Descontentamento cresce no Peru enquanto sucessora de Castillo negocia novo governo
Descontentamentocresce no Peru enquanto sucessora de Castillo negocia novo governo
Por France Presse 09/12/2022 07h02 Atualizado há 2 horas
A nova
presidente do Peru, Dina Boluarte, vai continuar nesta sexta-feira (9) as
negociações para a formação de governo após a destituição e detenção de Pedro
Castillo, acusado de tentativa de golpe de Estado e cujos apoiadores exigem nas
ruas a sua libertação e a convocação de eleições.
Dois dias
após sua fracassada tentativa de golpe, o líder esquerdista, que assumiu o
poder há 16 meses, divide um centro de detenção com o ex-presidente Alberto
Fujimori, na base das forças especiais da polícia, localizada ao leste de Lima.
O Ministério
Público o acusa de rebelião e conspiração, e um tribunal superior ordenou sete
dias de prisão preventiva.
As
manifestações em várias cidades alimentam a incerteza sobre a viabilidade de
Boluarte conseguir concluir seu mandato em 2026, como ela mesma anunciou ao
tomar posse na quarta-feira.
Os protestos
incluíram ações violentas, como o bloqueio da rodovia Pan-americana Sul na
região de Ica e Arequipa com pedras, troncos e pneus em chamas.
Todos os
olhares também estão voltados nesta sexta-feira para uma cerimônia do exército
peruano pelo 198º aniversário da Batalha de Ayacucho, que selou o fim do
domínio colonial espanhol na América Latina.
Boluarte
deve comparecer a esse evento e fazer um discurso perante os militares, que
tiveram um papel fundamental na queda de Castillo ao não apoiar o regime de
exceção proposto por ele.
Castillo
tentou dissolver o Legislativo e governar por decreto, mas suas ordens foram
ignoradas pelo Congresso e pelas Forças Armadas.
– “Não
o deixaram trabalhar” – Milhares de manifestantes exigiram na quinta-feira
a renúncia da nova presidente, a primeira mulher a liderar o Peru e a quem
alguns esquerdistas chamam de “traidora” por assumir o cargo.
Em Lima, um
protesto de cerca de mil pessoas marchou em direção ao Parlamento, onde foi
dispersado pela polícia com gás lacrimogêneo e pelo menos três manifestantes
foram presos, confirmou a AFP.
“Eu
protesto para defender meu presidente Pedro Castillo, que foi destituído
injustamente. Eles fizeram o impossível para tirar Castillo. Desde o momento em
que ele entrou, não o deixaram trabalhar”, disse Mery Colque à AFP.
“Vivemos
um golpe decretado pelo Congresso golpista. Não pode ser que um pequeno grupo
de 100 pessoas tire um presidente eleito por milhões”, questionou Ana
Zevallos.
Protestos
também foram registrados em vários departamentos e cidades do interior do Peru,
como Chota (Cajamarca, cidade natal de Castillo), Trujillo, Puno, Ayacucho,
Huancavelica e Moquegua.
– Rebelião
-Na audiência do tribunal na quinta-feira, Castillo, um professor rural de 53
anos sem contato com as elites peruanas, parecia exausto e sem expressão. Ele
vestia a mesma jaqueta azul que usou quando foi preso.
Visivelmente
nervoso, ele se recusou a usar o direito de defesa para responder às acusações,
cedendo a palavra a seus advogados.
“É
claro que o crime de rebelião não foi configurado aqui” porque não se
concretizou, alegaram.
Se for
considerado culpado, ele pode pegar entre 10 e 20 anos de prisão.
Depois de anunciar a dissolução dos poderes e declarar estado de exceção na quarta-feira, Castillo foi detido por sua própria escolta quando se dirigia à embaixada mexicana em Lima para pedir asilo político.