Afeganistão retoma aulas em universidades, sem mulheres
Afeganistão retoma aulas em universidades, sem mulheres
Universitárias foram impedidas de assistir às aulas no ano passado pelo Talibã, regime fundamentalista que tomou o poder no país em 2021.
Por France Presse 06/03/2023 07h19 - Atualizado há uma hora
As
universidades do Afeganistão retomaram as aulas nesta segunda-feira (6), após o
recesso de inverno (hemisfério norte, verão no Brasil), mas apenas os homens
retornaram às salas, porque as alunas permanecem vetadas dos centros de ensino
superior pelo governo Talibã.
A proibição
de frequentar a universidade é uma de várias restrições impostas às mulheres
pelo Talibã desde que o movimento fundamentalista retornou ao poder, em agosto
de 2021.
A
discriminação das mulheres no Afeganistão foi criticada ao redor do planeta,
inclusive em países muçulmanos.
“É de
partir o coração ver os homens seguindo para a universidade, enquanto nós temos
que ficar em casa”, lamentou Rahela, 22 anos, moradora da província
central de Ghor. “Isto é discriminação de gênero contra as mulheres porque
o Islã nos permite buscar o ensino superior. Ninguém deve nos impedir de
aprender”.
O governo
Talibã impôs a proibição depois de acusar as alunas de ignorar o rígido código
de vestimenta para as mulheres e a exigência de serem acompanhadas por um
parente do sexo masculino na ida e na volta do campus.
Antes do veto, a maioria das universidades já havia adotado entradas e salas de aula segregadas por gênero. E as mulheres só tinham aulas com professoras ou homens idosos.
“É
doloroso observar que milhares de garotas estão privadas do acesso à
educação”, declarou Mohamad Haseeb Habibzadah, estudante de Ciência da
Computação na Universidade de Herat.
Em Cabul,
Ejatullah Nejati, estudante de Engenharia, disse achar que as mulheres têm o
direito fundamental ao ensino. “Mesmo que frequentem as aulas em dias
separados, isto não é um problema. Elas têm direito à educação”.
Medo do
governo
Waheeda
Durrani, que antes da proibição estudava Jornalismo em Herat, afirmou que o
governo Talibã deseja que as jovens continuem sem receber educação.
“Se as
meninas e mulheres afegãs receberem educação, elas nunca aceitarão um governo
que explora o islã e o Alcorão”, disse. “Elas defenderão seus
direitos. Esse é o medo do governo”.
Vários
líderes talibãs afirmaram que a proibição às mulheres é temporária, mas também
não autorizaram o retorno das jovens às escolas do Ensino Médio, fechadas há
mais de um ano.
O governo apresentou
várias alegações para o fechamento dos centros de ensino, que vão da falta de
recursos até a necessidade de tempo para ajustar o currículo aos ensinamentos
islâmicos.
A realidade,
de acordo com algumas fontes do Talibã, é que os clérigos ultraconservadores
que aconselham o líder supremo do Afeganistão, Hibatullah Akhundzada, são
profundamente céticos a respeito da educação moderna para as mulheres.
Desde que
retornou ao poder, o Talibã excluiu as mulheres da vida pública. Elas foram
afastadas de muitos empregos públicos e muitas são relegadas a permanecer em
casa, recebendo uma fração de seu salário.
Também são
vetadas de frequentar parques, feiras, academias e banheiros públicos. E devem
cobrir todo o corpo em público.
Grupos de
defesa dos direitos humanos criticaram as restrições e a ONU denunciou um
“apartheid de gênero”.
A comunidade
internacional insiste que o direito de educação das mulheres deve fazer parte
das negociações sobre a ajuda ao país e o reconhecimento do regime Talibã.
Até o
momento nenhum país reconheceu o governo Talibã.