Entenda como a maioria republicana na Câmara poderá tumultuar a vida de Biden
Entenda como a maioria republicana na Câmara poderá tumultuar a vida de Biden
Presidente dos EUA terá dificuldade para avançar a agenda de governo e deve virar alvo de investigações.
17/11/2022 10h50 Atualizado há uma hora
Na segunda
metade do mandato, Joe Biden sairá de sua zona de conforto, que lhe dava a
maioria partidária nas duas casas legislativas, para amargar o impasse
legislativo. Com o Congresso dos EUA dividido – a Câmara controlada pelos
republicanos e o Senado pelos democratas – o presidente precisará mais da
caneta para assinar ordens executivas e lançar mão de seu poder de veto.
Embora em
menor vantagem do que o esperado, a bancada republicana na Câmara tem potencial
para dificultar a agenda de governo da Casa Branca, tumultuar a vida de seu
ocupante e o caminho para as eleições de 2024. O partido deve ganhar entre 218
e 223 cadeiras – em torno de seis a mais do que a minoria democrata.
A
reconquista republicana da Câmara, após quatro anos, promete reaquecer temas
espinhosos para Biden, acalentados pela sede de vingança por parte de sua ala
mais extremista. A maioria dá ao partido o poder de intimação e o controle de
comitês importantes.
Num déjà-vu
às avessas, a bancada republicana poderá apresentar impeachments contra Biden,
sua vice Kamala Harris e outros membros do Executivo, em desgastantes processos
que certamente vão empacar no Senado.
Demonizar
Biden significa também livrar Trump e desviar a atenção das acusações de ter
incitado seus partidários a invadir o Capitólio. O ex-presidente é alvo da
comissão da Câmara que investiga a sua participação no motim para tentar
impedir a vitória de Biden. A bancada republicana tem o poder de extinguir o
comitê e arquivar as denúncias, apesar do barulho que provocaram em nove
audiências públicas.
Nesse novo
balanço do poder legislativo, a partir de janeiro, as prioridades se
inverterão, mas não com a folga que os republicanos desejavam. O atual
presidente estará na mira de seus adversários e poderá ser investigado pela
retirada desastrosa do Afeganistão ou por ter agido em benefício do filho
Hunter em seus negócios na Ucrânia, conforme prometeu parte de seus adversários
durante a campanha.
Aliás, a
ajuda vultosa dos EUA ao país invadido por Putin – cerca de U$ 66 bilhões desde
fevereiro – deverá ser questionada. A ala radical do Partido Republicano é
cética e acusa Biden de priorizar armar a Ucrânia em detrimento de reforçar as
fronteiras com o México para deter a imigração.
Na agenda
doméstica a proteção ao aborto, as prioridades orçamentárias e o endividamento
do governo esbarrarão nos limites ditados pela oposição republicana. As regras
são claras: quem controla a Câmara tem também o poder de decidir os projetos
que avançam e os que cairão no esquecimento.
Os eleitores
escolheram não transformar Biden no presidente pato manco que as pesquisas de
opinião previram. Com o Congresso dividido e cada uma das duas câmaras
controladas com margens pequenas, caberá ao presidente a defesa das conquistas
da primeira metade de seu mandato. Na atual circunstância, as profundas
divisões internas nas duas legendas tornam mais raros o consenso e os acordos
bipartidários.