guaçu (SP), cidade em que ele nasceu e onde a família mora.
Em nota, a
Secretaria Municipal de Saúde do Rio informou que José Augusto chegou lúcido e
andando à unidade. Ele sofreu uma parada cardiorrespiratória, e a necropsia
feita pelo Instituto Médico Legal (IML) deve apontar a causa da morte.
Vídeos
gravados por testemunhas na sexta-feira (13) mostram José Augusto já sem vida,
sentado na recepção da UPA.
“Difícil,
difícil demais. Pelas imagens, está claro. Se houver uma investigação e for
constatado, eles têm que ser punidos”, desabafa o pai, José Adão da Silva.
A falta de
atendimento deixou os familiares revoltados.
“Ele
não merecia morrer daquele jeito, sentado. Ninguém merece morrer que nem bicho,
daquela forma. É desumano uma pessoa ficar sentada ali sem atendimento, sem
acolhimento”, declarou emocionada a irmã, Meiriane Mota Silva.
José Augusto
era artesão e garçom. É o quinto filho de José Adão e estava no Rio de Janeiro
havia 12 anos. Para levar o corpo a Mogi Guaçu, os parentes fizeram uma
vaquinha pela internet.
Demora no
atendimento
Pacientes
relataram que José Augusto deu entrada na unidade se queixando de fortes dores
e passou pela triagem, mas morreu sentado, sem ser atendido. Nas imagens, é
possível ver que uma pessoa se aproxima dele, que não reage. Em seguida, o
homem é colocado na maca.
Segundo a
irmã, o paciente já havia passado por situações parecidas com dificuldade de
conseguir atendimento. “Essas dores que ele tinha já vêm de meses. Ele
estava procurando médico, diz que vai lá e ninguém atende ele. Quando atende,
dá dipirona e manda embora.”
Funcionários
serão demitidos
Por meio das
redes sociais, o secretário de Saúde do Rio, Daniel Soranz, disse que todos os
funcionários que estavam de plantão no momento da ocorrência serão demitidos.
“É inadmissível não perceberem a gravidade do caso”, afirmou ele.
Em nota, a
Secretaria Municipal de Saúde afirmou que tudo aconteceu “muito
rápido”, que o paciente estava lúcido e entrou andando na unidade. Depois,
ao ser atendido, já estava desacordado. Uma sindicância foi aberta para apurar
o caso.
“Dados
do sistema mostram que a classificação de risco foi feita às 20h30 e, poucos
minutos depois, foi acionada a equipe médica devido ao paciente encontrar-se
desacordado”, diz a nota da secretaria.
Prossegue a
secretaria: “ele foi levado à Sala Vermelha para atendimento, mas
infelizmente não resistiu e foi constatada a parada cardiorrespiratória. O
corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal para apurar a causa do
óbito”.