Câmara aprova, em 1º turno, texto-base da PEC que amplia teto de gastos por 1 ano
Câmara aprova, em 1º turno, texto-base da PEC que amplia teto de gastos por 1 ano
Texto abre espaço para manter Bolsa Família de R$600 e reajustar salário-mínimo acima da inflação. Presidente da Câmara, Arthur Lira, anunciou que segundo turno de votação será nesta quarta (21).
Por Luiz Felipe Barbiéri, Paloma Rodrigues, Wellington Hanna e Vinicius Cassela, g1 — Brasília 20/12/2022 22h58 Atualizado há 4 horas
A Câmara dos
Deputados aprovou nesta terça-feira (20), em 1º turno, por 331 votos a favor e
168 contra, o texto-base da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) chamada de
PEC da Transição.
Os deputados
votaram também dois destaques, sugestões de alteração ao texto, um deles foi
aprovado e o outro rejeitado (veja mais abaixo). Logo depois, o presidente da
Câmara, Arthur Lira, anunciou que o último destaque, e o segundo turno de
votação acontecerão nesta quarta-feira (21).
O texto
amplia o teto de gastos e, com isso, libera orçamento para que o governo eleito
continue o pagamento de R$600 do Bolsa Família no ano que vem.
Apesar de
neste domingo (18) o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes,
ter decidido que os recursos para bancar o Bolsa Família devem ficar fora do
teto de gastos – regra fiscal que limita as despesas públicas–, a equipe do
governo eleito permanece defendendo a aprovação da PEC.
A proposta
já foi aprovada no Senado, mas, durante a votação na Câmara, os deputados
fizeram alterações em partes do projeto. Entre as mudanças, está a inclusão de
uma regra que estabelece a redistribuição das emendas de relator. Nesta
segunda-feira (19), o Supremo considerou o mecanismo inconstitucional.
Mudanças
Prazo
Antes: prazo
de vigência da PEC para superar o teto de gastos era de dois anos;
Agora: PEC
terá validade para apenas um ano.
Orçamento
Secreto
Antes: as
emendas de relator seriam designadas pelo relator do orçamento;
Agora: o
valor dessas emendas de relator será dividido entre: emendas individuais
(decididas pelos parlamentares e impositivas) e orçamento destinado a
ministérios (analisadas pelo governo);
Investimentos
financeiros estrangeiros
Antes: PEC
previa que valores provindos de financiamentos de parcerias internacionais não
entrariam nas limitações do teto de gastos;
Agora: os
investimentos estrangeiros deverão ser aplicados conforme teto de gastos.
Teto de
gastos
O novo texto
amplia o teto de gastos em R$ 145 bilhões por um ano, para o governo manter o
pagamento do Bolsa Família em R$ 600 e permitir o adicional de R$ 150 por
família com criança de até 6 anos.
O teto de
gastos é uma barreira fiscal que proíbe o governo de aumentar despesas acima do
que foi gasto no ano anterior acrescido da inflação.
A proposta
também abre espaço fiscal para o governo recompor o Orçamento de programas
sociais, como o Farmácia Popular, e conceder reajuste real — acima da inflação
— ao salário mínimo.
Orçamento
Secreto
Conforme a
proposta aprovada, metade dos R$ 19,4 bilhões previstos para as emendas de
relator em 2023, que ficaram popularmente conhecidas como “orçamento
secreto”, serão remanejados para emendas individuais dos parlamentares e
para o orçamento do governo.
As emendas
individuais dos parlamentares são impositivas, ou seja, os projetos para onde
forem destinadas precisarão ser obrigatoriamente executados.
Essa divisão
foi viabilizada no texto com o aumento do percentual da receita corrente
líquida vinculada às emendas individuais.
Atualmente,
esse limite é de 1,2%. O projeto aumenta para 2%. Deste percentual, 1,55%
caberá às emendas de deputados e 0,55% caberá aos senadores.
Outros R$
9,85 bilhões serão destinados ao orçamento do governo, a quem caberá definir as
áreas que receberão a verba.
A
redistribuição do dinheiro se deu depois que o STF decidiu tornar
inconstitucional as emendas de relator, que ficaram conhecidas como
“orçamento secreto” pela falta de transparência e pela disparidade na
distribuição dos recursos.
Em um ato, o
relator-geral do Orçamento de cada ano podia encaminhar recursos para atender a
demandas de senadores e deputados sem que os nomes dos parlamentares sejam
públicos.
Prazo
reduzido
Após um dia
de negociações entre os parlamentares, a equipe do presidente eleito, Luiz
Inácio Lula da Silva, aceitou reduzir a ampliação do teto de gastos para um
ano. O prazo previsto inicialmente na PEC era de dois anos.
A redução do
prazo foi a principal condição colocada por partidos de centro para votar
favoravelmente à PEC. Na prática, isso obriga o governo a negociar novamente
com os parlamentares em 2023 se quiser ampliar o teto ou tirar despesas da
regra.
Outros
pontos
A PEC também
estabelece:
prazo até o
fim de agosto para o governo Lula enviar ao Congresso um novo regime fiscal em
substituição ao teto de gastos. A mudança poderá ser sugerida via projeto de
lei complementar, que exige quórum menor do que uma PEC para aprovação;
permissão do
uso de até R$ 23 bilhões em investimentos já neste ano fora do teto de gastos.
Os recursos virão do excesso de receita, se a União arrecadar mais dinheiro de
um imposto do que previa;
autorização
para o novo governo a usar o dinheiro esquecido por trabalhadores nas cotas do
PIS/Pasep sem que essa despesa seja contabilizada no teto de gastos. De acordo
com a Caixa Econômica, R$ 24 bilhões em cotas do PIS/Pasep estão disponíveis
para mais de 10 milhões de pessoas. Esse dinheiro poderia ser usado pelo
governo para investimentos, conforme a PEC.
A PEC também
retira das limitações do teto de gastos:
as doações
para projetos socioambientais e relacionados às mudanças climáticas;
as doações
recebidas por universidades federais;
a
transferência de recursos dos estados para a União executar obras e serviços de
engenharia;
os valores
referentes ao auxílio Gás, apenas para o próximo ano.
O texto
garante também, até 2026, o limite de pagamento anual dos precatórios – dívidas
da União reconhecidas pela Justiça em decisões das quais não cabem mais
recursos. E muda o cálculo do valor que deverá ser pago.
Destaques
Nesta terça
(20), ainda foram votados dois destaques, sugestões de alteração do texto,
complementares à PEC.
O Partido
Liberal (PL) propôs que fosse retirada a expressão que permitia à equipe de
transição sugerir emendas ao orçamento de 2023. A sugestão foi aprovada por 393
votos.
O outro
destaque foi apresentado pelo Republicanos e pretendia suprimir o dispositivo
que prorrogava de 2023 para 2024 a regra que permite ao governo usar livremente
30% das receitas de contribuições sociais. A sugestão foi reprovada por 326
votos.
A sugestão do partido Novo, que tenta retirar o trecho da PEC que extinguiria o teto de gastos após a aprovação da nova âncora fiscal para controle da dívida pública da União, será votado nesta quarta-feira (21), junto com o segundo turno.